O período eleitoral brasileiro resultou em forte oscilação cambial em outubro. O valor médio da moeda norte-americana foi de R$ 3,761 no mês, 8,4% inferior ao de setembro e o menor desde maio deste ano. Esse cenário pressionou a paridade de exportação e, consequentemente, reduziu o ritmo de negócios externos envolvendo a soja em grão e também as vendas antecipadas da safra que está sendo semeada (2018/19). Vale ressaltar, no entanto, que a comercialização da temporada 2018/19 já estava adiantada e o interesse de venda do produto remanescente da safra 2017/18 é baixo.
Compradores também não estiveram agressivos nas aquisições, visto que esperam por menores preços, fundamentados no clima favorável à cultura de soja nos Estados Unidos, no Brasil e na Argentina. Além disso, muitos estão incertos quanto às importações chinesas por soja em grão e derivados – a peste suína no país asiático deve diminuir a produção do animal e a nova dieta para a nutrição de aves e suínos, aprovada pela Associação da Indústria de Alimentos da China, pode limitar a demanda por soja.
No entanto, vendedores ainda esperam exportar volume significativo à China na temporada 2018/19, uma vez que a crise comercial entre os Estados Unidos e o país asiático deve continuar direcionando as compras à América do Sul. Vale ressaltar que a China pode importar 94 milhões de toneladas na temporada, enquanto o recorde de exportação do Brasil para todos os países é de 76 milhões de toneladas (estimado pelo USDA na safra 2017/18). Assim, mesmo que os chineses diminuam as importações globais e que os Estados Unidos não forneçam ou reduzam com mais força as vendas ao grão ao país asiático, o Brasil e a Argentina não conseguem suprir toda a demanda chinesa. Diante disso, produtores brasileiros se recusam a fixar novos lotes nos atuais preços.
É importante sinalizar que, mesmo diante das recentes quedas, os atuais preços da oleaginosa são 15% superiores aos negociados no mesmo período de 2017, em termos reais (valores deflacionados pelo IGP-DI de setembro/18). A moeda norte-americana também está 17,7% acima da negociada em outubro/17.
Em relação ao cultivo de soja, segue com rápido avanço no Brasil, beneficiado pelo clima. Apenas no Sul e no Nordeste do País que as chuvas impediram o avanço dos trabalhos, mas este cenário ainda não preocupa, uma vez que o cultivo da oleaginosa é mais tardio nessas regiões.
Nesse cenário, se comparadas as médias de setembro e outubro, o Indicador ESALQ/BM&FBovespa da soja Paranaguá (PR) registrou queda de 5,2%, com média de R$ 90,53/saca de 60 kg. O Indicador CEPEA/ESALQ Paraná recuou 5,3%, a R$ 84,18/sc de 60 kg em outubro.
Na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, as cotações da oleaginosa caíram 4,1% no mercado de balcão (preço pago ao produtor) e 3,5% no de lotes (negociações entre empresas) entre setembro e outubro.
Mesmo com as recentes quedas, é importante analisar que, apesar de o segundo semestre não ser janela de exportação brasileira de soja, os embarques estiveram a todo vapor em outubro. No mês, o Brasil enviou ao mercado internacional 5,35 milhões de toneladas de soja em grão, segundo a Secex, o maior volume já exportado considerando-se o mês de outubro de anos anteriores. Embora esses embarques sejam resultado de negociações feitas nos meses anteriores, a movimentação nos portos, especialmente de Paranaguá (PR), influenciou novas comercializações para completar cargas, ainda que em volumes pequenos.
A boa movimentação neste período se deve à firme demanda da China, resultado da crise comercial entre os Estados Unidos e o país asiático. No segundo semestre, compradores chineses costumavam adquirir o produto dos Estados Unidos, mas o percentual vendido do Brasil para a China segue crescente. Os embarques brasileiros à China de julho a outubro deste ano superaram em 52,87% os do mesmo período de 2017. Além disso, as exportações ao país asiático na parcial deste ano (até outubro) já são 55,86% superiores ao vendido em todo o ano de 2017.
Em relação ao farelo de soja, as recentes chuvas favoreceram as pastagens e o setor de pecuária de corte reduziu a demanda por ração animal. Suinocultores e avicultores apontam, também, que estão abastecidos para o médio e longo prazos. Entre setembro e outubro, os preços do derivado recuaram 4,6% na média das regiões acompanhadas pelo Cepea.
A firme procura por óleo de soja para a produção de biodiesel reduziu a oferta do derivado no mercado doméstico. Com isso, na cidade de São Paulo (com 12% de ICMS), houve valorização de 2,6% no mesmo comparativo, a R$ 2.917,53/tonelada na média de outubro.
Na CME Group (Bolsa de Chicago), entre setembro e outubro, o primeiro vencimento da soja (Nov/18) avançou 3,1%, a US$ 8,5961/bushel (US$ 18,95/sc de 60 kg) em outubro. No mesmo comparativo, o primeiro vencimento (Dez/18) do óleo de soja subiu 3,5%, a US$ 0,2892/lp (US$ 637,50/t). O contrato de mesmo vencimento de farelo de soja avançou 1,2% entre os dois últimos meses, a US$ 312,23/tonelada curta (US$ 344,18/t).