Tudo já está “precificado”? Pergunto isso por que os investidores entraram com tudo, mandando às favas a precaução. Mas, com os mercados tão esticados e sobrevalorizados, o que os investidores deveriam estar fazendo?
Como discutimos na newsletter da semana passada, a recente correção atiçou ainda mais os especuladores do mercado, o que é o oposto do esperado. Mas, se os mercados estão se antecipando a “boas notícias”, será que há espaço para algumas “surpresas”?
Em outras palavras, se os mercados já precificaram tudo com perfeição, não deve haver muito espaço para ficar desapontado. Foi isso que discuti na manhã de ontem no Twitter:
Como discutimos anteriormente, o momentum do mercado é algo difícil de acabar. Isso acontece particularmente quando o “medo de ficar de fora” sobrepuja a lógica. Na carta da última semana, apresentamos os argumentos de que seria possível aproveitar os ralis para vender. Dissemos o seguinte:
“É possível ver a falha do mercado na média móvel de 20 dias e no suporte na média móvel de 50 dias. O essencial são os indicadores superiores e inferiores.
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Ambos os indicadores superiores registram atualmente condições sobrevendidas no curto prazo, sugerindo pelo menos um repique na próxima semana.
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Por outro lado, ambos os ‘sinais de venda’ inferiores foram acionados, como assinalamos no vídeo, sugerindo que há pressão adicional de venda em vigor nas ações.”
Gráfico atualizado até o fechamento de segunda-feira:
Muitos riscos à tese altista
Se bem que aproveitamos a liquidação para adicionar alguns ativos em nossas carteiras, continuamos cautelosos por diversas razões.
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O mercado já precificou toda a recuperação econômica esperada para o curto prazo.
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Há claras evidências de enfraquecimento nos dados econômicos e nos resultados corporativos, com crescimento em desaceleração.
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Os investidores alimentam a esperança de que uma vacina irá restaurar toda a força anterior da economia.
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Os mercados já descontaram completamente o potencial de um “evento eleitoral”.
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Os participantes do mercado descontaram a necessidade de um estímulo adicional para sustentar o crescimento econômico e a recuperação.
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O Fed sai de cena por enquanto. Sem emissões adicionais do tesouro americano, o Fed tem menos capacidade de fornecer liquidez ao mercado.
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Embora a economia de fato esteja se recuperando, juntamente com o emprego, tudo indica que ela ficará muito abaixo dos níveis pré-pandemia, prejudicando as receitas e o crescimento futuro dos resultados.
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Os investidores estão pagando valores absurdos com base em uma recuperação total dos resultados, o que é pouquíssimo provável que aconteça.
Crescimento minguado
O problema, como discutimos em “Estupidez Insana”, é a capacidade de as ações continuarem elevando os lucros a um ritmo que justifique os atuais valuations excessivos. Isso se deve à elevação da dívida e do déficit públicos, que retardarão o crescimento econômico no futuro. Também dissemos o seguinte:
“Antes da crise financeira a economia apresentava tendência de crescimento linear com PIB real de 3,2%. Após a recessão de 2008, a taxa de crescimento caiu para uma tendência de crescimento exponencial de quase 2,2%. Em vez de reduzir os problemas de endividamento, a dívida improdutiva e a alavancagem cresceram.
A crise da covid-19 fez a dívida pública atingir novas máximas. Isso resultará no retardamento do crescimento econômico para 1,5% ou menos."
O crescimento econômico mais lento, além da possibilidade de mais impostos, aumenta a probabilidade de o risco superar em muito o retorno nessa conjuntura. Entretanto, todas essas questões levarão tempo para acontecer.
No curto prazo, tudo se resume a sentimento.
3750 ou fiasco!
As ações podem, e provavelmente vão, tentar continuar subindo no curto prazo. Há uma quantidade tremenda de sentimento altista para isso. Os especuladores de opções não se intimidaram com o recente sell-off e continuaram na estratégia do “caiu, comprou”.
É por isso que, apesar de algumas sacudidas ao longo do caminho, nosso alvo de 3750 ainda pode ser viável, por causa do momentum e extremo viés altista.
“Com os mercados fechando praticamente nas máximas históricas, não é difícil adivinhar onde será o próximo pico do mercado. Por isso, para sopesar risco e retorno, podemos definir alvos em 3500, 3750, e 4000, ou 4,4%, 12,2%, e 19,5%, respectivamente.”
Desde então, o mercado de fato subiu, e superou, nosso alvo inicial a 3500. A correção subsequente até a média móvel de 50 dias (MMD50) tem se segurado na linha de tendência de alta de abril por enquanto e reverteu a condição sobrecomprada de curto prazo.
Além disso, a forte liquidação em Tecnologia especificamente puxou o setor para fora da faixa de risco/retorno, criando um setup altista.
Ainda estamos em modo de “subiu, vendeu”
A razão para sugerirmos venda após qualquer alta é porque, até que o padrão mude, o mercado está apresentando todos os traços de formação de topo.
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Fraca participação
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Falha na resistência de longo prazo
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Extrema especulação altista
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Divergências negativas na força relativa
Podemos mostrar isso em um gráfico mensal de longo prazo.
Observe que, desde 2009, sempre que o “sinal de compra” no MACD era tão elevado, geralmente se formava um pico de mercado de curto ou médio prazo. Em cada ponto, a "história altista” era sempre a mesma.
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Os resultados ainda estão fortes
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Dados econômicos sugerem que a economia está crescendo forte
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Estamos na “Economia dos Cachinhos de Ouro” (Fed elevando juros é sinal de alta, Fed cortando juros é sinal de alta).
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O Fed mantém estratégia “acomodatícia”.
Entretanto, os sinais de alerta primários aos investidores também eram os mesmos:
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A incapacidade de a economia satisfazer as expectativas do mercado
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Alta volatilidade
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Declínio nos rendimentos dos títulos.
Mais espaço para baixa do que para alta
Isso pode mudar?
De fato, se mudar, e nosso modelo de entrada mudar para um sinal de compra, vamos atuar devidamente e aumentar o risco em nossas carteiras. Entretanto, por enquanto, o risco parece favorecer a queda, e não a alta.
No geral, nossa avaliação continua sendo de cautela. No curto prazo, podemos ver um repique em níveis sobrevendidos capaz de até mesmo fazer o mercado voltar às máximas anteriores.
Entretanto, suspeitamos que, em vista das numerosas adversidades que os mercados estão enfrentando, do Fed à eleição, uma falha no rompimento de máximas inferiores não seria uma surpresa.
Se bem que tenhamos adicionado alguma exposição perto das mínimas, vamos aproveitar os ralis para vender e aumentar nossas proteções de carteira até a eleição.
Se você não concorda com isso, não tem problema.
Mas estas são as perguntas que nos fizemos toda vez que adicionamos exposição ao risco em carteira:
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Qual é o retorno esperado nos níveis de valuation atuais? (___%)
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Se eu estiver errado, com base em minha atual exposição ao risco, qual é meu potencial de perda? (___%)
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Se #2 for maior que #1, quais são as ações que deveria estar realizando agora? (#2 – #1 = ___%)
A maneira como você responderá a essas perguntas cabe somente a você.
O que você fará com as respostas também é uma questão sua.
Ignorar os resultados e “esperar que desta vez será diferente” nunca foi uma estratégia rentável de carteira.