Ao fim de um ano intenso de acontecimentos continuamos sem um cenário previsível sobre o que deve acontecer em 2012. A única certeza que se tem no momento é que a crise fiscal da zona do euro veio para ficar, sem um desfecho previsível. Com isto, os mercados devem se manter voláteis, pelo menos, nestes primeiros meses.
Na verdade, o foco das preocupações continua localizado na zona do euro. Com regimes fiscais e competitividades tão diferenciadas entre os países centrais e os periféricos da região fica difícil se enxergar uma luz no fim do túnel sobre o destino do euro.
No Brasil
No Brasil, medidas anticrise, adotadas recentemente, podem ser consideradas acertadas. O Banco Central reduziu a taxa de juros, novas medidas de estímulo ao crédito estão em estudo, assim como isenções fiscais para alguns setores-chaves, geradores de emprego, como o automobilístico e o eletrodomésticos.
Na sintonia fina com a inflação, o Banco Central deve se manter atento, o que não nos permite prever um corte muito forte na taxa de juros em 2012, não sendo surpresa se manter em torno de 10%. Lembremos que recuando muito, esta afetaria o rendimento dos fundos de renda fixa/DI, importantes no financiamento da dívida pública, por serem compostos por muitos títulos públicos. Com isto, poderia haver um movimento de migração para o consumo, podendo alimentar a inflação.
Por outro lado, devemos considerar que com o mundo crescendo menos e demandando menos em 2012, as commodities devem se manter em baixa, pressionando menos a inflação interna, mas afetando o nosso fluxo de comércio.
Pelas nossas projeções, acreditamos que a economia brasileira deve crescer lentamente em 2012, com maior concentração no segundo semestre, isto na hipótese de um desanuviamento da crise fiscal europeia neste período. Por enquanto, dá para pensar num crescimento em torno de 3,6% em 2012, podendo até ser maior do que isto. Em 2011 não deu para crescer mais do que 2,9%, até pela base de comparação enviesada, já que em 2010 o crescimento foi mais forte, 7,5%. Além disto, pelas fortes turbulências externas e a inflação um pouco acima da meta, a economia acabou meio de lado. Medidas recentes, no entanto, devem dar um impulso na atividade econômica nos próximos meses.
Sobre a inflação, projetamos uma taxa em torno de 5,5%, com o juro nominal fechando próximo a 10,5% e o câmbio a R$ 1,80.
Entre os emergentes
Dentre os emergentes, a China deve se manter como dínamo global, mas crescendo menos do que em anos anteriores. Acreditamos num crescimento em torno de 8,0% em 2012, depois de crescer algo em torno de 9,0% em 2011. Isto se explica pois a crise na zona do euro impacta nas exportações do tigre asiático e o recente aperto monetário adotado acabou gerando efeitos drásticos sobre boa parte do parque manufatureiro de bens de baixa tecnologia, com os indicadores industriais mostrando recuo.
Agora, o governo chinês tenta reverter a política monetária, de apertada para expansionista, em meio a sinais de clara deterioração no mercado imobiliário, que vive claramente uma bolha.
Não acreditamos que seja uma tarefa simples. Segundo informes recentes, em 2008 a China lançou o maior programa de estímulo e inundou de crédito o país - em dois anos, foram US$ 5,1 trilhões ("Financial Times", 28 de dezembro). Com o início da desaceleração, aumentou a inadimplência e o risco de estouro de bolhas. Comentários de mercado indicam que estes estariam em torno de US$ 500 bilhões, ou até US$ 2 trilhões, segundo a agência de rating Fitch.
Na Zona do Euro, EUA e Japão
Olhando para o Hemisfério Norte, o cenário continua nebuloso. Ainda existe muita complicação no front fiscal da zona do euro, com os países periféricos pouco avançando nos seus ajustes, resultando em baixo crescimento, quando muito um quadro de estagnação.
Nos EUA, o crescimento deve se manter errático, na base de muitas medidas de estímulo monetário, o mesmo ocorrendo no Japão.
Na zona do euro, o desafio maior é harmonizar as várias situações fiscais diferenciadas, assim como suas produtividades.
O problema é que não é possível comparar competitividades tão díspares entre países periféricos, com destaque para Portugal, Espanha, Grécia, entre outros, e Alemanha, por exemplo, com maior produtividade na região. Como harmonizar países com regimes fiscais tão frágeis com os mesmos regimes cambiais da Alemanha e França, países bem mais arrumados em termos fiscais ? Esta é a questão chave da região.
Enquanto estes periféricos obtinham recursos do BCE dava para segurar o leme, mas e agora? Para piorar, segundo o Wall Street Journal, os bancos já andam pensando em ressuscitar suas moedas com base em notas não impressas desde que o euro entrou em circulação. Somado a isto, os bancos centrais se preparam para o possível fim do euro... Alguns bancos centrais da Europa já começaram a considerar planos de contingência para se preparar para a possibilidade de que os países deixem a zona do euro ou que a união em torno da moeda se desintegre, de acordo com pessoas a par do assunto.
Por fim, nos EUA, o governo Obama está impedido de usar políticas de estímulo fiscal para reforçar o crescimento da economia. Sendo assim, a recuperação da economia norte-americana segue errática, não havendo garantias de que o crescimento em 2012 previsto esteja acima de 1,8% a 2% de 2011.
Já o Japão continua atolado na chamada armadilha do baixo crescimento. A produção industrial recuou pelo segundo mês seguido em novembro, as vendas do varejo estão em declínio e nos últimos dois meses a a deflação voltou. Com isto, o PIB nipônico deve se manter crescente em torno de 0,5% a 1% neste ano e no próximo.
Resumindo, estamos prevendo o crescimento global em torno de 3,6% neste ano, recuando a 3,0% em 2012, de olho, também, ao que o FMI está prevendo.