Atentos ao menor excedente interno, sojicultores estiveram retraídos para a venda do grão remanescente da safra 2017/18 e ainda mais cautelosos nas comercializações da temporada 2018/19. Essa retração vendedora foi intensificada após a divulgação da nova tabela de frete mínimo pela ANTT (Agência Nacional de Transporte Terrestre) no dia 5 – houve reajuste médio de 5%, depois da alta de 13% no preço do óleo diesel anunciada no final de agosto.
Segundo colaboradores do Cepea, as empresas de pequeno e médio porte têm sido menos afetadas por esse cenário, enquanto as tradings multinacionais não conseguem negociar o valor do frete com as transportadoras, diante da maior fiscalização. Estas empresas de maior porte preferem não fazer novas aquisições até a entrada do novo governo, na expectativa de medidas contrárias às atuais relacionadas ao frete. Esse cenário resultou em baixa liquidez no mercado regional.
O lado bom para os vendedores é que a taxa cambial (dólar x Real) esteve elevada em setembro, quando atingiu o maior valor desde a implementação do Plano Real. Isso atraiu compradores externos para o Brasil, que exportou volume recorde no mês em relação ao mesmo período de anos anteriores. Nesse cenário, os preços domésticos seguem nos maiores patamares desde julho/16, em termos reais (IGP-DI, agosto/18).
Embora os embarques tenham caído 43,3% de agosto para setembro, o total foi de 4,6 milhões de toneladas de soja em grão, o maior volume exportado neste período. Na parcial do ano (de janeiro a setembro), o País já embarcou 69,2 milhões de toneladas, 13,1% a mais que o verificado no mesmo período de 2017, segundo a Secex. O principal comprador de soja em grão do Brasil é a China.
As vendas externas de óleo de soja também estiveram aquecidas em setembro. Embora os embarques tenham recuado 59,6% de agosto para setembro, no último mês, as exportações somaram 84,59 mil toneladas, ante apenas 10,44 mil em setembro de 2018. Na parcial do ano, os embarques de óleo de soja somam 1,20 milhão de toneladas, 21,5% a mais que no mesmo período de 2017.
Quanto ao farelo de soja, os embarques somaram 1,28 milhão de toneladas em setembro, 11,8% inferior ao total de agosto, mas 10,8% maior que em setembro/17. Na parcial do ano (de janeiro a setembro), as vendas externas somam 13,05 milhões de toneladas, 17% superior ao exportado entre janeiro e setembro de 2017, ainda conforme a Secex.
Em relação aos preços, se comparadas as médias de agosto e setembro, o Indicador ESALQ/BM&FBovespa da soja Paranaguá (PR) registrou alta de 6,2%, a R$ 95,48/saca de 60 kg. O Indicador CEPEA/ESALQ Paraná avançou 6,2%, a R$ 88,84/sc de 60 kg em setembro.
Na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, as cotações da oleaginosa subiram 4% no mercado de balcão (preço pago ao produtor) e 5,2% no de lotes (negociações entre empresas) entre agosto e setembro.
De modo geral, em setembro, agentes estiveram atentos ao clima em praticamente todo o Brasil. Para o trimestre outubro-novembrodezembro, dados do Cptec (Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos) indicam possível início do fenômeno El Niño, seguindo até março-abril-maio de 2019 – o El Niño é caracterizado por elevar o volume de chuvas no Centro-Sul do País e reduzir no Norte e Nordeste.
Quanto aos derivados, a liquidez esteve lenta, visto que compradores estão abastecidos. No caso do farelo de soja, pecuaristas, principais compradores desse derivado, trabalham com margem de lucro reduzida desde o início do ano, especialmente avicultores e suinocultores. Diante disso, parte dos agentes do setor pecuário mostrou interesse em importar o produto da Argentina.
Para o óleo de soja, com o maior processamento para o farelo neste ano, a oferta tem ficado acima da demanda. No dia 28, o “Crush Margin” calculado pelo Cepea no porto de Paranaguá estava em -US$ 6,62/tonelada para o contrato Novembro/18.
O preço do farelo de soja subiu 3,2% entre agosto e setembro na média das regiões acompanhadas pelo Cepea. O óleo de soja na cidade de São Paulo (com 12% de ICMS) se valorizou 3,1% no mesmo comparativo, a R$ 2,842,59/tonelada na média de setembro.
Nos Estados Unidos, a colheita segue aquecida. Segundo o USDA, até o dia 30 de setembro, 23% da área havia sido colhida, 3 p.p a mais frente ao mesmo período do ano passado. Em relação à qualidade do grão que ainda está na lavoura, 68% estão em condições boas e excelentes, 22%, em médias e 10%, em situação ruim.
Na CME Group (Bolsa de Chicago), entre agosto e setembro, o primeiro vencimento da soja recuou 3,2%, a US$ 8,3397/bushel (US$ 18,39/sc de 60 kg) no último mês. No mesmo comparativo, o contrato de primeiro vencimento do óleo de soja cedeu 1,1%, a US$ 0,2795/lp (US$ 616,21/t). Os futuros de farelo de soja registraram queda de 4,5% entre os dois últimos meses, a US$ 308,60/tonelada curta (US$ 340,17/t).