Frio de um dígito em boa parte do Brasil.
Estamos diante de um longo inverno, também no sentido metafórico.
O aperto monetário no mundo — mais intenso e mais extenso do que o mercado espera — modifica radicalmente as relações de troca entre risco e retorno.
Não é verdade, porém, que estamos simplesmente voltando ao passado.
Algumas características são semelhantes aos episódios históricos de alta inflação e altas taxas de juros; outras coisas mudaram.
Combustíveis caros, embora ainda incômodos, defrontam-se pela primeira vez com a possibilidade de home office, neutralizando parte dos gastos com transporte.
Alternativas de renda fixa estão bem mais arrojadas do que as do fim de 2016, quando a Selic enamorou-se pelo mesmo patamar atual.
E os grandes bancos, antes pegos de surpresa pelo financial deepening, agora voltam a jogar em casa, diante da torcida dos spreads.
É sobre eles que eu quero falar: os grandes bancos.
Entendo que você deva ter ao menos um grande banco em seu book de ações. O meu preferido, hoje, é Itaú.
Para quem quiser casar as duas pontas, um short em Xp (NASDAQ:XP)(SA:XPBR31) parece adequadamente pareado com o long em Itau (SA:ITUB4).
Ainda que a tese pareça meramente conjuntural, trata-se de uma conjuntura que pode transformar dias em meses, e meses em anos.
Indo além, arrisco-me a dizer que há algo mais que conjuntural escondido aí.
Primeiro, porque as baixas temperaturas de um inverno rigoroso podem alterar a estrutura físico-química de um elemento — no caso, o elemento XP —, de modo que ela não volte mais a ser como era antes (histerese).
Se for o caso, não se trata apenas de ajustar parâmetros, mas sim de mudar a própria narrativa. Como diz o Damodaran moderno, every valuation tells a different story, and every story tells a different valuation.
Segundo, porque os bancos apanharam e aprenderam. Aprenderam muito. A surpresa do primeiro financial deepening não será repetida quando os juros voltarem a cair.
Várias das ferramentas usadas para disruptar o sistema foram absorvidas humildemente pelo próprio status quo, tornando-o mais robusto.
Embora os MBAs gostem de frisar casos extremos de Kodak ou Blackberry, as grandes destruições criadoras ocorrem de maneira endógena, com o mainstream incorporando as fronteiras do conhecimento.