No início do mês o Comitê de Política Monetária do Banco Central tomou a decisão de reduzir a taxa básica de juros, a Selic, em 0,50 ponto percentual, passando de 13,75% para 13,25%. De acordo com a Ata do Copom, essa medida foi adotada em virtude da melhora do quadro inflacionário, que reflete, em parte, os impactos defasados da política monetária, combinados com a queda das expectativas de inflação para prazos mais longos.
Na sequência, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou um aumento de 0,12% em julho. Entre os fatores que contribuíram para esse resultado, destacou-se o impacto mais expressivo no grupo de transportes, impulsionado pelo aumento nos preços da gasolina, que registrou uma elevação de 4,75%. A gasolina foi o item de maior contribuição individual para o índice do mês. Além disso, as passagens aéreas tiveram um aumento de 4,97%, e o preço dos automóveis novos também subiu, com uma alta de 1,65%, influenciado pelo programa de incentivo à compra de carros do governo.
O cenário prospectivo da inflação no país parecia caminhar muito bem, que de forma qualitativa, notava-se, por exemplo, o índice de difusão, que caiu de 50% em junho para 46% em julho, indicando que a inflação está mais concentrada em alguns itens da cesta de inflação. Além da desaceleração da inflação de serviços, que passou de 0,62% no mês anterior para 0,25% em julho. Com isso, a inflação acumulada de serviços diminuiu de 6,22% para 5,64%.
Aumento de preço dos combustíveis pela Petrobrás muda o cenário para a inflação
Os recentes anúncios da Petrobras (BVMF:PETR4) sobre o aumento dos preços dos combustíveis mudaram o cenário benigno para a inflação. Sem dúvida, esses efeitos se farão sentir tanto no IPCA de agosto quanto de setembro. Enquanto as estimativas iniciais para a inflação de agosto eram modestas, situando-se em 0,12%, as previsões foram revisadas para cima, agora apontando para um aumento de 0,20%. As projeções para setembro são ainda mais marcantes, com expectativas de uma elevação de 0,50%.
Olhando para o panorama mais amplo, as previsões indicam que o índice de inflação acumulada em 12 meses, ao final do ano, deverá se aproximar dos 5,00%. Dessa forma, essa trajetória ascendente da inflação durante o ano não parece suficiente para sustentar, de maneira substancial, a argumentação favorável a um corte de juros mais expressivo na taxa Selic. Embora possam ser identificados sinais positivos em indicadores de difusão e núcleo, as perspectivas de um aumento contínuo da inflação limitam o espaço para medidas mais agressivas de flexibilização monetária. Isso ocorre apesar do corte de 0,50 ponto percentual observado na última reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM).
Neste contexto, torna-se crucial levar em consideração dois fatores de risco que exercerão influência sobre o cenário econômico. Em primeiro lugar, a desvalorização imediata da moeda, que tem o potencial de pressionar os índices de inflação na esfera produtiva. Em segundo lugar, é essencial ter em mente o efeito defasado do aumento nos preços dos combustíveis, cujos reflexos se manifestarão a partir do último trimestre do ano. Isso trará desafios substanciais para a dinâmica inflacionária no início de 2024, época em que também é esperado um aumento das pressões nos preços dos alimentos.
Nesse imbróglio, o cenário continua apontando para uma taxa Selic de 11,75% no término de 2023. Essa perspectiva se justifica, em parte, pelo enfraquecimento da inflação no setor de serviços. Contudo, as análises apontam para um contexto econômico complexo e desafiador, no qual os elementos de risco mencionados anteriormente podem desempenhar um papel importante na definição da trajetória da política monetária e da inflação nos próximos trimestres.