O contrato futuro do suco de laranja nos EUA pode voltar a testar as máximas de cinco anos diante do possível início de mais uma temporada ativa de furacões no Oceano Atlântico, aumentando a pressão sobre as plantações na Flórida, maior estado americano produtor de laranjas.
“O mercado sofre com a escassez da fruta e do suco”, disse Jack Scoville, analista-chefe agrícola do PRICE Futures Group, em Chicago, em uma nota à qual o Investing.com teve acesso na terça-feira.
Por ser um dos produtos mais consumidos pelos americanos no café da manhã, ao lado de ovos, cereais, leite e salsichas, o suco de laranja está contribuindo para a inflação dos alimentos nos EUA neste ano, com seus preços nos supermercados subindo um pouco mais de 7% no ano até março, alcançando o valor de US$ 7,88 o galão, de acordo com uma pesquisa da Nielsen.
O suco de laranja concentrado e congelado girava em torno de US$ 1,84 por libra-peso, antes da abertura de quarta-feira em Nova York. Na primeira semana de junho, o mercado subiu 4%, mais do que compensando toda a queda de 2,8% registrada em maio.
Gráficos: cortesia de skcharting.com
O suco de laranja disparou 25% nos dois meses anteriores, atingindo a máxima de cinco anos a US$ 1,94 em 19 de abril.
Agora, pode reprisar essas máximas ou até superá-las, com a força técnica aliando-se à devastadora doença chamada “esverdeamento cítrico” na Flórida, que prejudica e mata os laranjais durante seu crescimento.
O estado registra queda na oferta de laranjas há mais de duas décadas, segundo levantamento feito pela Bloomberg na semana passada.
Além disso, desde 2017, a Flórida já foi atingida por oito furacões e tempestades tropicais. Em média, o ano registra 14 tempestades nomeadas, que acontecem quando seus ventos atingem a força da tempestade tropical de 39 milhas (63 quilômetros) por hora.
Para este ano, o Serviço Nacional de Meteorologia dos EUA está prevendo de 14 a 21 tempestades nomeadas que podem atravessar o Atlântico durante a temporada de seis meses que começa em 1º de junho.
A perspectiva mais recente de fontes acadêmicas e comerciais aponta para um ano de muita atividade em toda a bacia. A Universidade Estadual de Colorado, pioneira em previsões sazonais, previu 19 tempestades nomeadas, enquanto a AccuWeather estimou de 16 a 20.
Por enquanto, a produção de laranjas na Flórida está estável, ainda que em tendência de baixa.
“Mas as condições climáticas na Flórida são, em geral, boas para as plantações, com algumas pancadas de chuvas e temperaturas quentes”, ressaltou Scoville do PRICE Futures Group.
Sem dúvida, as plantações de cítricos no estado evitaram o tipo de impacto direto que pode arrancar árvores do solo, disse Don Keeney, meteorologista da Maxar Technologies.
Mas a produção da Flórida ainda encolheu para menos de um quinto do que era no início do século, e a área plantada diminuiu em relação à sua extensão no pico.
Os problemas de safra da Flórida, em conjunto com as dificuldades produtivas no Brasil, maior país produtor da fruta, alçaram os contratos futuros do suco de laranja em 43% em Nova York no ano passado. Os preços podem romper US$ 2 e seguir em alta se houver a chegada de um grande furacão, disse Andres Padilla, analista do Rabobank International.
“O esverdeamento causou estragos nos EUA, e a produção brasileira foi bastante prejudicada pela estiagem”, disse Scoville.
Ele acrescentou:
“De modo geral, o clima permanece bom para a produção em todo o mundo na próxima safra. O Brasil registrou um pouco de chuva e as condições são classificadas como boas, mas está mais seco agora e algumas árvores estão desenvolvendo estresse.”
Tudo isso deve ser visto no âmbito de condições técnicas altistas que podem promover uma alta ainda maior dos preços do suco de laranja, disse Sunil Kumar Dixit, estrategista-chefe técnico do site skcharting.com.
O suco de laranja se firmou acima da área horizontal de US$ 1,40 no gráfico mensal, devido à confluência de importantes médias móveis, como as simples de 100 e 200 dias e exponencial de 50 dias.
Os parâmetros do estocástico semanal, com leitura de 81/79, e mensal, de 87/85, também davam suporte ao movimento de alta do suco de laranja, disse Dixit.
“Para a perspectiva de curto prazo, o suco de laranja deve ser negociado na faixa de US$ 1,95-1,60”, explicou o analista.
“Os preços precisam superar US$ 1,95 para continuação da onda de alta, com alvo em US$ 2,00-2,20-2,40. Em caso de falha, o produto pode recuar para US$ 1,70 e US$ 1,60”
Um fechamento decisivo abaixo da faixa de US$ 1,70-1,60 pode iniciar um deslize, jogando o mercado para as regiões de suporte horizontal de US$ 1,40-1,30, afirmou Dixit. Segundo o analista:
“Sem dúvida, o gráfico mensal de longo prazo mostra a formação de um fundo arredondado no suco de laranja, capaz de forçar uma correção para US$ 1,40-1,30, mas, no longo prazo, a expectativa é que haja um movimento em direção a US$ 2,00-2,20-2,40”.
“Aqui é muito importante entender que essas formações macro nos tempos gráficos maiores indicam um enorme acúmulo de energia no futuro, assim que o movimento inicial da formação se estabelecer”.
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para dar diversidade às suas análises de mercado. A bem da neutralidade, ele por vezes apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.