Todos sabem o quanto a pandemia de Covid-19 desestabilizou as cadeias produtivas não apenas no Brasil, mas em todo o mundo. A crise sanitária agravou seriamente as estruturas de oferta e demanda de todos os mercados. Do lado da oferta as medidas de lockdown prejudicaram a economia em diferentes intensidades nos quatro cantos do país.
O impacto dessas medidas no lado da demanda influenciou o aumento do desemprego e da informalidade, prejudicando a sonhada recuperação em “V” do ministro da economia. No entanto, diante de todas as dificuldades impostas pela crise, o setor agropecuário foi capaz de crescer 2,5% (aumento de 4,3% do setor de grãos e queda de 0,4% da pecuária), segundo dados do CEPEA/USP.
Mesmo com a queda registrada, o setor pecuário segue com grande relevância para a nossa economia. Contudo, o cenário inflacionário atual vem pressionando as margens de lucros dos pecuaristas que veem seus custos de produção dispararem enquanto o valor da @ do boi gordo permanece estagnado.
Há um jogo de interesses inversamente proporcionais entre pecuaristas e empresas frigoríficas. Para o pecuarista, quanto mais a @ se valorizar, melhor. Enquanto que para as empresas o cenário é o inverso, quanto mais a @ permanecer desvalorizada, melhor. Nesse ano, os pecuaristas vêm perdendo a queda de braço para as empresas frigoríficas.
O resultado disso se reflete na valorização das cotações das empresas listadas em bolsa, JBS (SA:JBSS3) + 50%, BRF (SA:BRFS3) + 20%, Marfrig (SA:MRFG3) + 65% e Minerva (SA:BEEF3) + 2%. Esse desempenho se torna mais expressivo quando se compara com o Ibovespa, que amarga perdas no ano.
Enquanto as empresas frigoríficas faturam como nunca, o pecuarista vem operando no limite, tanto que os casos atípicos de “vaca louca” não foram capazes de pressionar negativamente o valor da @, contudo contribuíram temporariamente para impedir a tão esperada alta nas cotações.
A demanda asiática (principalmente a chinesa) aliada à oferta limitada de boi gordo tende pressionar o valor da @. No entanto, seus efeitos devem ser limitados, já que os frigoríficos exportam apenas 30% da sua produção de carne bovina, enquanto os outros 70% abastecem o mercado interno.
Mesmo com estoques escassos, em virtude do cenário macroeconômico delicado do país, com a inflação pesando fortemente no bolso de todos, principalmente nos preços dos alimentos, uma alta expressiva da @ como vista nos anos últimos anos se torna questionável, já que a renda média local despencou, os juros estão subindo e o número de desempregados é recorde. Isso significa uma imensa redução da demanda interna que agora vem buscando por outros bens substitutos para consumir.
Há fundamentos para a alta da @ bovina, contudo para que ela de fato se concretize é fundamental uma melhora do ambiente econômico. Caso isso não ocorra, os pecuaristas continuaram a ver suas margens de lucro serem reduzidas enquanto os frigoríficos aumentam seus lucros.
Com todo esse cenário, a melhor alternativa para o pecuarista evitar que suas margens futuras continuem sendo comprometidas é investir em tecnologia e aumentar a sua produtividade, pois a pecuária do século XXI tende a se tornar cada vez mais competitiva e exigente com as políticas ambientais. Quem não se adequar à nova realidade certamente será passado pra trás.