As stablecoins têm se mostrado ferramentas indispensáveis não apenas no mercado de criptomoedas e no setor de Finanças Descentralizadas (DeFi), mas também em economias fragilizadas com suas moedas fiduciárias.
Em países afetados por alta inflação e desvalorização constante da moeda local, como a Argentina, onde a inflação ultrapassou os 40% anuais desde 2008, as stablecoins oferecem uma solução estável e acessível. Antes da sua existência, os cidadãos dependiam de mercados secundários e informais para acessar o dólar, enfrentando riscos de fraudes e falsificação.
Com o surgimento das stablecoins, há uma forma de diminuir estas dificuldades.
Elas oferecem uma alternativa digital que preserva a riqueza frente à desvalorização, facilitam transações cotidianas sem a instabilidade do câmbio, e proporcionam acesso a mercados globais.
Além disso, as stablecoins são fáceis de custodiar, mais seguras e acessíveis a partir de redes de pagamento locais, tornando-se uma alternativa poderosa para indivíduos e empresas em economias em crise.
O que são Stablecoins?
Uma stablecoin é uma criptomoeda cujo valor é lastreado em outros ativos, como moedas fiduciárias, commodities ou outras criptomoedas, com o objetivo de manter estabilidade ou valor fixado.
Existem quatro tipos principais de Stablecoins:
- Lastreadas em moeda fiduciária (ou equivalentes monetários): garantidas por dinheiro ou ativos líquidos, como dólares ou títulos do Tesouro. Ex.: Tether (USDT), USDC.
- Lastreadas em criptomoedas: garantidas por outras criptomoedas, utilizando sobrecolateralização para estabilidade. Ex.: DAI.
- Lastreadas em commodities: garantidas por commodities como ouro. Ex.: PAXG.
- Algorítmicas: mantêm valor por meio de algoritmos que ajustam a oferta de tokens. Ex.: Luna (Terra USD).
OBS: Uma stablecoin pode ser uma combinação desses tipos supracitados.
Stablecoins não possuem sua própria blockchain e podem ser usadas em outras redes, como Ethereum e Solana. Além disso, não devem ser confundidas com Moedas Digitais de Bancos Centrais (CBDCs), que são emitidas por governos via bancos centrais.
Características financeiras transformadoras
Dito isso, as stablecoins podem ser algo que não só transformam a vida dos indivíduos e dos agentes econômicos de forma geral, mas como uma questão de vida ou morte.
Elas oferecem vários meios para ajudar as questões financeiras destes agentes econômicos. Abaixo, alguns destes:
- Preservação de Valor: Em países com inflação alta, a compra de stablecoins permite que indivíduos protejam suas economias contra a depreciação da moeda local fiduciária. Ao converter seu patrimônio em uma stablecoin atrelada a uma moeda mais estável, os indivíduos mantêm seu poder de compra de forma mais eficiente – o que pode ser essencial para sobrevivência e liberdade.
- Facilidade de Acesso: Diferente de contas bancárias estrangeiras, cuja abertura pode ser burocrática ou limitada indivíduos com alta renda, as stablecoins podem ser adquiridas diretamente por meio de exchanges de criptomoedas, centralizadas ou descentralizadas, democratizando o acesso a uma moeda estável.
- Baixos Custos de Transação: Stablecoins permitem a realização de transações financeiras, tanto locais quanto internacionais, com custos significativamente menores em comparação aos serviços tradicionais de intermediação financeira. Isso é particularmente relevante em economias onde as transferências bancárias e remessas são caras e ineficientes.
- Proteção Contra Controles de Capitais: Em algumas economias em crise, os governos impõem controles de capital para restringir o fluxo de moedas estrangeiras; seja com a ideia de estabilizar a taxa de câmbio, seja para o controle ditatorial direto. As stablecoins oferecem uma maneira de sobreviver a essas restrições.
- Inclusão Financeira: Em economias onde uma parcela significativa da população não tem acesso a serviços bancários formais, pelos mais diversos motivos, as stablecoins oferecem uma maneira de acessar o sistema financeiro global sem a necessidade de intermediação financeira formal – o que é dificultado para muitos. Com o uso de smartphones e carteiras digitais e o uso de internet, os cidadãos podem armazenar e transacionar stablecoins sem fronteiras.
Exemplos do uso de stablecoins como soluções financeiras em meio a crises globais
Em países como Venezuela e Zimbábue, a hiperinflação destruiu o valor das moedas locais, tornando-as praticamente inúteis.
O bolívar venezuelano, por exemplo, enfrentou uma hiperinflação superior a 1.000.000% em 2018, agravando a crise econômica do país e causando uma desvalorização drástica da moeda.
Da mesma forma, o Zimbábue passou por um dos piores casos de hiperinflação da história, atingindo a marca de 89,7 sextilhões por cento ao ano (89.700.000.000.000.000.000.000% ao ano) em novembro de 2008, levando à extinção do dólar zimbabuano.
Nesses contextos, as stablecoins, atreladas a ativos como o dólar americano, surgem como uma alternativa essencial, garantindo um valor estável e protegendo as pessoas contra a desvalorização absurda de suas moedas locais.
Ainda, durante crises, como a pandemia de COVID-19, as stablecoins também se mostraram úteis para a entrega de ajuda internacional. Um exemplo notável ocorreu quando o governo dos EUA, em parceria com a Stellar Development Foundation e a Circle, distribuiu ajuda humanitária na Venezuela através da stablecoin USD Coin.
Nesse contexto de colapso econômico, a ajuda foi entregue diretamente nas carteiras digitais de trabalhadores da saúde, permitindo que convertessem o USDC em moeda local ou outros ativos, ou ainda utilizassem diretamente para adquirir bens e serviços.
Outro exemplo foi a captação e distribuição via stablecoins e outras criptomoedas para ajuda humanitária à Ucrânia na Guerra Russo-Ucraniâna que iniciou em 2022.
Esses casos evidenciam o potencial das stablecoins em fornecer alívio financeiro e humanitário em regiões com moedas problemáticas e/ou acesso limitado aos serviços bancários tradicionais.
Uma alternativa para a proteção financeira
As stablecoins se consolidaram como um produto financeiro especial em economias marcadas por alta desvalorização de suas moedas locais, ocasionadas por emissão desenfreada ou controle abusivo, e em economias com problemas derivados de fatores externos, como guerra ou crises de saúde.
Exemplos como Venezuela e Zimbábue, que enfrentaram cenários de hiperinflação devastadora, ilustram o potencial libertador desse tipo de criptomoedas. Elas oferecem uma forma estável de preservação de valor ao facilitar a utilização de moedas estáveis (como stablecoins lastreadas em dólar americano), superando as limitações financeiras e protegendo os agentes econômicos contra choques extremos em suas moedas fiduciárias.
As stablecoins também mostraram seu valor em situações de crise humanitária, como no caso da Venezuela durante a pandemia de COVID-19 e na Ucrânia durante a guerra com a Rússia.
Ao possibilitar a distribuição direta de auxílio financeiro vital, essas criptomoedas demonstraram seu potencial para oferecer soluções rápidas e eficazes em momentos de instabilidade, provando ser uma alternativa viável e necessária para indivíduos, e agentes econômicos de forma geral, em dificuldades econômicas.