Nos últimos anos, a indústria do entretenimento parece ter percebido que a temática dos negócios é bastante interessante de ser explorada. Suits e Billions são duas séries aclamadas pelo grande público pelas sucessivas jogadas de seus personagens principais no mundo corporativo. Além delas, Succession, da HBO, também nos traz uma discussão bastante interessante sobre as empresas familiares listadas na bolsa de valores e vários ensinamentos sobre os quais pretendo discorrer no artigo de hoje.
Para quem não assistiu, vale uma breve introdução (contém spoiler). O seriado foi criado em meados de 2018 por Jesse Armstrong e se concentra na trajetória da família Roy, que possui um dos maiores conglomerados de mídia do mundo.
O patriarca, Logan Roy, é um empresário implacável que se encontra em uma encruzilhada bastante comum a donos de empresas com perfil familiar, a da sucessão.
O personagem serve como exemplo de como não gerenciar a sucessão em uma empresa familiar, fora os problemas na gestão do negócio.
O primeiro problema é a falta de um planejamento claro para a questão sucessória. Para começar, a idade avançada e a desorganização já revelam um problema estrutural. De modo geral, a falta de prioridade nessa deliberação acaba por causar incerteza tanto na família quanto na empresa.
O segundo ponto está na relação disfuncional da família e na concentração de poder do patriarca. Há relutância da parte de Logan em passar as rédeas do negócio para os filhos, que não foram preparados para lidar com o negócio e ainda competem entre si com o incentivo do pai, o que é péssimo para a empresa.
Por óbvio, tanta desorganização significa falta de governança. A série deixa clara a importância de regras e diretrizes para a administração dos negócios, mesmo que esse tenha herdeiros e sucessores. Um planejamento adequado deixa claro qual é o papel de cada um dos envolvidos.
Ao não adotarem regras de gestão, os riscos para o futuro da companhia aumentam. Os próprios personagens assumem riscos importantes sem avaliar as consequências que a empresa pode sofrer.
Além disso, outro ponto que vale ser enfatizado é a questão do capital humano. O seriado mostra que o valor e as falhas das pessoas podem ser fatais e que, por isso, construir e manter a equipe certa pode fazer toda a diferença nos resultados.
Do lado do investidor, a dica é, justamente, observar os tópicos descritos acima na análise de uma empresa. Mesmo listados em bolsa e sob o escrutínio de órgãos como a CVM, alguns negócios não seguem as normas da forma correta.
Portanto, ao investir, especialmente em companhias familiares, é preciso observar a dinâmica dos integrantes do Conselho e compreender se existem regras de governança.
Também é preciso observar a dinâmica do negócio como um todo. As inovações são comuns ou os processos costumam ser lentos? Ou seja, quais foram as últimas novidades anunciadas e quais os planos para o futuro?
Esta companhia é transparente com os investidores? Essas são apenas algumas das perguntas que devem ser respondidas ao iniciar um processo de investimento. Ainda que o gerenciamento seja bem feito, os riscos sempre vão existir.
Portanto, é preciso ter cuidado e lembrar sempre da diversificação. Como eu já disse em outro artigo, este é o único “almoço grátis” do mercado financeiro.
Para exercitar um pouco do que eu disse no artigo, selecionei uma lista com três companhias listadas na bolsa brasileira que ainda têm famílias como controladoras.
Você investiria em alguma delas?
Klabin (BVMF:KLBN11) - A família Klabin e a família Lafer possuem uma parcela importante da base acionária da empresa, com membros que fazem parte do Conselho de Administração da companhia.
Gerdau (BVMF:GGBR4) - O grupo siderúrgico Gerdau é controlado pela família Gerdau Johannpeter, com membros que também compõem o Conselho de Administração da empresa.
JBS (BVMF:JBSS3) - A empresa alimentícia, bastante conhecida, é controlada pela família Batista e, assim como nos exemplos citados acima, também tem um dos irmãos, Wesley Batista Filho, como um dos integrantes do Conselho.
Até a próxima e bons negócios!