A menor demanda externa e a cautela dos compradores domésticos, especialmente na primeira quinzena de agosto, pressionaram as cotações do complexo soja no Brasil. A forte desvalorização cambial (US$/R$) afastou importadores do País, acentuando o movimento baixista. O dólar registrou queda de 4,1% entre as médias de julho e agosto, a R$ 5,15 no último mês. Em agosto, o Brasil exportou o menor volume de soja desde janeiro deste ano. Segundo a Secex, 6,09 milhões de toneladas de soja saíram dos portos brasileiros, quantidade 18,83% abaixo da escoada em julho e 6,03% inferior à embarcada em agosto/21. Os Indicadores ESALQ/BM&FBovespa – Paranaguá (PR) e CEPEA/ESALQ – Paraná da oleaginosa registraram quedas de 1,9% e de 1,5% entre as médias de julho e de agosto, com respectivos fechamentos de R$ 187,18/sc e de R$ 181,86/sc de 60 kg. Na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, as baixas foram de 1,9% no mercado de balcão (pago ao produtor) e de 1,3% no de lotes (negociações entre empresas).
A queda nos preços domésticos foi limitada pela alta externa e pela retração de produtores em comercializar o remanescente da safra 2021/22 no Brasil. Além disso, a retomada nas importações, sobretudo da China, aqueceu a disputa pela soja com agentes nacionais na segunda quinzena de agosto. Vale ressaltar, entretanto, que produtores da região Sul do Brasil sinalizavam já não ter muitos volumes da oleaginosa para comercializar, devido à quebra da safra 2021/22 na região. Com isso, estiveram retraídos nas negociações do remanescente da safra, a fim de negociar no período de cultivo de soja no Brasil. Consumidores, entretanto, estiveram comprando “da mão para a boca”, diante da expectativa de safra recorde na próxima temporada – esses compradores estão fundamentados no aumento de área a ser cultivada e nas previsões de chuvas a partir da segunda quinzena de setembro. Assim, as negociações para a safra 2022/23 também estiveram em ritmo mais lento. Porém, vale observar que o preço FOB para o contrato Mar/23, com base no porto de Paranaguá (PR), é o maior desde 2012, em termos nominais, considerando-se este mesmo período para os contratos com embarque em março.
DERIVADOS – Na segunda quinzena de agosto, representantes das indústrias locais adquiriram maiores volumes da matéria-prima, já de olho na possível maior demanda externa por farelo de soja, sobretudo da China, nos meses posteriores. Os consumidores domésticos de farelo de soja retomaram o interesse de compra, mas a disparidade entre os valores de compradores e vendedores limitou a liquidez. Além disso, o calor intenso na Ásia e na Europa gerou especulações de maior demanda deste derivado para alimentação animal. E, com a crise econômica na Argentina, principal exportadora global de derivados de soja, indústrias dos Estados Unidos e o Brasil esperam ganhar mais espaço nas transações. Com isso, entre as médias de julho e de agosto, as cotações do farelo de soja subiram 0,6% na média das regiões acompanhadas pelo Cepea. Entre ago/21 e ago/22, a alta é de 12,8%. Mesmo com a desvalorização da matéria-prima e com o avanço no preço do farelo de soja, quando analisados os valores do complexo soja na região de São Paulo, o “crush margin” das indústrias caiu 3,7% entre a média de julho e a de agosto, indo para R$ 480,88/tonelada no último mês. Isso porque o preço do óleo de soja registrou significativa queda no período, pressionado pela menor demanda para biodiesel. Na cidade de São Paulo, o preço do produto (com 12% de ICMS) teve média de R$ 7.771,61/tonelada em agosto, 4,8% abaixo do registrado no mês anterior.
FRONT EXTERNO – A baixa nos preços brasileiros foi limitada pelas valorizações externas, que estiveram atreladas a preocupações com o clima sobre a safra 2022/23 no Hemisfério Norte. Segundo o relatório de acompanhamento de safras do USDA, até o dia 4 de setembro, 14% das lavouras de soja nos Estados Unidos apresentavam condições ruins ou muito ruins; 29% estavam em condições medianas e 57%, entre boas e excelentes. Com isso, na CME Group (Bolsa de Chicago), o contrato de primeiro vencimento da soja (Ago/22) avançou 1,3% entre as médias de julho e agosto, indo para US$ 15,6986 /bushel (US$ 34,61/sc de 60 kg) no último mês. O primeiro vencimento do farelo de soja subiu 3,2% entre as médias de julho e agosto, com valor médio de US$ 478,19/tonelada curta (US$ 527,11/t) em agosto. O primeiro vencimento do óleo de soja registrou expressivo avanço de 11,1% entre julho e agosto, a US$ 0,6889/lp (US$ 1.518,71/tonelada).