A duras penas, enfim o Ibovespa registrou a sua primeira alta no ano, na quinta-feira, 7, puxada pelo desempenho positivo dos papéis da Vale (SA:VALE3), dos bancos e do recuo dos juros futuros. Nesta semana nada fácil, um assunto que merece a nossa atenção é o leilão de units do Inter na B3 (SA:B3SA3).
Resumindo rapidamente: em quatro pregões, os papéis do Inter (BIDI11 (SA:BIDI11)) chegaram a acumular uma queda superior a -30 por cento. O movimento foi pressionado pelo “Monstro do Leblon”, o investidor que, por meio de seu fundo Ponta Sul, ofertou 20 milhões de units do banco, com o lote inteiro a 21 reais.
Na operação, chamada pela corretora do BTG (SA:BPAC11), Flavio Goldim ainda aumentou o lote para 30 milhões de units. Os rumores são de que o volume total foi de cerca de 830 milhões de reais, com a venda de 33,8 milhões de units, a 24,54 reais.
A alavancagem do monstro
O “ Monstro do Leblon" possui uma grande participação nos papéis do Inter — até então, tinha 12 por cento do banco digital. Como o Ponta Sul opera muito alavancado (operações a termo e swap), em momentos de Bolsa em queda, o fundo pode acabar sendo obrigado a liquidar parte de suas posições.
Por conta disso, o mercado especula que o leilão de baixa na terça-feira, 4, pode ter ocorrido para cobrir uma chamada de margem (garantia financeira exigida pela B3 em operações arriscadas).
Até onde vão as ações do Inter?
As ações do Inter continuam oferecendo uma oportunidade muito melhor em comparação com o Nubank (SA:NUBR33) (SA:NUBR33). Isso porque, além de dar mais indícios de que vai continuar entregando crescimento no longo prazo por conta do seu ecossistema financeiro completo, as ações do Inter estão sendo negociadas por cerca de 1/3 do múltiplo do Nubank, a 6x receitas (contra 17x do seu concorrente direto).
Adicionalmente, entendemos que os fundamentos do Inter vêm melhorando a cada ano e podem ser impulsionados ainda mais se a sua reorganização societária for aprovada em 2022. Com isso, a empresa finalmente poderá migrar suas ações para a Bolsa de Valores americana.
Em nossa avaliação, com as quedas recentes, os papéis do Inter negociam com um alto desconto em relação ao seu principal concorrente, o Nubank, e outros bancos digitais.
Programa de recompra
Na segunda-feira, 3, o Inter anunciou a abertura de seu programa de recompra de até 4 milhões de reais de ações ordinárias (ON) e até 8 milhões de reais de ações preferenciais (PN). Para o nosso analista, não é muito comum empresas de crescimento como o Inter fazerem recompra de ações.
Contudo, vale ressaltar que o programa aprovado é relativamente pequeno (0,3 por cento das ações ON e 0,6 por cento das ações PN) e se justifica tanto pela perspectiva de geração de valor para o acionista quanto pela sinalização de que a empresa entende que o mercado está pagando um preço muito abaixo do real valor que ela possui no longo prazo.
Não jogue a toalha
Como na saga “O mochileiro das galáxias”, escrito por Douglas Adams, “Don't Panic” (não entre em pânico). Na nossa análise, o programa de recompra não representa motivos que possam impactar as ações do Inter e que justifiquem as quedas dos últimos pregões.
Por fim, destacamos o cenário desfavorável para as empresas de tecnologia, principalmente com a alta dos juros. Afinal, grande parte dos valores dessas companhias está nos lucros futuros, e uma elevação na taxa de desconto dos valuations faz com que o ajuste no “valor justo” delas seja maior.
Mas isso pode ter um grande impacto nos fundamentos da empresa? Acreditamos que não.
Essas mudanças na taxa de desconto interferem somente nas premissas dos analistas, e não nos fundamentos que o Inter possui ou nas nossas expectativas com relação à companhia no longo prazo. Mesmo que a alta dos juros possa influenciar de alguma forma suas receitas, a empresa possui um ecossistema completo e diversificado que torna o Inter menos dependente de apenas uma fonte.
Continuamos confiantes com a nossa tese de investimentos e vemos oportunidade para as ações de BIDI11.