Lendo o noticiário sobre as tensões entre a Rússia e a Ucrânia dos últimos dias, a sensação passada é que o quadro piorou bastante, notadamente no último fim de semana. Faz tempo que os EUA e a Europa advertem a Rússia que um ataque à Ucrânia custaria caro em termos de sanções econômicas, paralisações de oleoduto e outras restrições que seriam impostas.
No fim de semana, o presidente Biden avaliou o envio de tropas para a Europa Oriental e região do Báltico, enquanto a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) já está enviando jatos e navios para o leste europeu. Mais declarações vieram de outros líderes mundiais, como Boris Johnson, do Reino Unido, alertando para a possibilidade de um conflito doloroso, violento e sangrento.
Já a Rússia se posicionou dizendo que responderá eventual mobilização dos EUA, enquanto a União Europeia acenou com apoio financeiro de 1,2 bilhão de euros. Já a Alemanha vetou a Estônia de repassar armamento alemão para a Ucrânia, enquanto os EUA e o Reino Unido ordenaram a retirada de funcionários e familiares do país.
Parece claro que estamos diante de uma guerra fria, mas com chances de esquentar nos próximos dias. Porém, mesmo com tudo isso, a consultoria internacional Eurasia indica chance de 60% de um ataque comandado pela Rússia, e isso não deve ser entendido como probabilidade baixa. Mas a diplomacia internacional ainda busca algumas negociações em meio a outras confusões, como por exemplo a China fazendo exercícios com aviões de guerra na região de Taiwan após exercícios também dos EUA.
Não precisamos destacar que isso originou a volta da aversão ao risco nos mercados do mundo, sinalizada pelas quedas das Bolsas. Curiosamente, até o petróleo e os minérios registraram perdas na sessão de hoje (24), junto ao viés de queda das commodities agrícolas na Bolsa de Chicago. Mercados e investidores buscando proteção e desequilibrando a precificação correta dos ativos no curto prazo, incluindo o dólar no mercado internacional. Essa era a fotografia que tínhamos na manhã de 24/01.
Não bastassem todos os problemas existentes, estamos tendo que conviver com mais esse, que pode impulsionar conflitos acirrados. Lembramos que, nesta semana (26), teremos nova reunião do FED sobre política monetária, que pode deixar ainda mais claro como o órgão pretende lidar com a inflação alta e persistente, como será a transição do tapering para juros em alta e ainda até onde poderá ir em termos de redução do tamanho do balanço dos ativos do FED.
Só para ilustrar os efeitos absorvidos pelos mercados, por volta do início da tarde de 24/01, o índice Nasdaq caia cerca de 3% e o S&P algo como 2,70%. Lembrando que, na semana passada, o Nasdaq já tinha caído mais de 7% e entrando em território de correção com queda de mais de 1% desde o pico. Nesta segunda, foi a vez do S&P também entrar em zona de correção.
Trazendo para o Brasil esses impactos, teríamos efeitos sobre a taxa cambial e, possivelmente, sobre o petróleo e seus derivados, mesmo considerando que o governo está planejando uma PEC sobre retirada de impostos sobre combustíveis. A alta do dólar poderia anular esse efeito.
Além disso, ainda temos que considerar a sanção do orçamento de 2022 pelo presidente, que manteve o quadro fiscal preocupante. Há um enorme desafio também para o ano de 2023, com o próximo presidente, seja quem for. O orçamento de 2022 sugere que pode haver ampliação das despesas com pessoal, o que significaria aumento do déficit primário, já estabelecido no orçamento em R$ 79 bilhões. Se agregarmos as contas de retirada de impostos de combustíveis, ainda teríamos mais cerca de R$ 60 bilhões, além de estarmos trocando possibilidade de investimentos por gastos correntes, o que compromete ainda mais o futuro.