O clima desfavorável ao semeio de oleaginosa no Brasil, a significativa valorização do dólar e o aumento nos valores externos impulsionaram as cotações do complexo soja em setembro. A menor demanda internacional pelos produtos brasileiros, por outro lado, limitou o movimento altista. Produtores, especialmente do Paraná, Mato Grosso e São Paulo, primeiros estados a iniciarem os trabalhos de campo no Brasil, não conseguiram avançar com o semeio em setembro, devido à baixa umidade do solo. Esse cenário deixou receosos os agentes que fizeram contratos com entrega em janeiro de 2020 – esse tipo de comercialização ocorreu principalmente com sojicultores do oeste do Paraná. Vale lembrar que muitos sojicultores já garantiram a venda de parte da safra 2019/20 por meio de contratos a termo – deixando, inclusive, as vendas deste ano acima das observadas no mesmo período de 2018. Por isso, para este último trimestre, o ritmo de negócios deve ser menor, o que é comum para a época. Compradores, por sua vez, estiveram mais ativos, especialmente para fechar contratos a termo, visando o recebimento no primeiro trimestre de 2020. Para recebimento ainda dentro de setembro, houve demanda de lotes pequenos, apenas para completar cargas de exportação.
Já os compradores externos estiveram menos ativos, mesmo com a significativa valorização do dólar no mercado internacional. O dólar registrou em setembro o maior valor da história do plano Real, em termos nominais, a R$ 4,124, sendo 2,5% superior à média de agosto. Em setembro, o Brasil embarcou apenas 4,44 milhões de toneladas de soja em grão, o menor volume desde janeiro deste ano, 16,4% abaixo do exportado em agosto e 3,1% inferior ao escoado em setembro de 2018. Na parcial do ano, saíram dos portos brasileiros 63,82 milhões de toneladas do grão, 7,8% inferior aos 69,18 escoados em igual período de 2018. A menor demanda externa pela oleaginosa brasileira esteve atrelada ao maior interesse da China pelo produto norte-americano. Segundo o USDA, os embarques norte-americanos de soja da temporada 2019/20 estavam, até o dia 29 de setembro, 6% superiores aos do mesmo período de 2018, sendo que grande parte das vendas teve como destino a China. Esse cenário elevou os contratos futuros negociados na CME Group (Bolsa de Chicago) em setembro. O movimento altista, por outro lado, foi limitado pelos elevados estoques remanescentes da safra 2018/19 e pelo início da colheita de soja nos Estados Unidos.
PREÇOS – Se comparadas as médias de agosto e setembro, o Indicador ESALQ/BM&FBovespa da soja Paranaguá (PR) teve aumento de 1,7% e o Indicador CEPEA/ESALQ Paraná avançou 2,2%, com médias de R$ 86,50/sc de 60 kg e R$ 80,44/sc de 60 kg respectivamente. Na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, as cotações da oleaginosa avançaram 3,2% no mercado de balcão (preço pago ao produtor) e 3,3% no de lotes (negociações entre empresas) entre agosto e setembro.
DERIVADOS – Com o expressivo aumento da demanda do óleo de soja com destinação ao biodiesel, indústrias mantiveram as ofertas mais elevadas – representantes de esmagadoras sinalizavam já ter comprometido grande parte da produção de óleo de soja, até meados de outubro, com as indústrias de biodiesel. Com isso, na cidade de São Paulo (com 12% de ICMS), o preço do óleo de soja teve forte avanço de 8,2% de agosto para setembro, com média de R$ 3.173,82/tonelada no último mês. Já de farelo de soja, uma parcela de consumidores sinalizava estar abastecida pelo menos até a segunda quinzena de outubro e outra parte indicava ter estoque para consumir até meados de novembro. Ainda assim, entre agosto e setembro, os preços do farelo de soja avançaram 1,4% na média das regiões acompanhadas pelo Cepea.
As exportações de óleo de soja também foram menores em setembro, especialmente porque a oferta deste subproduto está reduzida no País. No mês, os embarques somaram 81,89 mil toneladas, 17,8% inferiores aos de agosto e 3,2% menores que o volume embarcado no mesmo período de 2018. Na parcial de 2019, as exportações somaram 922,26 mil toneladas, 23,2% inferiores às do mesmo período de 2018. Embora as exportações de farelo de soja também tenham caído 4,3% em setembro, totalizando 1,3 milhão de toneladas de farelo escoado, o volume cresceu 2,1% em relação a setembro de 2018. De janeiro a setembro, as vendas externas somam 12,44 milhões de toneladas, 4,6% inferiores às do mesmo período de 2018.