A operação Carne Fraca da Polícia Federal trouxe incertezas à suinocultura brasileira, especialmente quanto à reação do consumidor final. Segundo pesquisadores do Cepea, até o momento, o impacto nos preços tanto do animal vivo quanto da carne tem sido pequeno, com estabilidade ou ligeiras quedas, mas agentes de frigoríficos e produtores consultados pelo Centro de Pesquisas estão cautelosos nas negociações de novos lotes. A baixa liquidez é reforçada, ainda, pela combinação do período de Quaresma com a segunda quinzena do mês. A repercussão das investigações não atingiu somente o mercado interno. De acordo com pesquisadores do Cepea, com a perda de confiança na carne brasileira, de modo geral, parceiros comerciais importantes do Brasil, como a China, exigiram relatórios técnicos a respeito de adulterações nos produtos, e alguns países chegaram a bloquear temporariamente os embarques da carne brasileira. O governo de Hong Kong decidiu, nessa quarta-feira, 22, suspender as compras de novos lotes da carne brasileira, inclusive suína. Em 2016, o país foi o segundo maior comprador da carne suína nacional, sendo responsável por 156 mil toneladas, 22,3% do total embarcado naquele ano. A China tomou uma decisão mais radical: bloqueou o envio de todas as carnes do Brasil, inclusive lotes que já estão nos portos chineses. No ano passado, o país comprou 87 mil toneladas de proteína suína brasileira, 12,4% do total no ano.
BOI: PECUÁRIA VIVE MOMENTO DELICADO E NEGOCIAÇÕES TRAVAM
Nos últimos dias, a pecuária brasileira, setor responsável por 7% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional e que, “dentro da porteira”, emprega mais de 3 milhões de pessoas, vem atravessando momento bastante delicado. Embora a operação Carne Fraca, da Polícia Federal, tenha como principal foco a investigação de indústrias de embutidos, o mercado bovino foi fortemente afetado, desde o frigorífico até o produtor. De acordo com pesquisadores do Cepea, na sexta-feira, 17, dia em que a Operação foi divulgada, o ritmo de negócios esteve significativamente lento. Assustados e preocupados com as possíveis repercussões, muitos representantes de frigoríficos consultados pelo Cepea suspenderam as compras ou pressionaram com força os valores na aquisição de novos lotes. Vendedores, por sua vez, só aceitaram negociar com pagamentos à vista, quando, em situações normais, muitos comercializam seus animais com prazos. No entanto, nestes negócios à vista, frigoríficos pagaram valores inferiores, com deságios. Muitos colaboradores indicam que negócios foram postergados para a primeira semana de abril. No início desta semana, diante da confirmação de embargos nas importações por parte de importantes compradores da carne bovina nacional, o mercado ficou travado, sem negócios. Com 23 anos de pesquisa diária e ininterrupta, a equipe de coleta de preços de Pecuária do Cepea nunca vivenciou um mercado como o dessa terça-feira, 21. Em muitas praças, não houve relatos de negócios nem de preços “abertos” para comercialização de novos lotes. O setor ficou em compasso de espera. Alguns poucos negócios e o abate foram resultados de contratos já fechados anteriormente.