Diante das adversidades climáticas na América do Sul, a quebra na produção de soja vem se confirmando e gera preocupações em diferentes elos da cadeia produtiva. De um lado, sem grãos para comercialização, produtores, sobretudo no Sul do Brasil, tendem a passar por dificuldades, em alguns casos amenizadas pelos seguros. No CentroOeste e no Sudeste do Brasil, o baixo índice pluviométrico favoreceu a intensificação da colheita no decorrer de fevereiro. Apesar disso, o ritmo de comercialização foi menor, visto que a disparidade entre os valores pedidos e ofertados se ampliou, limitando a liquidez no spot. Inclusive, agentes consultados pelo Cepea indicam que, até o fim de fevereiro, o ritmo de negociações da safra 2021/22 estava inferior ao das duas últimas safras – o que, ressalta-se, é comum diante de preços elevados. De acordo com o Imea (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária), 55,23% da safra de soja foi comercializada em Mato Grosso, abaixo dos 71,76% negociados no mesmo período da safra passada e dos 60,01% na média dos últimos cinco anos. Produtores de São Paulo, Paraná e Minas Gerais relatam que, até o fim de fevereiro, a quantidade da atual safra comercializada não chegava a 40% da produção esperada. Isso se deve ao elevado volume de contratos realizados na temporada passada a preços abaixo dos praticados posteriormente no spot nacional.
Com a retração vendedora e as demandas interna e externa aquecidas, a disputa entre agentes domésticos e internacionais esteve acirrada no decorrer do mês. Esse cenário levou os prêmios de exportação e os preços domésticos a patamares recordes, em termos nominais. No spot nacional, o Indicador ESALQ/BM&FBovespa – Paranaguá (PR) subiu expressivos 8,5% entre as médias de janeiro e de fevereiro, indo para R$ 195,02/saca de 60 kg no último mês. O Indicador CEPEA/ESALQ – Paraná avançou significativos 8,7%, no mesmo comparativo, indo para R$ 191,63/sc de 60 kg na média de fevereiro. Na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, as cotações subiram 10,4% no mercado de balcão (pago ao produtor) e 8,9% no de lotes (negociações entre empresas). As cotações domésticas também foram influenciadas pela valorização externa da oleaginosa, que, por sua vez, esteve atrelada às potenciais perdas produtivas no Sul do Brasil e na Argentina, e também ao incêndio em uma importante indústria de esmagamento norteamericana. Na CME Goup, o contrato de primeiro vencimento da soja em grão avançou expressivos 13,5% entre as médias de janeiro e de fevereiro, indo para US$ 15,8855/bushel (US$ 35,02/sc de 60 kg) no último mês.
ÓLEO DE SOJA – O significativo aumento da demanda mundial por óleo de soja levou os preços do derivado a patamares recordes no Brasil e nos Estados Unidos. A redução das exportações de óleo de girassol por parte da Ucrânia (devido ao conflito com a Rússia) e a escassez de óleo de palma da Indonésia aqueceram a procura por óleo de soja. Além disso, a valorização do petróleo também aumenta o interesse por biodiesel, do qual o óleo de soja é a principal matéria-prima – a Rússia é o segundo maior exportador de petróleo do mundo, cenário que valorizou essa commodity nos Estados Unidos, resultando em aumento no preço futuro do óleo de soja. A guerra entre Rússia e Ucrânia também prejudica as exportações da região do Mar Negro, influenciando as cotações. Do lado da oferta, há incertezas quanto à disponibilidade de óleo de soja na Argentina (principal exportadora mundial de derivados da oleaginosa), devido à menor colheita do grão nesta temporada. Com isso, importadores redirecionaram as aquisições ao Brasil e aos Estados Unidos. Com isso, na CME Group (Bolsa de Chicago), o contrato de primeiro vencimento do óleo avançou expressivos 10,4% entre as médias de janeiro e de fevereiro, indo para US$ 0,6691/lp (US$ 1.475,05/tonelada) no último mês. Mesmo com a alta externa, os prêmios do óleo de soja também subiram no Brasil, dando sustentação às cotações domésticas, que registraram patamares recordes, em termos nominais. Na cidade de São Paulo, o preço do derivado (com 12% de ICMS) subiu 2,9% entre os dois últimos meses, com preço médio a R$ 8.578,12/tonelada em fevereiro.
FARELO DE SOJA – Os preços do farelo de soja também subiram em fevereiro, influenciados pela expectativa de maior demanda externa. Na CME Group, o contrato Mar/22 se valorizou 10,1% entre as médias de janeiro e de fevereiro, a US$ 447,46/tonelada curta (US$ 496,50/t) em fevereiro. As valorizações externas e dos prêmios de exportação de farelo de soja no Brasil deram suporte às cotações domésticas. Na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, os preços do farelo subiram expressivos 8% entre as médias de janeiro e de fevereiro.