- A decisão será unânime ou rachada?
- Haverá contratação de novas altas ou dirá que o colegiado será “dados dependentes”?
- O balanço de risco vai incorporar que a atividade econômica corrente está acima do potencial?
- Haverá alguma afirmação que aponte causa e efeito do hiato do produto positivo está causando pressão inflacionário no setor de serviços?
As respostas vão direcionar se o tom será considerado duro ou frouxo. E a decisão precisa ser unânime, se vier um Copom dividido as respostas das outras questões se tornarão secundárias, com implicações altistas no dólar e na taxa de juros longo na curva no dia seguinte.
Com uma decisão sem divisão, um comunicado já contratando a próxima alta será visto como tom duro: se for de outra alta de 25 pontos-base, pode acontecer um desapontamento do mercado que gostaria de uma aceleração do ciclo de alta para as reuniões de novembro e dezembro, especialmente se o comunicado estiver confuso e o colegiado não demonstrar “convicção” da sua decisão. Nesse caso, seria um “tom duro, mas frouxo”
Se deixar claro que não há automatismo de alta de mesma magnitude no encontro seguinte, colocando no comunicado sinalizações firmes de que haverá uma contratação de alta maior em novembro “para atingir o objetivo da política monetária de levar à inflação e ancorar as expectativas para o centro da meta de 3% ao ano”, é provável que o mercado veja o Copom comprometido com seu objetivo institucional, respondendo com queda do dólar e dos juros futuros longos no dia seguinte.
Esse tom mais duro virá com algumas modificações no balanço do risco. É preciso ver se os fatores de risco de alta de inflação nos próximos meses sejam modificados. Ao invés de abordar que a atividade econômica e a inflação de serviços estão acima do projetado, o Copom deve reconhecer que a economia opere acima do potencial e que o hiato do produto esteja positivo.
Motivos da alta e taxa terminal da Selic
É importante enumerar os motivos de que a Selic vai iniciar um novo ciclo de alta mesmo com a política monetária corrente operando em um patamar restritivo. O mercado iniciou a precificação de alta da Selic a partir de junho, um mês após a decisão polêmica, dividida do Copom que reduziu a taxa Selic de 10,75% para 10,5% sem seguir o guidance de queda da taxa em meio ponto percentual. Os economistas consultados pelo Boletim Focus apenas contrataram as altas da Selic somente na semana passada.
A necessidade de uma maior restrição da política monetária se deve a:
- Deterioração da expectativa de inflação de 2025 e 2026 bem acima do centro da meta de 3% de inflação. O Boletim Focus de hoje retomou o processo de deterioração, que havia cessado nas semanas anteriores.
- Inflação corrente acima de 4% com tendência de risco de romper o teto superior de 4,5% da meta de inflação. Apesar da deflação em agosto, o acionamento da bandeira vermelha 1 nas contas de energia elétrica, efeitos negativos da seca na oferta de alimentos e dólar negociado acima de R$ 5,50 devem elevar a inflação acima da média do período para os próximos meses.
- Economia do Brasil operando acima do potencial, com um mercado de trabalho considerado apertado com ganho salarial transmitido em alta de preço dos produtos.
- Risco fiscal com governo flertando em não cumprir a meta fiscal de 2024 e 2025, além de receio se o arcabouço fiscal será respeitado caso as contas públicas não fiquem na faixa inferior da meta fiscal.
- Ausência de credibilidade do Copom em meio à transição de comando da autoridade monetária: sai Roberto Campos Neto, que não tem uma boa relação com o governo, e entra Gabriel Galípolo. Como o governo sempre fez duras críticas a Campos Neto, há receio do mercado de que Galípolo seria conivente com a inflação mantendo a taxa Selic em um patamar artificialmente baixo. No entanto, o indicado do governo para o comando do Banco Central fez discursos mais duros que Campos Neto nos últimos 45 dias. Além de ver a falta de sintonia discursiva, o mercado viu excesso de comunicação dos membros do Copom no período entre reuniões.
Resta saber a taxa terminal desse ciclo de alta. Um tom “duro, mas frouxo” deve levar o mercado a precificar de 3 a 4 altas de 25 pontos-base, com taxa terminal entre 11,25% e 11,5%. Um tom duro deve levar a uma taxa terminal de 12%, com alta inicial de 25 pontos-base, duas altas de meio ponto percentual e um avanço terminal de 25 pontos-base em janeiro.