Eu gosto de ficção científica, mas são poucos os filmes que se salvam no gênero. Espetacular foi "2001 - Uma Odisseia No Espaço", o clássico baseado em um conto de Arthur C. Clark. Lançado ainda em 1968, pouco antes de o homem pisar na lua, o filme dirigido por Stanley Kubrick continua insuperável até hoje! Outro escritor que inspirou vários filmes futuristas foi Philip K. Dick. Entre eles, "Blade Runner - O Caçador de Androides" (de 1982) dirigido por Ridley Scott. Esses filmes estão entre os meus favoritos. E ambos mostravam alguma forma de inteligência artificial desenvolvendo instinto de sobrevivência e emoções. Foi pena Stanley Kubrick morrer antes de filmar seu último projeto, justamente o chamado "A.I. - Inteligência Artificial", que acabou realizado por Steven Spielberg.
Mas, por que falar de ficção científica aqui? Bem, a verdade é que nem só de economia vive o ser humano! E, vice-versa, nem só de seres humanos vive a economia. Mas, se não de forma exclusiva, o ser humano continua sendo o elemento fundamental da economia!
De fato, na fabricação de bens e produtos, as máquinas já substituíram boa parte da mão de obra em linhas de montagem. Até no setor de serviços, caixas automáticos eletrônicos substituem parte dos funcionários bancários; vending machines vendem refrigerantes, doces e salgados industrializados; sistemas lógicos com gravações fazem boa parte do atendimento telefônico a clientes; prédios têm porteiros eletrônicos com interfone e câmeras; etc. A Amazon já está fazendo até entregas de compras em certas áreas com o uso de drones (pequenas máquinas voadoras não tripuladas - veja o vídeo aqui). Se depender da tecnologia da Google, até motoristas serão substituídos pelo tráfego computadorizado dentro de alguns anos. Mas, se do lado da produção e oferta de bens e serviços, máquinas e transístores já têm uma participação bastante significativa na economia, é bom lembrar que do lado do consumo e da demanda final, o ser humano ainda é insubstituível!
A manutenção dessas máquinas até gera gastos, mas essas despesas ainda são predominantemente custos de produção. Ao fim e ao cabo, é a população mesma quem gera o consumo final. Pelo menos enquanto não inventarmos uma multidão de seres sintéticos, capazes de trabalhar por dinheiro, para posteriormente gastá-lo no seu próprio consumo de bens e serviços. Esses androides também teriam que se reproduzir de forma autônoma, poupar, investir, contrair empréstimos e demonstrar emoções, compulsões, sonhos de consumo e falhas de racionalidade (como a maioria de nós) e serem sugestionados por propagandas (uma forma de programação em massa bastante eficiente em cérebros humanos). Enquanto esse cenário pertencer apenas à ficção científica, não tem escapatória: o perfil da população é que determina o potencial do mercado consumidor!
Talvez até por influência desse gosto que trago pela ficção científica desde minha infância, eu penso na economia como algo que se equilibra sobre o tripé de: ambiente, população e tecnologia. E, desde a pré-história, a tecnologia é fruto da interação da população com seu meio ambiente. Algo que poderia ser ilustrado através da formidável cena de "2001 - Uma Odisseia No Espaço", quando um primata vitorioso, após descobrir a vantagem de empunhar um fêmur ou uma tíbia como ferramenta e arma, lança o osso ao ar. A imagem da tíbia arremessada para cima é então substituída por uma nave espacial, resumindo assim quatro milhões de anos de evolução humana e tecnológica (de Australopithecus a Homo sapiens: leia).
A tecnologia talvez seja realmente a mais excitante base desse tripé. Contudo, apesar de menos empolgantes, tanto a base populacional, como a ambiental, não podem ser subestimadas na economia.
O avanço tecnológico segue sem dúvida de forma veloz, estimulando a produção e o consumo. Mas, é importante ter em mente que a população deixou de crescer rapidamente como outrora. Isso poderá ser ótimo para a preservação dos recursos naturais do planeta, e a melhor esperança para a saúde e sustentabilidade de nosso ecossistema, mas tende a gerar sérios distúrbios na economia. Nosso ritmo econômico e modelo de vida atual têm impactos claramente nocivos para o clima e o meio ambiente. Mesmo que de maneira inconsciente, a já enorme população mundial começa a capitular sua trajetória. O gráfico abaixo mostra uma estimativa histórica da população mundial em 12 mil anos: desde a transição de caçadores/coletores nômades para a agricultura, até o ano 2000. Foi em 2012 que alcançamos a marca dos 7 bilhões de seres humanos no planeta.
Sobre o meio ambiente, muito já vem sendo dito. Surpreendentemente, ainda existem algumas mentes singelas e vários lobistas do setor de energia fóssil e do setor financeiro que insistem em negar o óbvio prejuízo climático e a insustentabilidade desse modelo econômico. E nós seguimos pagando pelo nosso interesse e comodismo atual usando o cartão de crédito das gerações futuras. Contraindo dívidas (ambientais e financeiras) nas costas de quem ainda não pode se pronunciar sobre o assunto ou entender o que se passa. Ou nem sequer nasceu! Aquele sonho de que, um dia, a maior parte do mundo terá acesso ao mesmo padrão de consumo da classe média norte-americana poderá se revelar um verdadeiro pesadelo ecológico...
Porém, quanto à população e sua relação com a economia e as finanças, o que me intriga é que essa questão parece ser ainda muito pouco mencionada ou observada pela maior parte das pessoas. A estatística demográfica pode nos fornecer informações bastante interessantes e úteis para a análise e prospeção econômica.
A primeira vez que li um comentário abordando demografia em um livro sobre mercado financeiro foi em 2004, porém, de forma tão resumida que se limitou a dois parágrafos. O livro era "A Arte e a Ciência das Finanças". Nele, Michel Fleuriet apenas questionava quem seriam os compradores para as ações, cujas vendas ele dizia que aumentariam a partir de 2015, resultado de um crescente número de aposentados começando a efetuar resgates de seus investimentos e fundos de pensão. Esses resgates ganhariam frequência, já que essas pessoas não contariam mais com os salários de antes. Ele sugeria que os compradores seriam provenientes de países emergentes. Felizmente, aquela curtíssima referência foi suficiente para me chamar atenção para o assunto. Grifei aquelas linhas e a questão permaneceu latente em minha cabeça durante anos.
Tempos depois, lendo uma exposição de uma indústria farmacêutica brasileira, vi uma abordagem mais objetiva da demografia. Ela era instrumental na projeção do mercado para os produtos da empresa nos próximos anos. Fazia todo sentido e tornava-se óbvia a utilidade da demografia para o setor farmacêutico. Mais uma vez, fiquei cativado pelo assunto.
Michel Fleuriet havia sido presidente do Chase Manhattan Bank e da Merril Lynch, além de Chairman do HSBC e membro da Euronext. Sua preocupação com os Baby-Boomers, naquelas poucas linhas, parecia focar apenas as implicações do avanço da idade daquela numerosa geração para o mercado financeiro e os fundos de pensão. Com mais aposentados reduzindo suas posições em ações e uma menor população jovem para comprá-las, a maior pressão de venda só seria equilibrada (segundo ele) se compradores estrangeiros entrassem em maior número no mercado europeu e norte-americano. Talvez seja alguma audácia de minha parte discordar de alguém com um currículo tão impressionante, mas questiono um pouco o raciocínio dele aqui. A meu ver, a quantidade de gente não importa muito para as negociações com ações. Se houver menos compradores, porém com suficiente capital e interesse pelos ativos, a pressão compradora não diminuiria necessariamente. Não é como no caso de um restaurante que, com uma menor clientela, estaria condenado a vender menos refeições. Enquanto houver disponibilidade de capital e expectativa de lucro, o apetite por ativos financeiros não depende do número de participantes no mercado, mas sim do poder de bala desses investidores. Bastaria um único Warren Buffett para arrematar a oferta de uma multidão de aposentados. Mas, mesmo esse bilionário, consumidor diário de Coca-Cola, não seria capaz de compensar uma grande queda no número de consumidores do seu refrigerante favorito. No primeiro caso, falamos da disponibilidade de capital, algo que pode variar absurdamente de um indivíduo para outro e, assim, não depende muito do tamanho da população. No segundo caso, falamos de anatomia e metabolismo humano, algo que varia bem menos de uma pessoa para outra, e só o tamanho da população poderia determinar a capacidade total de absorção da oferta.
Os americanos costumam brincar com os termos Wall Street e Main Street. O primeiro é uma referência ao coração financeiro dos EUA, na cidade de Nova York. O segundo seria uma referência às principais ruas comerciais em cada uma das cidades do país. A economia real consiste no desempenho da indústria, do comércio, dos empregos e do consumo no dia a dia das ruas de todas as cidades e da massiva maioria da população. Aquela abordagem demográfica da indústria farmacêutica me pareceu ainda mais importante justamente por não se limitar ao mercado financeiro (Wall St.), mas sim, voltando-se para a economia real (Main St.) e a demanda por serviços e produtos industrializados. Tornava-se óbvia a utilidade de entender a economia como um conjunto de pessoas com diferentes idades, diferentes fisiologias, diferentes necessidades e diferentes tendências de comportamento, saúde e consumo - próprias da idade!
Pesquisando mais sobre demografia, o assunto me parecia cada vez mais interessante. Além do Censo norte-americano e do Centro para Controle e Prevenção de Doenças, que forneciam alguns dados essenciais para uma visão quantitativa da população, encontrei outros dados anuais qualitativos, com estatísticas de consumo agregado nos EUA e a contribuição percentual nestes gastos conforme a faixa etária do (ou da) chefe do lar. Compilando os dados dos últimos dez relatórios anuais disponíveis, pude traçar o gráfico abaixo:
Nesses dez anos, o padrão mostra que a faixa etária de referência para os domicílios que mais contribuem para o consumo agregado anual é a dos 45 aos 54 anos. É com base nesses dados que essa parcela da população se mostra tão relevante para a economia. Normalmente, uma pessoa alcança o pico de gastos na vida pouco antes de completar seus 50 anos. É importante entendermos o que isso significa. Não se trata de indivíduos que, nessa idade, gastam muito consigo mesmos. É que, estatisticamente, nessa faixa etária as pessoas já constituíram famílias há anos e têm filhos jovens que ainda são seus dependentes.
De acordo com o último levantamento disponível, a idade média das mães norte-americanas no nascimento de seu primeiro bebê era de 25,8 anos em 2012 (fonte: Centers for Disease Control and Prevention). Porém, em 1970, a idade média das mães ao ter o primeiro bebê era de 21,4 anos! Na maioria dos casos, a diferença de idade entre pai e mãe é inferior a 3 anos. Assim, geralmente, um ou uma chefe de família com 48 anos hoje ainda têm grandes despesas com a manutenção e a educação dos seus filhos. Os gastos com vestuário, alimentação, lazer e educação desses dependentes aumentam com a idade deles. Só a partir do momento em que se emancipam, é que os filhos deixam de gerar despesas crescentes para seus pais. Portanto, o ciclo de gastos da família/domicílio estaria mais associado à idade dos filhos, do que propriamente à idade dos pais. Uma vez crescidos, educados e emancipados, esses jovens permitem que as despesas dos pais recuem bastante. O momento coincide com uma maior preocupação dos pais em engordar a poupança, a fim de garantir com maior reserva financeira a aposentadoria que se aproxima.
A fisiologia do sistema endócrino, com ciclos hormonais que se modificam com o passar dos anos, regulam nosso relógio biológico e também nossos comportamentos. Além disso, somos criaturas gregárias, sujeitas a influências culturais e hábitos sociais. Isso nos permite fazer algumas generalizações sobre nossa trajetória na vida:
- Aos vinte e poucos anos, nos tornamos independentes;
- O relacionamento amoroso eventualmente fica mais sério;
- Mudamos de casa e passamos a ter uma vida conjugal;
- Nasce o primeiro filho e as despesas passam a aumentar;
- Os gastos e os filhos crescem em tamanho e quantidade;
- O imóvel fica pequeno para a família e mudamos para outro maior;
- As despesas aumentam com a idade dos filhos e o imóvel mais amplo;
- Adolescentes procuram inserção social gastando com modismos e passeios;
- Os gastos dos pais atingem o auge na idade universitária dos filhos;
- Ao se formarem, esses jovens se lançam a suas próprias vidas;
- Após a emancipação dos filhos, as despesas dos pais começam a diminuir;
- Na meia idade, com filhos já criados, surge o consumo nostálgico (moto, carro, hobbies);
- A percepção de que a aposentadoria se aproxima começa a ganhar força;
- O consumo cede terreno para uma maior preocupação com as finanças;
- Entre investidores, o conservadorismo e a aversão ao risco aumentam;
- Depois da aposentadoria, o consumo discricionário se reduz mais;
- Os resgates da poupança e investimentos ganham frequência;
- O carro é menos utilizado e a vida se torna mais caseira;
- As maiores despesas discricionárias passam a ser viagens;
- Gastos com saúde e medicamentos são mais frequentes.
Nos gráficos abaixo tracei alguns dados que obtive do último relatório anual de consumo nos EUA, referente ainda a 2012:
Representado no primeiro gráfico, os gastos com calçados dão uma nítida ideia do quadro que a demografia nos permite visualizar. Filhos crescem rapidamente, perdendo logo os sapatos. Mesmo quando o crescimento desacelera, esses jovens ainda se arrastam, pulam, correm, derrapam, participam de jogos, esfolam e arrebentam seus calçados! Quem já teve filhos não se admira com essa curva de consumo.
Observe como educação e alimentação fazem um nítido pico de gastos quando os pais estão na faixa dos 45-54 anos. Seus filhos já estão grandes, estatisticamente entre os 17 e 26 anos, na média de 22 anos. São estudantes ou dependentes prestes a se emanciparem. As despesas com filhos nessa idade formam um pico de grande destaque no orçamento dos pais. Ao fim dessa fase da educação e da dependência desses jovens comilões, sedentos por modismos e inserção social, os gastos do(a) responsável pela casa passam então a regredir.
Em um texto anterior, eu já havia apontado e ilustrado através de um gráfico a pressão inflacionária que a abundante última geração de Baby-Boomers representou para a economia norte-americana na década de 1970 (quem quiser conferir, acesse "O Rock 'n' Roll no Mercado!"). Aquela grande população jovem exercia um efeito inflacionário sobre o índice de preços ao consumidor até 1982, quando finalmente se emanciparam e permitiram uma desinflação da economia. Contudo, agora, o crescimento na quantidade de pessoas maduras, ocorrendo concomitantemente à desaceleração da taxa de fertilidade, tende a gerar o efeito contrário. Com a idade média mais avançada da população, a tendência natural é de uma moderação no consumo, o que representa uma pressão deflacionária na economia.
Para um país desenvolvido como os EUA, onde 70% do PIB é proveniente do consumo das pessoas, isso também tende a gerar uma desaceleração econômica.
(facilita-nos entender como a grande impressão de dinheiro não vem gerando maior inflação ou crescimento: um aumento de 370% da base monetária dos EUA, só gerou 9% de inflação e 15,5% de crescimento nominal do PIB norte-americano desde 2008 - veja aqui)
"O problema do nosso tempo é que o futuro não é o que costumava ser." (Paul Ambroise Valery - poeta e filósofo francês)
Em 1982, o filme "Blade Runner" apostava em uma Los Angeles completamente orientalizada no ano 2019. Japoneses e outros orientais andavam por toda parte e estavam presentes nas grandes empresas e nos pequenos negócios. A linguagem "cityspeak" falada nas ruas era uma mistura de japonês, espanhol, alemão e inglês. Em referência à então ascendente economia japonesa e à crescente população latina nos EUA, os anúncios das colônias espaciais apresentavam a (fictícia) Shimago-Dominguez Corporation "ajudando a América a entrar no Novo Mundo". O filme ilustrava bem a expectativa de um Japão cada vez mais poderoso economicamente.
Eu estava na Europa no final da década de 1980, quando os japoneses compravam imóveis, hotéis e negócios por lá. Naqueles tempos, muitos se admiravam com o dinamismo da economia japonesa. Mais ou menos como a China de hoje. Lembro-me quando, em 1989, a japonesa SONY comprou a Columbia Pictures e também os estúdios cinematográficos da Tri-Star norte-americana. Era impressionante que uma única corporação japonesa tivesse adquirido dois importantes ícones da cultura norte-americana. Os investimentos japoneses escalavam no ocidente naquele final da década de 1980. O ritmo japonês levava muitos observadores a acreditar que a economia dos EUA seria eventualmente ultrapassada pelo Japão.
A enorme valorização imobiliária no Japão permitia que imóveis lá fossem usados como garantia para o financiamento de mais investimentos e aquisições alavancadas dentro e fora do país.
Veja algumas das justificativas que eram apontadas para a "sustentabilidade" daquela acelerada alta nos preços dos imóveis:
- A economia japonesa crescia de forma bem mais dinâmica que a norte-americana;
- A área total do Japão equivale a cerca de 4% da área total dos Estados Unidos;
- O país é um arquipélago vulcânico sem muitas condições de expansão da área utilizada;
- 70% do território nacional são montanhas e 532 delas têm mais de 2.000 metros de altura;
- A população japonesa (metade da dos EUA) era enorme para seu diminuto território nacional;
- A densidade demográfica do Japão era 12,4 vezes maior que a dos EUA (e 2,8 vezes a da China).
As justificativas pareciam até muito razoáveis para a crescente valorização imobiliária no Japão.
Mas, para quem prestasse mais atenção ao seu perfil etário, a demografia japonesa já contava outra história. Bastante diferente! A população envelheceria e não haveria trabalhadores e consumidores jovens suficientes para manter o mesmo ritmo econômico. A demanda no consumo diminuiria.
A contração demográfica já estava clara no perfil populacional. E uma crise econômica era presumível para qualquer um que aceitasse a relação entre demografia e economia. Faltariam sujeitos para continuar conjugando aquele desempenho japonês no tempo futuro!
E essa crise chegou até mais cedo do que seria de se esperar, isso graças aos abusos de crédito e endividamento privado. Foi uma combinação fatal: demografia desfavorável + abusada alavancagem financeira! Os próximos gráficos mostram bem suas consequências a partir de 1990.
O índice Nikkei 225 foi bastante representativo daquela euforia na década de 1980. A estagnação e posterior contração na quantidade de pessoas em idade economicamente ativa foram determinantes para uma desaceleração econômica que se manteve indiferente às políticas e estratégias do Banco Central do Japão.
Economistas, homens de negócios e investidores consideram-se pessoas de "mentes mais sofisticadas". À procura de indicadores fundamentalistas mais pretensiosos e engenhosos, ou talvez puramente otimistas, não deram a merecida atenção a um indicador bastante simples, despretensioso e acessível. Uma melhor observação da demografia teria sido extremamente útil para refrear tanta euforia nos especulativos anos anteriores.
A demografia é um importante fundamento para a economia!
Ainda no filme Blade Runner, o engenheiro genético J. F. Sebastian explicava a uma replicante: "aqui não há falta de moradias". E se a idade servir de base, é natural que uma população madura, cujos (poucos) filhos já deixaram a casa, não tenha mais razão para se mudar para imóveis maiores e mais caros. Em geral, acontece o contrário. A preferência passa a ser por um imóvel menor, de manutenção mais fácil e conveniente. E uma menor população jovem implica em uma desaceleração na formação de novas famílias e lares. Por isso, o envelhecimento da população gera distúrbios no mercado imobiliário, diminuindo a demanda por imóveis novos e aumentando a oferta daqueles de segunda mão. O efeito disso se traduz em uma estagnação ou desvalorização imobiliária.
Mas a história nem sempre serve de lição e, justamente por isso, ela se repete...
Tanto o perfil demográfico do Japão, em 1990, como o dos EUA, em 2006, eram fatores predisponentes para uma crise imobiliária. Porém, nenhum dos dois justificaria por si só a rápida deflação dos imóveis que viria a seguir. Caso esses mercados estivessem realmente apenas abastecendo famílias com lares adequados para a sua própria habitação e o seu próprio orçamento familiar, sem envolver todo aquele investimento de grau meramente especulativo que de fato ocorreu, a crise imobiliária teria sido bem mais branda ou, quem sabe, se resumiria a uma longa estagnação do mercado. A seriedade de ambas as crises (Japão e EUA) foi resultado do irresponsável comportamento das instituições financeiras, ofertando crédito a investidores, especuladores e pessoas inadequadas justamente nos últimos anos do bônus demográfico que se exauria. Como que na gula pelo doce que lhes seria retirado em breve, lambuzaram tudo e todos à sua volta, em uma frenética raspa do tacho!
Faltaram regulamentação e fiscalização do governo. Para quem achava que o estado não deveria se intrometer nesses negócios da iniciativa privada, por que então deveria haver o socorro financeiro à custa dos contribuintes e das contas públicas?
Existe um sábio ditado chinês que diz assim: "Enganou-me uma vez? Envergonhe-se! Enganou-me duas vezes? Envergonho-me!"
Mas será que os próprios chineses, e outros tantos, estão de olhos bem abertos para nos blindar contra outra odisseia dessas no futuro?
A bolsa estimula a cidadania! Compartilhe, divulgue e indique esse texto pelas redes sociais Linked-in, Twitter, Facebook e Google+.
Texto de Sebastião Buck Tocalino. Direitos autorais protegidos pela lei 9.610/98.
Copyright © De Olho Na Bolsa (www.DeOlhoNaBolsa.com.br). Todos os direitos reservados