A safra 2021/22 se iniciou com preocupações quanto à redução da oferta de soja no Brasil, cenário que foi confirmado. Como perdas expressivas também foram verificadas na Argentina e no Paraguai, a maior oferta de 2021 nos EUA não foi suficiente para compensar essas quedas nas produções. Com isso, os estoques mundiais se reduziram, sustentando os preços externos e internos. Na Argentina, maior fornecedora mundial de farelo, além da menor produção do grão, o governo do país, no intuito de conter a crise econômica, elevou em março as tarifas de exportação dos derivados da oleaginosa. O país vizinho também passou por greve de caminhoneiros, que prejudicou as negociações do agronegócio. Como resultado, houve expressivo aumento na demanda mundial por derivados, o que foi reforçado pela guerra da Rússia contra a Ucrânia, que levou à redução da oferta de óleo de girassol, um dos principais concorrentes do óleo de soja. Além disso, alguns países restringiram as vendas externas de óleo de palma. Já no 2º semestre, os preços se enfraqueceram, influenciados pelo acordo entre Rússia e Ucrânia para liberação de parte dos produtos em armazéns ucranianos pelo Mar Negro e pela colheita da safra 2022/23 nos EUA. Na Argentina, o governo estabeleceu um sistema especial chamado de “dólar soja”, com o objetivo de estimular produtores a liquidar parte do estoque. De fato, a liquidez cresceu naquele país, e demandantes externos reduziram o interesse pela soja do Brasil e dos EUA. Já entre outubro e novembro, a demanda externa pelo produto brasileiro esteve firme, puxada por problemas logísticos nos EUA, em decorrência do baixo nível do Rio Mississipi. No último trimestre de 2022, a comercialização no Brasil foi interrompida por bloqueios na rodovia que leva ao porto de Paranaguá (PR), que prejudicaram o transporte de cargas e resultaram em filas de navios nos portos. Além disso, produtores brasileiros voltaram as atenções à semeadura da safra 2022/23 e evitaram negociar o excedente de 2021/22. No balanço do ano, o valor médio de 2022 da soja em grão é um recorde anual, em termos reais.
MILHO: EM ANO DE SAFRA RECORDE, EXPORTAÇÃO LIMITA QUEDA DE PREÇO
Os preços do milho iniciaram o ano de 2022 em alta, impulsionados pelos estoques de passagem em volumes apertados e por preocupações relacionadas à safra verão de 2021/22 – que, de fato, teve sua produtividade prejudicada pelo clima adverso. Após o primeiro trimestre, agentes consultados pelo Cepea voltaram as atenções à segunda temporada, que teve produção recorde, o que, por sua vez, gerou pressão sobre as cotações desde então. No entanto, as quedas no Brasil foram limitadas pelos elevados valores externos do cereal, diante da oferta mundial enxuta. O conflito entre a Rússia e Ucrânia, iniciado no final de fevereiro, elevou a paridade de exportação e favoreceu os embarques brasileiros.
MANDIOCA: VALORES RENOVAM RECORDES DA SÉRIE DO CEPEA
A diminuição da área plantada e os efeitos climáticos entre 2020 e 2022 reduziram a produção de mandioca em 2022 em todos os estados do Centro-Sul. Com demanda firme e disputa pela matéria-prima, as cotações subiram ao longo de 2022, renovando os recordes da série do Cepea. A área colhida com mandioca no Brasil foi estimada em 1,2 milhão de hectares neste ano, queda de 0,6% frente à de 2021, segundo dados do IBGE. A produtividade deve recuar 0,9% na mesma comparação, para 14,8 t/hectare, o que pode diminuir a produção em 0,3%, para 1,27 milhão de toneladas. Além disso, os baixos rendimentos de amido e de produtividade em muitos períodos do ano restringiram o interesse pela colheita. A demanda pela matéria-prima, por sua vez, seguiu mais firme, uma vez que a comercialização de farinha e fécula aumentou. Nesse sentido, a disputa pela mandioca se intensificou ao longo de todo o ano, principalmente entre empresas de diferentes regiões.
RETRO 2022-OVOS: EM 2022, PREÇOS RENOVAM RECORDE REAL
As cotações dos ovos renovaram em 2022 os recordes reais da série histórica do Cepea (iniciada em 2013) em todas as praças acompanhadas pelo Centro de Pesquisas. Apesar da típica queda no início do ano, os preços se recuperaram nos meses subsequentes, inclusive atingindo, em setembro, a maior média mensal da série. Em janeiro, os preços da caixa com 30 dúzias de ovos recuaram frente a dezembro/21, devido, principalmente, à redução da demanda, movimento comum no período. Já entre os meses de março e abril, os valores subiram com força, impulsionados pela Quaresma. Em agosto, setembro e outubro, as cotações tiveram nova alta expressiva, em função do aquecimento da demanda. Nesse período (em setembro, especificamente), os preços registraram novo recorde real na série do Cepea, impulsionados, principalmente, pela redução da oferta e pelo aumento da procura. Em Bastos (SP), a maior região produtora do estado de São Paulo, o preço da caixa com 30 dúzias de ovos brancos tipo extra fechou o mês de setembro com média de R$ 154,27, a maior da série, em termos reais. Para o produto vermelho, a média mensal foi de R$ 169,76, também a mais alta da série.