Muita fumaça na semana que passou com quedas e recuperações do açúcar na bolsa de NY, que acabou encerrando a sessão de sexta-feira praticamente inalterada em relação à semana anterior, ou seja, o vencimento março/22 fechou 20,01 centavos de dólar por libra-peso, sete magérrimos pontos de alta na semana seguido pelos demais vencimentos que tiveram desempenho bem semelhante.
O real se valorizou 1.5% em relação ao dólar no acumulado da semana, encerrando a R$ 5,4600 e novamente reduzindo os valores obtidos pelo açúcar na média em R$ 36,00 por tonelada.
Se você quiser saber porque o mercado de açúcar em NY subiu de maneira vigorosa e depois devolveu tudo novamente, talvez encontre explicações consultando alguma cartomante ou astrólogo de prestígio porque a verdade é que ninguém tem a menor ideia do porquê dessas oscilações. Fiquei feliz em saber que não estou sozinho nessa (obrigado, Michael).
O mercado em NY anda desanimado e sem muita estamina. O volume total de contratos negociados, por exemplo, no mês passado, foi de apenas 1.74 milhão de unidades, 47% abaixo do mês de setembro. O volume total de contratos negociados em futuros que estimamos para este ano é de 29.5 milhões de unidades, o mais baixo desde 2012. O que estará acontecendo com NY?
Pode-se conjecturar que o apetite das tradings nas operações de futuros foi contido pela desaceleração ocorrida após a pandemia – cujos reflexos ainda se manifestam – e a necessidade de ajustar os livros (via spreads) se tornou menos premente. Pode-se também especular que a antecipação incomum por parte das usinas nas fixações prematuras de seus açúcares antes de a safra começar tenham inflado sobremaneira o volume negociado na bolsa nos anos anteriores.
Da mesma forma, presume-se que a chamada de margem referente às operações de futuros para fixação de preço da safra do ano que vem esteja debilitando o fluxo de caixa das tradings. Nosso cálculo é que mais de US$ 3 bilhões em chamadas de margem foram drenadas dos cofres das empresas compreendendo os açúcares fixados e ainda não embarcados desta safra corrente e da próxima. São apenas conjecturas.
Mercados cujos volumes de negócio minguam são mais sujeitos às oscilações bruscas de preço e ao humor frenético dos algoritmos que ora mandam o mercado pra cima, ora mandam o mercado pra baixo. E os analistas de commodities que se virem tentando inserir uma narrativa que faça o mínimo sentido para seus leitores.
Independentemente desse curto período que tateamos o mercado como a história indiana dos sete sábios cegos que tocavam um elefante em diferentes partes do paquiderme e emitiam suas opiniões sobre o que achavam que era aquilo, assim se comportam os tolos perante o desconhecido. Pegamos apenas uma parte e já queremos emitir opiniões. Mas, dizia eu que, apesar disso, os fundamentos do mercado no médio e longo prazo continuam construtivos.
Ganham peso na trajetória que o mercado deverá tomar nos próximos meses o comportamento do mercado de petróleo e a atitude da Índia em relação ao etanol. O primeiro tem grande possibilidade de superar os 100 dólares por barril na onda um consumo exuberante no próximo verão no Hemisfério Norte. O segundo quando vemos estados indianos (Bihar) correndo para anunciar a produção de etanol em 17 unidades.
O sistema de administração do just-in-time que reduziu custos e estoques mostrou-se um pesadelo para esse momento de recuperação da atividade econômica global que fez muitas empresas repensarem sobre estoques e a eficiência do sistema em situações insólitas como as que vivemos. Serão as commodities contaminadas favoravelmente por essa mudança?
2022 será um ano peculiar em todos os sentidos, no Brasil ainda mais com crise fiscal, crise política e um ano eleitoral que promete um susto todo dia. O processo decisório terá inúmeros elementos, um intrincado quebra-cabeças de múltiplas peças de tamanhos e cores diferentes. O importante é não cair no mesmo erro dos sábios indianos ao tatearam o elefante.