De tempos em tempos vemos manifestar manias financeiras, tais como investimentos concentrados em determinados setores ou em determinados ativos específicos. Isso aconteceu diversas vezes na história dos mercados financeiros, desde a famosa crise das Tulipas, passando pela crise suprime e pode ser percebida pela atual mania dos criptoativos. A sequência clássica, mania, pânicos e quebras, que aparecem de forma recorrente na história, são oriundas dos clássicos problemas informacionais presentes no mercado financeiro.
Em teoria, se não houvessem falhas de informação, os mercados seriam eficientes. Portanto, eficiência é uma questão relevante para economia e finanças. Segundo o clássico artigo de Eugene Fama, publicado no Journal of Finance em 1970, o mercado é eficiente quando permite a alocação de recursos da economia. Para tanto, segundo a Hipótese do Mercado Eficiente, os preços dos ativos financeiros já levam em consideração todas as informações disponíveis ao alcance de todos os que atuam no mercado.
Embora existam vários testes empíricos para avaliar a eficiência do mercado, sem dúvida, os mercados financeiros possuem problemas informacionais que impendem uma perfeita alocação de recursos na economia. Dentre os problemas informacionais, os mais reconhecidos são a assimetria de informação e as falhas de coordenação, que, em tese, estão associados entre si.
Quando a informação disponível na economia é assimétrica, ou seja, quando alguns agentes econômicos tem melhor informação que outros, a coordenação entre oferta e demanda de produtos, de serviços ou de ativos fica prejudicada, ou seja, não é eficiente.
Portanto, a disponibilidade de informação tem um grande efeito no sistema financeiro. Se a informação estivesse igualmente disponível, ele tenderia a ser mais eficiente e, assim, alocar melhor os recursos. Mas como avaliar a alocação eficiente? Uma das possíveis maneiras é avaliar o comportamento do spread entre o preço de comprar e o de venda de um ativo qualquer. Outra é avaliar o spread de crédito, pois ele é uma boa medida de eficiência do mercado de crédito.
Um mercado financeiro eficiente desempenha a intermediação financeira de forma contínua, facilitando uma alocação de recursos econômicos. O spread representa a diferença entre a taxa de juros paga aos depositantes em relação à taxa de juros cobrada dos devedores. Portanto é esperado que quanto maior for o spread de crédito, menos eficiente é o processo de intermediação realizado pelos bancos.
De uma maneira geral, o spread de crédito está associado à margem cobrada pelos bancos pelo serviço de intermediação financeira. O risco de inadimplência é um dos fatores principais do comportamento do spread de crédito. Portanto, a falta de clareza quanto à qualidade do crédito faz com que os bancos exijam taxas de juros mais altas, de modo que estas sejam superior à taxa de depósito para compensar potenciais perdas, impactando positivamente o spread de crédito.
Em artigo que publiquei na revista “North American Journal of Economics and Finance”, com Bruno Tiberto e Paloma Correa, avaliamos o efeito da transparência dos Bancos Centrais (BCs) de 45 países (34 emergentes e 11 desenvolvidos) sobre o spread de crédito. Os resultados do estudo indicam que a transparência do banco central tem efeito na redução do spread de crédito. Este resultado pode ser explicado pela mitigação da assimetria de informações no mercado de crédito produzida pela maior transparência dos BCs.
Os achados deste estudo sugerem também que o efeito da transparência do banco central sobre o spread nos países emergentes é mais intenso do que em países desenvolvidos. Esse resultado pode ser explicado pelo fato de que nos países menos desenvolvidos há uma menor oferta de informações de crédito, o que torna o efeito da transferência nesses países mais relevante.
Com base nos achados do artigo citado (Does transparency of central banks communication affect credit market? Empirical evidence for advanced and emerging markets) é possível perceber que o reconhecimento do problema da assimetria de informação é o principal motivo que levou os bancos centrais a atribuir grande importância à política de comunicação como instrumento de política econômica.
A partir da comunicação, o banco central pode reduzir a assimetria de informação presente nos mercados financeiros e, assim, melhorar a previsibilidade dos agentes econômicos no seu quadro de políticas monetária e econômica. Para atingir esse propósito, a comunicação precisa ser transparente sobre os objetivos a serem alcançados, de modo que uma falta de transparência ou falha na comunicação pode comprometer a eficácia das políticas.
Assim: (i) a transparência é uma ferramenta que permite a responsabilização e salvaguarda da legitimidade democrática dos bancos centrais independentes, uma vez que aos participantes de mercado podem avaliar se as ações dos policymakers estão condizentes com seu mandato; (ii) a transparência proporciona que o público em geral ajuste sua expectativa, diminuindo a incerteza e melhorando a eficiência das política monetária e macroprudencial; (iii) a transparência também impacta em uma menor volatilidade dos preços dos ativos, uma vez que a transparência permite que os participantes do mercado antecipem as ações a serem tomadas pelo banco central e (iv) a transparência também está relacionada com a credibilidade e reputação dos bancos centrais.
Mas será que apenas os bancos centrais devem ser transparentes? Não. A sociedade tem muito a ganhar com a transparência das empresas, bancos e pessoas. No meu próximo artigo pretendo ampliar esse debate para incluir o efeito da transparência nas políticas socioambientais.