A valorização do dólar, o baixo excedente da soja brasileira e a expectativa de maiores demandas externa e interna impulsionaram os preços da oleaginosa brasileira em agosto. O dólar se valorizou expressivos 6,5%, com média mensal de R$ 4,0238, a terceira maior desde o início do Plano Real. Mesmo com os preços elevados, as negociações foram pontuais no spot, visto que produtores brasileiros preferiram guardar o remanescente da safra 2018/19 para comercializar nos próximos meses, à espera de valores maiores no período inicial de semeio de soja no Brasil, já que a relação estoque/consumo final nacional nesta temporada (2018/19) deve ser a menor das últimas três safras, conforme dados do USDA. Além disso, esses agentes temem que o fenômeno climático La Niña ocorra na próxima safra 2019/20, o que pode levar a um volume de chuvas acima da média, principalmente no Norte e Nordeste, e a déficit pluviométrico no Sul do Brasil, com impactos climáticos opostos ao “El Niño”, registrado na última safra. Para a produção dessa safra, as aquisições de insumos – especialmente de fertilizantes – estão significativamente maiores. Mesmo com a retração por parte de vendedores no spot, para entrega em 2020, alguns agentes estiveram mais ativos, especialmente na segunda quinzena de agosto, quando a moeda norte-americana ficou mais valorizada. Os pedidos de vendas para entrega em setembro e outubro/19 chegaram a R$ 90,00/sc, mas os compradores ofertavam cerca de 3 Reais/sc abaixo disso.
Nesse cenário, se comparadas as médias de julho e agosto, o Indicador ESALQ/BM&FBovespa da soja Paranaguá (PR) teve expressivo aumento de 8%, e o Indicador CEPEA/ESALQ Paraná avançou 6,7%, com médias de R$ 85,08/sc de 60 kg e R$ 78,74/sc de 60 kg em agosto. Ambos os Indicadores registraram, em agosto, a maior média deste ano, em termos reais (IGP-DI de jul/19). Na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, as cotações da oleaginosa avançaram expressivos 6,9% no mercado de balcão (preço pago ao produtor) e 7% no de lotes (negociações entre empresas) entre julho e agosto. Por outro lado, a alta foi limitada pela demanda menos agressiva por parte das indústrias, visto que algumas relataram ter estoques suficientes para processamento até outubro. Uma parte das fábricas, inclusive, já parou para manutenção no decorrer de agosto, enquanto outras devem fazer esse processo no início de setembro. Quanto ao óleo de soja, os valores foram impulsionados também pela maior demanda interna, especialmente para a produção de biodiesel. Isso porque a mistura de biodiesel ao óleo diesel deve passar de 10% (B10) para 11% (B11) a partir de 1º de setembro de 2019, segundo medida aprovada pela ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural, e Biocombustíveis) no início de agosto. Esse cenário já elevou a liquidez de óleo de soja, dado que esse produto corresponde a 70% das matériasprimas utilizadas para a produção de biodiesel.
Com isso, na cidade de São Paulo (com 12% de ICMS), o preço do óleo de soja teve expressivo avanço de 7,7% entre julho e agosto, com média de R$ 2.934,20/tonelada no último mês. Diante da firme demanda por óleo de soja, representantes de indústrias temiam quanto ao escoamento do farelo de soja. Entretanto, a firme procura por farelo pelos setores da avicultura e suinocultura sustentou os valores. Entre julho e agosto, os preços do farelo de soja avançaram 1,3% na média das regiões acompanhadas pelo Cepea. Nesta linha, o USDA indicou que o consumo de óleo e farelo de soja no Brasil deve ser recorde, crescimento que se deve especialmente à maior demanda do setor industrial. Para o óleo, o consumo é estimado em 7,13 milhões de toneladas na temporada 2018/19 (de out/18 a set/19) e 7,2 milhões de toneladas na 2019/20 (de out/19 a set/20). Quanto ao farelo de soja, o consumo doméstico é previsto em 18,131 milhões de toneladas e 18,95 milhões de toneladas em 2018/19 e 2019/20. Já nos Estados Unidos, as expectativas de estoques elevados pressionaram os futuros na CME Group (Bolsa de Chicago). O contrato de primeiro vencimento da soja recuou significativos 3,3%, a US$ 8,5627/bushel (US$ 18,88/sc de 60 kg) no último mês. No mesmo comparativo, o contrato de mesmo vencimento do farelo de soja recuou 4,3% entre os dois últimos meses, a US$ 293,35/tonelada curta (US$ 323,35/t). Já para o óleo de soja, houve aumento de 1,9%, a US$ 0,2854/lp (US$ 629,15/t).