Os mercados globais reagiram mal nesta terça-feira ao receio de mais uma onda da pandemia pela Europa. O mesmo aconteceu com os EUA, com todos os mercados sofrendo. No dia, o índice VIX de volatilidade se elevou em 10,2%. No Brasil, soma-se a isso, a totalmente desastrada gestão do governo Bolsonaro, num cenário que não mais escolhe idade e já ceifou quase 300 mil vidas. Somos o epicentro da crise sanitária global.
Isso acontecendo num cenário em que uma batalha de narrativas é diária, o que vem desgastando a sociedade e não indicando rumo ou solução.
Em discurso ontem, em rede nacional, Jair Bolsonaro tentou se eximir de qualquer responsabilidade, “afirmando sermos o quinto país do mundo em vacinação”, mas se esquecendo de sermos um país continental, com 210 milhões de habitantes. Portanto, não caberia aqui esta argumentação. Mais realista teria sido indicar alguma proporcionalidade e neste front iríamos para o nonagésimo lugar.
Na opinião de analistas e deste escriba, Bolsonaro tentou traçar um “divisor de águas” na condução da pandemia, marcando uma “guinada defintiva da sua imagem”. Poucos parecem ter se convencido. Foram panelaços pelo Brasil a fora! Ontem, terça-feira (23/3), foram mais 3.251 mortes em 24 horas, elevando-se a 298.676, 82.493 novos casos, 12.130.019 total de infectados. O Brasil lidera o balaio das tragédias humanitárias nesta pandemia.
Quando não faltava mais nada nesta “terça-feira cataclítica”, o STF tratou de dar a sua colaboração, com a virada de mesa da ministra Carmém Lúcia, no placar a 3 a 2, contribuindo para colocar o ex-juiz Sergio Moro sob “suspeição”, embora ela se restringido ao caso do triplex no Guarujá.
Foi, literalmente, uma “pá de cal” na Lava Jato. Todas as abundantes provas colhidas nas várias esferas do judiciário, no MP da Curitiba, reforçado por vários procuradores, foram praticamente, ignoradas, por escaramuças e interpretações de uma instância máxima do Judiciário. E quem pode contra isso? E quem controla os interesses colocados em jogo nesta contenda? E o que dizer do interesse dos investidores externos neste ambiente de insegurança jurídica? São várias indagações, mas valem estas neste momento.
Neste clima, a ata do Copom, divulgada pela manhã, acaboui quase que “apagada” nas considerações do mercado. Mesmo assim, vamos a ela. Primeiramente, reforçou uma visão mais “hawkish” do BACEN nesta ancoragem ou balizamento de expectativas na política de juro, indicando que o ciclo de aperto monetário deve seguir nas próximas reuniões, não sendo surpresa mais um ajuste de 0,75 ponto percentual, chegando a 1,0 p.p.. E podem não parar por aí. Nas estimativas já se fala em 5,0% a 6,0% de Selic ao fim deste ano. Tudo dependerá do comportamento da inflação, do câmbio e da execução fiscal, em momento caótico por causa da pandemia. Sendo assim, o que pensar do cenário fiscal no longo prazo? Nas curvas de futuro, as curtas e longas seguiram pressionadas nesta terça-feira.
Nos mercados globais, nos EUA, os discursos de Janet Yellen, presidente do Tesouro, e Jerome Powell, do Fed, foram demarcados nas sua áreas de atuação. A primeira não cogita da elevação de impostos diante do mega pacote Biden “colocado na praça”, enquanto que Jerome Powell falou em “recuperação incompleta”, não acreditando em “repique inflacionário duradouro”.
Decorrente disto, e da campanha de vacinação em massa, para grande parte da população adulta, o dólar operou em alta no mercado global, subindo 0,6% contra uma cesta de moedas. Já os Treasuries bonds cederam diante da aversão ao risco e maior demanda por ativos de risco, além do discurso apaziguador de Powell.
Os T2 years cederam a 0,14%, os 10 y a 1,62% e os 20 y 2,32%. Por outro lado, refletindo este clima global amedrontado, as bolsas em NY recuaram. DJ caiu 0,9%, a 32.422 pontos, S&P -0,8, a 3.910 pontos e Nasdacq -1,1%, a 13.277.
Nesta madrugada, início de manhã de quarta-feira (24/03), os mercados de commodities até ensaiavam alguma reação, mas as bolsas na Europa seguiam em queda. Na cotação dos barris, o de WTI avançava 2,4%, depois de recuar 6,2% no dia anterior, o mesmo do Brent, depois de recuar 5,9%.
Continuamos na espiral de mais uma onda da pandemia, com vários países já anunciando lockdowns temporários, como Holanda, Alemanha e França. Segundo a OMS, o aumento no volume de infecções semanal foi de 8% no mundo, contra a anterior. Na Europa, este aumento chegou a 12%.
Tudo isso se justificando pelo atraso no envio das vacinas, nada muito diferente do que acontece no Brasil. O problema é que aqui o presidente só promete (falou em 500 milhões de vacinas neste ano), mas não aceita lockdown, é cético sobre as máscaras, o isolamento social e se aferra neste falso dilema entre economia e pandemia. Enfim, um caos. Anunciou um encontro com todos os poderes da República e alguns governadores, mas deixou de fora vários, como os do Nordeste, Eduardo Leite do RGS e, claro, Joáo Dória, de SP.
Agenda Diária
Dia de dados do Bacen sobre o Setor Externo. Nas estimativas, o saldo em conta corrente deve seguir no negativo, próximo a US$ 7 bilhões e os investimentos externos diretos, em torno de US$ 1,5 bilhão. Teremos também a votação do Orçamento (finalmente!), depois de quatro meses, entre esta quarta e a quinta-feira no CMO e no plenário.
Bons negócios e boa quarta-feira a todos!