O último dos resultados do 2T22 foi divulgado ontem, e, com isso, fechamos a temporada de balanços, a última antes das eleições. Usarei esse espaço, então, para fazer um balanço geral dos números.
Dentre vários temas presentes nessa temporada, um chamou atenção: uma espécie de inversão de performance. “Darlings” decepcionaram, e patinhos feios surpreenderam. Quase uma reversão à média.
Caso o leitor tivesse ido junto com o consenso antes de os números saírem, no good news. Só há upside relevante quando você pensa diferente – e certo.
Houve alguns exemplos interessantes disso.
Commodities x domésticos
• Empresas de commodities, exceto as de óleo & gás, ultrapassaram seus picos de resultado, começando a desacelerar na margem. Vide Vale (BVMF:VALE3).
• Varejistas aceleraram o crescimento, especialmente as de bens discricionários e não duráveis. Vide Riachuelo (BVMF:GUAR3) e Arezzo (BVMF:ARZZ3).
Depois que as commodities e a energia elétrica fizeram seus ralis, agora foi a vez de outras categorias de consumo subirem; notadamente, o vestuário. No caso das varejistas de moda, diria que pelo menos metade das altas de receita tenha vindo de aumento de preço, de modo geral. Que seja; isso significa que as empresas de moda estão encontrando demanda suficiente para repassar a pressão inflacionária que recebem nos custos.
Inclusive, a inflação de julho corrobora com a continuidade dessa dinâmica: vestuário é a segunda categoria que mais subiu dentro do IPCA.
Isso não significa que é para sair comprando qualquer varejista de moda. As generalizações, por mais que eu esteja fazendo algumas aqui, são perigosas, em especial no caso da escolha de ações. É importante separar o joio do trigo.
Fintechs x bancões
• A inadimplência está corroendo o lucro das fintechs – essa aqui foi bola cantada. Vide Inter (BVMF:INBR31) (NASDAQ:INTR) e Nubank (BVMF:NUBR33) (NYSE:NU).
• O Banco do Brasil (BVMF:BBAS3) emergiu das cinzas para entregar um retorno sobre patrimônio líquido maior que o de Itaú (BVMF:ITUB4). Confesso que nem eu esperava por essa, mesmo apostando grande no banco estatal.
O pano de fundo desse tema foi o aumento da inadimplência no crédito à pessoa física, algo que aconteceu no sistema financeiro como um todo.
As fintechs focadas nesse público, como é justamente o caso de Inter e Nu, acabam sentindo mais. Inter viu seu índice de empréstimos atrasados há mais de 90 dias subir 0,9 ponto percentual, na comparação anual.
O caso de Nu foi ainda um pouco pior: o mesmo indicador piorou 1,1 ponto percentual anualmente. Contudo, uma mudança na metodologia de cálculo acabou enviesando esse número para melhor. A companhia passou a reconhecer que os empréstimos pessoais atrasados há mais de 120 nunca serão pagos – até o resultado anterior, a companhia considerava 360 dias. Com isso, os índices de inadimplência apresentados ao mercado foram “limpados”. Na metodologia antiga, a piora anual teria sido de 2,5 pontos percentuais.
Na outra ponta do espectro, os bancões, que já viveram diversas crises no Brasil e fora dele, também viram a inadimplência à pessoa física crescer, mas de forma mais controlada. Ainda, para os bancos com a carteira de crédito mais conservadora, com menos foco na pessoa física e maior em empresas, o impacto foi menor ainda. Esse é justamente o caso de Banco do Brasil, que tem boa parte do crédito direcionado para produtores rurais.
O banco estatal controlou bem o aumento da inadimplência: +0,2 ponto percentual anualmente. Além disso, avançou nos spreads e na eficiência operacional. O Banco do Brasil entregou não só o melhor retorno sobre patrimônio líquido da sua história (20,6%), mas em linha com o de Itaú (20,8%), que, aliás, também divulgou um ótimo resultado.
Com isso, as fintechs continuam caras, e os bancos, baratos. Nu negocia a 5x seu valor patrimonial, enquanto Brasil negocia a 0,8x. Nu deve pagar 0% de dividend yield nos próximos 12 meses, enquanto Banco do Brasil deve pagar 10%. A discrepância salta aos olhos.
Mais uma vez, a reversão à média fez seu trabalho nos mercados. Não a subestime.
Um abraço