É muito comum vermos planejadores financeiros e profissionais em finanças pessoais sérios, comprometidos, lembrarem que não existe fórmula mágica para ganhar dinheiro rápido com investimentos. Mas, com a popularização do tema, surgiram vários “especialistas”, especialmente da bolsa de valores, que acabam atraindo muitos desavisados com discursos encantadores. Parece que todo mundo, ultimamente, sabe tudo sobre investimentos.
Em tempos de movimentação no mercado ou alta dos juros, como agora, pipocam as “dicas infalíveis” para ficar rico. Será que vale a pena dar ouvidos a esses “gurus” e entrar no “efeito manada”? Claramente, não. Isso porque o sucesso no mercado financeiro é fruto de planejamento, não de apostas.
Vamos aos exemplos práticos. Um dos temas que sempre surgem é que “este é o momento de entrar na bolsa”. Ou seja, “gurus” que vendem a ideia de que, por alguma fórmula mágica, eles “sabem” que determinadas ações estão prestes a “decolar”. E, investindo pesado agora, o retorno, muito provavelmente, virá.
Objetivamente, diante das quedas recentes no Ibovespa, é o momento de entrar? Pode até ser, mas, hoje, eu não “entraria na bolsa” com certeza de retorno, pois as ações podem cair ainda mais. Isso porque o principal viés, o que movimenta mais as cotações no mercado brasileiro são as aplicações dos investidores estrangeiros em títulos do Tesouro, na bolsa e via empreendimentos (são mais de 60%).
Em momentos de incertezas, como de aumento de combustível, de juros, de desemprego e, consequentemente, possível redução no consumo, esse investidor costuma ir embora. E, se fosse tão fácil acertar o “timming” em que haverá a volta desse investidor, quando as ações voltarão a se valorizar, centenas de gestores profissionais, de grandes fundos de investimento, acertariam sempre. O que acontece, na realidade, é que, muitas vezes, vemos gestores “comprados” e “vendidos” num mesmo papel, para tentar conseguir um mínimo de rendimento e bater a meta.
Outro mito de que, com a aposta, com a “dica certa”, dá para ganhar mais dinheiro que vejo aqui todos os anos é o do saque de aplicações no fim do ano. Segundo essa “lenda urbana”, se o investidor resgatar tudo antes do dia 31 de dezembro, ele “engana” a Receita Federal (pois o saldo do fim do ano será zero) e não pagará imposto.
Ocorre que, ao agir dessa forma, acaba-se pagando mais imposto. Isso porque o resgate pode ser tributado. E, ao reingressar, ele volta a alíquota mais alta. Sem contar que, atualmente, os fiscais dispõem de inúmeras formas de detectar movimentações patrimônio, ainda mais com tudo informatizado.
Em vez de ficar procurando a aposta da vez, aposte no planejamento a longo prazo. Com planejamento, é possível que um retorno mais tímido, por ser perene, compense bastante. Por exemplo, nesse momento de alta de juros conseguimos encontrar hoje em dia investimentos pré-fixados com retornos na casa de 12% ao ano, e de crédito privado em torno de 180% do CDI, que são bons retornos dentro de alguns anos, optar pela renda variável também é um bom passo, desde que tenha consciência do longo prazo para esta carteira.
Em planejamento financeiro, trabalhamos com horizontes de curto, médio e longo prazo. Neste último, o período é pelo menos 2 anos, intervalo em que muita coisa pode mudar. Por isso, é importante ver sempre como está projetada a curva de juros futuro, para possíveis realocações.