A firme demanda externa e a valorização do dólar frente ao Real vinham impulsionando os valores do complexo soja no Brasil desde o início do ano. Esse cenário inviabilizava que indústrias trabalhassem com estoques longos da oleaginosa, fazendo com que comprassem apenas “da mão para a boca”, uma vez que tinham expectativas de preços menores, já que a produção da safra 2017/18 vinha se confirmando recorde no Brasil.
Diante da menor oferta das indústrias, avicultores e suinocultores também trabalhavam com baixos estoques. Além disso, as incertezas sobre a demanda externa por aves e suínos e a margem de lucro reduzida e/ou até mesmo negativa dos agentes desses setores impedia a aquisição de grandes volumes de insumos. Avicultores também esperavam por preços mais baixos após a entrada da segunda safra de milho, que começa em julho.
No entanto, agentes foram surpreendidos pela paralisação de caminhoneiros nas duas últimas semanas de maio. Com isso, se apressaram para conseguir novos lotes, mas se depararam com a retração de produtores de grãos, com dificuldade de recebimento e, consequentemente, com a falta dos produtos. Assim, o processamento de indústrias foi interrompido na última semana de maio. O abate de boi, aves e suínos também foi paralisado, mas, neste caso, a falta de abaste cimento resulta em perda de produção. Nesta linha, agentes deste segmento apresentaram urgência nas aquisições de insumos.
Este cenário resultou em aumento nos custos, pois agentes que conseguiram receber lotes na madrugada ou de cooperativas vizinhas pagaram valores significativamente mais elevados. As fábricas de ração indicavam não ter mais todos os insumos de proteína animal e também não conseguiam transporte para o recebimento. Houve, inclusive, escolta de transporte de grãos para empresas de aves.
No segmento de exportação, também houve preocupação. Embora várias tradings tivessem declarado que havia possibilidade de não conseguirem cumprir os contratos devido à greve, com o retorno de algumas transportadoras, a possibilidade de cumprir os compromissos é maior.
No dia 30, a greve perdeu força, mas ficaram incertezas quanto aos valores a serem comercializados nas semanas e meses posteriores. A paridade de exportação indicava preços acima de R$ 90,00/sc de 60 kg para junho e quase R$ 95,00/sc para setembro, com base no dólar negociado na B³, de R$ 3,74 e R$ 3,78, referente aos respectivos contratos. Para março de 2019, a paridade de exportação indicava preços em cerca de R$ 91,00/sc de 60 kg; baseados no dólar futuro de mar/19, a R$ 3,83, da B³.
Apesar desse problema com os transportes, o Brasil embarcou 12,35 milhões de toneladas de soja em grão ao exterior no mês, segundo dados da Secex, volume 20,4% e 12,7% superior ao de abril e a maio/17, respectivamente. O preço médio das vendas de soja em maio, de R$ 88,30/sc de 60 kg, foi o maior desde janeiro/16, 7,7% superior ao de abril e 23,7% maior que o obtido em maio/17, considerando-se o dólar de R$ 3,637 na média de maio.
Quanto aos derivados, as exportações de farelo e de soja totalizaram 1,65 milhão de toneladas em maio, maior volume embarcado desde maio/16. Esta quantidade é 6,5% superior à de abril e, 1,4% maior que a de maio de 2017. O valor médio das vendas externas foi o maior histórico, a R$ 1.562,23/tonelada em maio, este valor é 15,9% maior que o de abril e 39,6% acima se comparado ao mesmo período do ano passado.
Para o óleo de soja o volume exportado foi 24,7% inferior ao de abril, mas 10% superior se comparado a maio/17, totalizando 123,88 mil toneladas, ainda conforme a Secex. O valor médio obtido com as vendas externas do óleo foi 5,99% superior ao de abril e 14,56% maior que o de maio/17, com média de R$ 2.686,16/tonelada, a maior desde fevereiro/16.
Na última semana de maio, praticamente não houve liquidez para o complexo soja. No acumulado do mês, os valores do grão e do farelo de soja subiram pelo quarto mês consecutivo. O Indicador ESALQ/BM&FBovespa da soja Paranaguá (PR) subiu 0,7% entre abril e maio, a R$ 86,12/saca de 60 kg no mês passado. No mesmo comparativo, o Indicador CEPEA/ESALQ Paraná registrou alta de 0,9%, a R$ 80,32/sc de 60 kg na média de maio.
Na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, as cotações da oleaginosa subiram 1,9% no mercado de balcão (preço pago ao produtor) e 2,1% no de lotes (negociações entre empresas) entre abril e maio. O dólar se valorizou expressivos 6,7% sobre o Real na comparação com os últimos dois meses, a R$ 3,6370 na média de maio, a maior desde março/16.
Quanto aos derivados, os preços do farelo de soja subiram expressivos 7,2% em maio na média das regiões acompanhadas pelo Cepea. Para o óleo de soja na cidade de São Paulo (com 12% de ICMS), a elevação foi de 0,7% no mesmo período, a R$ 2.730,93/tonelada na média do mês passado.
O movimento de alta foi limitado pela queda nos contratos futuros dos Estados Unidos, o que se deve às incertezas quanto à demanda chinesa. Além disso, produtores norte-americanos estiveram atentos aos trabalhos de campo, que seguiam em bom ritmo, porém com baixa umidade do solo.
Na CME Group, o primeiro vencimento da soja (Jul/18) caiu 1,7% entre abril e maio, a US$ 10,2017/bushel (US$ 22,49/sc de 60 kg) em maio. No mesmo comparativo, o contrato de mesmo vencimento do óleo de soja cedeu 1,1%, a US$ 0,31/lp (US$ 683,44/t). Já os futuros de farelo de soja subiram 1% entre os dois últimos meses, a US$ 384,50/tonelada curta (US$ 423,84/t).