As expectativas são de crescimentos nas vendas externas e internas de carne suína em 2022. No entanto, o cenário de incertezas tanto no Brasil quanto no mundo deve limitar esse avanço no setor neste ano, além de possivelmente resultar em forte volatilidade nos preços da cadeia. No lado produtivo, o custo de produção tende a se manter elevado e seguir pressionando as margens da atividade.
No Brasil, a demanda pela carne suína deve continuar avançando, mas de forma mais moderada frente a 2021. De acordo com o Boletim Focus, do Banco Central, publicado em 3 de janeiro de 2022, o PIB deverá crescer apenas 0,36% em 2022, fator que pode limitar o consumo de carne suína, tendo em vista que o baixo poder de compra da população prejudica a procura pela proteína – vale lembrar que os embutidos, de maior valor agregado e compostos geralmente por carne suína, podem registrar demanda comedida.
Além disso, projeções da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) sugerem que o consumo per capita brasileiro aumente em até 3%, crescimento abaixo do esperado para 2021. Para o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a expectativa é de avanço ainda menor, de apenas 1,4%. Já a oferta nacional, por sua vez, deve aumentar em 4%, segundo a Associação, e em até 6%, conforme o USDA. Ressalta-se que inflação, incertezas políticas e a insegurança ainda causada pela pandemia de covid-19 são fatores que também podem pesar negativamente sobre o setor suinícola brasileiro.
Quanto às vendas externas, as projeções da ABPA indicam que os embarques brasileiros de 2022 podem superar em até 7,5% os de 2021. Do lado positivo, a União Econômica Eurasiática (UEA), bloco composto por Rússia, Armênia, Belarus, Cazaquistão e Quirguistão, aprovou no início de dezembro/21 a ampliação de cotas para importação, com tarifa zero, de carnes bovina e suína. Para a proteína suína, a cota terá validade entre 1º de janeiro e 30 de junho de 2022, fato que pode favorecer os embarques brasileiros. Contudo, a menor necessidade de importação de importantes parceiros comerciais como Vietnã e Filipinas e a crise logística global podem atrapalhar o desempenho das vendas externas brasileiras.
Em relação aos custos de produção, devem continuar sendo um grande obstáculo para o setor em 2022, principalmente no primeiro semestre. Isso porque os valores dos dois principais componentes da ração, o milho e o farelo de soja, devem se manter em patamares altos, tendo em vista as aquecidas demandas interna e externa por esses grãos. Com isso, o poder de compra dos suinocultores tende a ser pressionado por mais um ano.
De acordo com a equipe de Grãos do Cepea, a temporada brasileira 2021/22 de milho deve se iniciar com preços internos acima da média histórica. No primeiro semestre de 2022, os baixos estoques e a demanda firme podem limitar a possibilidade de quedas expressivas nas cotações, ao passo que, na segunda metade do ano, pode haver certa pressão sobre os valores, caso se consolidem as projeções de oferta de segunda safra elevada. Por enquanto, as estimativas oficiais indicam produção e exportações recordes no Brasil e no mundo.
Quanto à soja, segundo a equipe de Grãos do Cepea, a temporada 2021/22 se iniciou com otimismo. A expectativa é de oferta recorde, mas também de demandas interna e externa aquecidas. Com relação ao farelo, o consumo mundial na temporada 2021/22 deve atingir recorde de 251,95 milhões de toneladas, segundo o USDA, e o consumo do derivado deve crescer 2,9% entre as duas últimas safras.