Os valores domésticos da soja e derivados seguiram em alta ao longo de setembro, operando nas máximas nominais e se aproximando dos recordes reais. Os preços foram impulsionados pela valorização externa (devido à redução na produção nos Estados Unidos), pela elevação dos prêmios de exportação (que reflete o baixo excedente interno) e pelas firmes demandas doméstica e internacional. O ritmo de processamento acelerado nos últimos meses reduziu rapidamente os estoques domésticos de soja e derivados, mesmo em um ano de recorde de produção. Além disso, as estimativas são de queda na relação mundial estoque/consumo final de soja em grão na temporada 2020/21, que pode ser a menor das últimas cinco safras. Nesse cenário, a disputa pelo produto restante esteve acirrada. Em setembro, o Indicador ESALQ/BM&FBovespa Paranaguá (PR) teve média de R$ 141,20/saca de 60 kg, alta de 9,8% em relação à do mês anterior e de expressivos 63,2% frente à de setembro/19. Trata-se, também, da maior média mensal desde setembro/12, quando atingiu recorde real, de R$ 144,75/sc (os valores foram deflacionados pelo IGPDI de agosto/2020). Quanto ao Indicador CEPEA/ESALQ Paraná, o avanço mensal foi de 11,6% e o anual, de 70%, com a média de setembro a R$ 136,72/sc, a maior, em termos reais, desde 2012. Entre as médias de agosto e setembro, nas regiões acompanhadas pelo Cepea, as altas foram de 12,7% no balcão e de 12,3% no disponível – em um ano, as respectivas elevações foram de 68,8% de 72,1%.
FARELO DE SOJA – A alta do grão segue desafiando as indústrias brasileiras. O lado bom é que esses demandantes demostraram conseguir repassar a valorização do grão aos derivados, diante da firme procura por farelo e óleo de soja. Avicultores e suinocultores procuram mudar a composição das rações, no intuito de reduzir o custo, mas muitos relatam não ter sucesso. Isso porque grande parte das indústrias de etanol indica que a produção de DDG (grãos secos por destilação, na sigla em inglês), que é uma opção na substituição do farelo de soja, já está praticamente vendida até dezembro deste ano. Na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, os preços de farelo de soja subiram 11,5% entre agosto/20 e setembro/20 e 66% entre setembro/19 e setembro/20. Nas regiões de Campinas (SP), Mogiana (SP), Ijuí (RS), Passo Fundo (RS), Rio Verde (GO), Triângulo Mineiro (MG), Ponta Grossa (PR) e no norte do Paraná, os valores do farelo são os maiores, em termos reais, desde setembro/12.
ÓLEO DE SOJA – No Brasil, as indústrias alimentícias relatam não conseguir competir com as de biodiesel nas aquisições do óleo. Este coproduto esteve ofertado acima dos R$ 7.000/tonelada em setembro, cenário não visto desde 2002. Na cidade de São Paulo, a média dos preços do óleo de soja (com 12% de ICMS) em setembro foi de R$ 6.348,30/tonelada, avanços de 18,4% no mês e de 74,5% em um ano, em termos reais.
SAFRA 2020/21 – O semeio da soja foi liberado em algumas regiões brasileiras, como Mato Grosso, Minas Gerais, São Paulo e Paraná. Porém, a maior parte dos produtores esteve cautelosa, aguardando chuvas para avançar com os trabalhos de campo. Agentes aproveitaram para efetivar contratos antecipados. Dados apontam que, até o final de setembro, cerca de 60% da oferta esperada para a temporada 2020/21 já havia sido comercializada no Brasil. Certamente a venda antecipada será um suporte para preços no Brasil no médio prazo, deixando pouco espaço para quedas bruscas, mesmo com possível safra recorde.
FRONT EXTERNO – Os futuros negociados na CME Group (Bolsa de Chicago) subiram em setembro, devido às expectativas de maior demanda da China e, consequentemente, à redução no estoque norteamericano. Assim, os preços futuros de soja e derivados voltaram a operar nos patamares praticados antes da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China. O contrato de primeiro vencimento da soja subiu expressivos 10,4% sobre agosto/20 e 13,8% sobre setembro/19, com média de US$ 9,9830/bushel (US$ 22,01/sc de 60 kg) em setembro. Para o óleo de soja, a valorização foi de 5,6% em setembro e de 15,6% no ano, com média a US$ 0,3357/lp (US$ 740,04/t), a maior desde nov/17. Em relação ao farelo de soja, os preços avançaram 11,1% no mês e 10,3% no ano, a US$ 322,38/tonelada curta (US$ 355,36/t). A valorização externa foi limitada pelo clima favorável aos trabalhos de campo. Dados do relatório de acompanhamento de safras dos USDA, divulgado dia 05 de outubro, indica que 38% da área com soja já havia sido colhida, acima dos 12% colhidos há um ano.