Nesta semana há inúmeros vetores de forte influência sobre a formação do preço da moeda americana no nosso mercado de câmbio.
Tensões internas de natureza política crescentes, preocupações que se acentuam sobre as perspectivas da retomada da atividade econômica que estão conduzindo a população ao desalento, agravamento da crise do coronavírus com os números atingindo níveis de contaminação e mortalidade recordes, reunião do COPOM que pode determinar nova redução da taxa SELIC e criar problemas de financiamento da dívida por parte do governo forçando a monetização parcial da dívida pública, estimativas de déficit fiscal de R$ 600,0 Bi neste ano, enfim, um vasto rol de vetores de alto impacto e que facilmente impactam no câmbio.
No exterior acirramento, novamente, das relações China e USA envolvendo moedas, descontinuidade dos avanços nos acordos em andamento antes da crise do coronavírus, novas ameaças americanas de tributação, aumento da pandemia e discussões sobre como poderá se dar a flexibilização das atividades, etc....
Enfim, não faltarão motivos para um ambiente tenso e conturbado ao longo desta semana e forte pressão de apreciação do preço do dólar frente ao real, podendo conduzir o mesmo a novo recorde.
Não se pode desconsiderar a perspectiva do preço acentuar tendência de proximidade aos R$ 6,00 na medida em que as tensões, em especial políticas, avançarem e se tornarem perturbadoras.
O embate na área da saúde sobre a questão da flexibilização do isolamento deve ocupar grande parte das discussões, e, em realidade, não se esperam diretrizes plausíveis para a questão, pois o confronto opinativo envolve enorme variedade de argumentos e esta situação pode ensejar uma diversidade enorme de atitudes por parte de governos estaduais e municipais.
O COPOM está fortemente induzido a promover um expressivo corte na taxa SELIC e isto naturalmente alavanca o preço do dólar e afastará definitivamente qualquer atrativo aos investidores estrangeiros que financiam parte da dívida pública brasileira, já reduzida a níveis de fevereiro de 2010.
O Ministério da Economia já sinaliza a probabilidade de monetização da dívida pública, o que corresponde a emitir moeda em troca da redução da dívida pública ante a eventual dificuldade de rolagem ante taxa pouco atraente, o que difere da possibilidade dos ex-Ministros Meirelles e Bresser que cogitavam de emissão de moeda para custeio dos dispêndios com a crise do coronavírus, o que poderia ter grande “input” inflacionário.
A sinalização do Ministro Guedes deixa evidente um pré-aviso de que o governo “não pretende ser levado ao corner pelos players do mercado financiadores da dívida pública”, e não disse, ainda tem a opção de vender reservas cambiais ao invés de ofertar instrumentos de hedge para o mercado.
Por enquanto, estas insinuações levam o mercado financeiro brasileiro à reflexão e maturação sobre os seus efetivos efeitos, e podem se revelar estressantes.
Por outro lado, voltando às considerações em torno do “câmbio alto” não deve passar despercebida a menção pelo Ministro Guedes em torno da retomada da atividade econômica de forma mais acentuada a partir do agronegócio, que temos ressaltado ao longo das últimas semanas como a estratégia do governo.
Então, o “câmbio alto” não é algo perturbador para o governo neste momento e sim alternativa de oportunidade como efeito colateral do preço da moeda americana fora da curva, de vez que o Brasil é grande produtor de commodities alimentares e os preços externos estão aquecidos.
Como se pode observar há uma infinidade de movimentos “nas pedras do tabuleiro” que envolvem a economia brasileira, severamente atingida pela crise do coronavírus.
O Boletim FOCUS divulgado hoje altera projeção do IPCA para 1,87%/1,82%, eleva o PIB para negativo em 3,76%, o câmbio em R$ 5,00 e a SELIC reduzida a 2,75%.
Estas projeções são simples futurologia, totalmente empíricas sem base fundamentalista crível, não deixando de serem ousadias, já que não há penalidades para o erro.
A Bovespa deverá ser fortemente penalizada pelo ambiente interno e externo predominante, o grau de incertezas na área política e econômica induzem posições fortes defensivas.
Nossa perspectiva é de que será uma semana extremamente perturbadora para o país, quer do ponto de vista político quer do ponto de vista econômico, e pode ficar mais evidente que o governo precisará ir além com as benesses à população decorrentes da crise do coronavírus, e certamente ressaltará no debate a carência de recursos.
A postura defensiva deverá predominar no mercado em todos os seus segmentos.