O mercado de câmbio abriu ontem sob forte tensão face à percepção de que poderia ocorrer um conflito institucional se o Presidente Bolsonaro tornasse efetiva a sua vontade de renomear o seu candidato preterido, por liminar do STF, para a vaga de Delegado da Policia Federal, e esta perspectiva poderia impactar de forma contundente na formação do preço da moeda americana.
Como este aspecto da tensão política foi amenizado com a indicação de outro profissional para a função, as pressões maiores se fragilizaram, mas não a ponto de deixar de provocar apreciação do preço da moeda americana ao em torno de R$ 5,55 após ter registrado a máxima um pouco acima de R$ 5,61.
Porém, outros pontos conflituosos continuaram predominando no ambiente politico e econômico, o que sustentou a alta próxima de 1%.
O comportamento das moedas emergentes não foi em linha e o real na abertura ontem chegou a ser disparada a moeda mais depreciada, mas ao final do dia o peso mexicano acabou por registrar depreciação maior.
Como temos destacado o preço da moeda americana em patamar elevado não é foco das intervenções pontuais e profiláticas do BC no mercado de câmbio, já que, no nosso entender e também por afirmativas recentes do Ministro da Economia, a estratégia de saída da crise com retomada da atividade econômica é via agronegócio e a taxa cambial é um incentivo.
O resultado de abril foi promissor a Secex informou que o Brasil bateu recorde de exportação de soja ao atingir 16,3 milhões de toneladas, merecendo também destaque o fato da balança comercial ter apresentado o melhor resultado para o mês de abril desde 2017 com superávit de US$ 6,7 Bi, com projeção de US$ 46,6 Bi para o ano.
A Bovespa abriu o mês de maio vitimada pelo ambiente hostil político interno e as incertezas acirradas sobre as diretrizes sobre a flexibilização da retomada da atividade econômica, o que deixa o investidor estrangeiro ainda reticente sobre a decisão de compra de ações que, com auxilio do câmbio, estão com preços atraentes.
Os dados divulgados apontam que o saldo negativo da participação estrangeira na Bovespa foi negativa em R$ 4,3 Bi, tendo até havido a perspectiva que fechasse o mês positivamente, mas, ao que consta, somente no dia da demissão do Ministro Moro houve a saída de R$ 2,4 Bi.
Naturalmente, os níveis de preços das ações e as perspectivas de longo prazo, pós pandemia, sugerem que há excelentes oportunidades na Bovespa, contudo, o risco político tem se sobressaído e provocado retração na decisão de investir dos estrangeiros, por isso a Bovespa revela instabilidade e falta de tendência concreta.
Mas, afora os desconfortos políticos e econômicos, há nesta semana a reunião do COPOM que tem “torcida” bastante ousada de proposituras de cortes da SELIC, e este é um fato importante porque impacta no preço da moeda americana e fomenta o desinteresse dos investidores estrangeiros em financiar parte de nossa dívida pública, o que pode ensejar medidas novas e ousadas de parte do Ministério da Economia/BC, que podem passar pela emissão de moeda para monetização da dívida pública, e este será um contexto absolutamente novo.
Embora a inflação pelo IPCA, não pelo IGP-M, esteja com viés de queda entendemos que não deveria ser desconsiderada a relevância do investidor estrangeiro no financiamento da dívida pública do país, por isso não se poderia perder este foco quando da redução da SELIC.
No mais, enquanto não se alcança um alinhamento para o conflito necessidade de isolamento e necessidade de retomada da atividade econômica, só resta ao BC manter a sua dinâmica de intervenções de equacionamento da liquidez no mercado à vista, no mercado futuro, e na necessidade de linhas externas por parte dos bancos com os swaps envolvendo os títulos soberanos em carteira dos bancos.
Postura defensiva deverá continuar predominando por parte dos players do mercado financeiro.