Após a safra de soja ter sido prejudicada pela estiagem no correr de dezembro, período crítico de desenvolvimento dos grãos em muitas regiões produtoras, em fevereiro foram as chuvas que interromperam os trabalhos de campo e geraram preocupações quanto à qualidade da oleaginosa. Agentes consultados pelo Cepea relataram que, caso o volume de chuva siga elevado e a luminosidade, reduzida, a qualidade dos grãos ainda na lavoura pode ser prejudicada, especialmente em regiões do Sudeste, Centro-Oeste e do Matopiba.
Diante da maior incerteza quanto à produtividade da atual temporada, sojicultores brasileiros voltaram a reduzir as vendas. O menor interesse de negociação também se deve à queda nos valores futuros na CME Group (Bolsa de Chicago), à redução nos prêmios de exportação no Brasil, à desvalorização cambial e à demanda relativamente estável.
O fato é que um bom volume da safra 2018/19 foi comercializado antecipadamente, e produtores estiveram atentos ao cumprimento de contratos e aos trabalhos de colheita. As ofertas de venda seguiram restritas para novos negócios, diante da indefinição quanto ao volume a ser colhido. Ao mesmo tempo, agentes sinalizaram a possibilidade de menor oferta que a esperada anteriormente na América do Sul e incertezas sobre a demanda da China – em 2018, a China foi responsável por 82% das vendas de grão do Brasil e, em fevereiro de 2019, o país asiático adquiriu 82,4% do total embarcado nos portos brasileiros, totalizando 5,02 milhões de toneladas, volume recorde considerando-se os meses de fevereiro de anos anteriores. Certamente, a oferta da América do Sul será maior que em 2018, quando a produção da Argentina teve reduções drásticas, devido ao clima desfavorável. Entretanto, como produtores brasileiros têm colhido, em média, volume menor que em 2018, aguardam a possibilidade de recuperação de preços.
Certamente, a oferta da América do Sul será maior que em 2018, quando a produção da Argentina teve reduções drásticas, devido ao clima desfavorável. Entretanto, como produtores brasileiros têm colhido, em média, volume menor que em 2018, aguardam a possibilidade de recuperação de preços.
Assim, essa restrição na oferta manteve firmes os preços no Brasil, ao mesmo tempo em que as cotações na Argentina cederam. Isso abriu a possibilidade de spread de preços entre esses países e há sinais de contratos de exportação serem redirecionados do Brasil para o país vizinho. Apesar de serem negócios pontuais, isso pode segurar ou mesmo pressionar os valores no Brasil. Como resultado, por enquanto, as negociações de contratos a termo com entrega a partir de maio foram interrompidas, diante da disparidade entre as ofertas de vendas e as de compra.
Se comparadas as médias de janeiro e fevereiro, os Indicadores ESALQ/BM&FBovespa da soja Paranaguá (PR) e CEPEA/ESALQ Paraná avançaram 1,1%, com médias de R$ 77,75/sc de 60 kg e R$ 72,79/sc de 60 kg no segundo mês do ano. No mesmo comparativo, o dólar se desvalorizou 0,4%, com média de R$ 3,7237 em fevereiro. Na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, as cotações da oleaginosa subiram 1,3% no mercado de balcão (preço pago ao produtor) e 0,9% no de lotes (negociações entre empresas) entre janeiro e fevereiro.
A alta nos preços do grão, no entanto, foi limitada pela baixa demanda por derivados. Alguns avicultores e suinocultores reduziram as aquisições do farelo, e fábricas de ração sinalizaram diminuição nas vendas – vale lembrar que a alta nos preços da matéria-prima reduz o poder de compra de pecuaristas.
O desafio das indústrias está em comercializar o farelo de soja, uma vez que a demanda por óleo de soja segue crescente, especialmente para a produção de biodiesel. Segundo a Abiove, o consumo doméstico de óleo de soja deve ser de 8,2 milhões de toneladas na temporada 2018/19, 7,89% a mais que na safra passada e um recorde caso se confirme. O consumo de farelo de soja é esperado em 16,2 milhões de toneladas pela Associação, 0,62% a mais que o absorvido pelo mercado interno na temporada anterior.
Entre janeiro e fevereiro, os preços do farelo de soja recuaram 3,2% na média das regiões acompanhadas pelo Cepea. Para o óleo de soja, na cidade de São Paulo (com 12% de ICMS), houve queda de 0,5% no mesmo comparativo, a R$ 2.794,22/tonelada na média de fevereiro. Quanto aos futuros, na CME Group (Bolsa de Chicago), entre janeiro e fevereiro, o primeiro vencimento (Mar/18) da soja avançou 0,2%, a US$ 9,1037/bushel (US$ 20,07/sc de 60 kg) no último mês. No mesmo comparativo, o contrato de mesmo vencimento do óleo de soja avançou 4,6%, a US$ 0,3023/lp (US$ 666,36/t). Quanto ao farelo de soja, houve queda de 1,9% entre os dois últimos meses, a US$ 306,67/tonelada curta (US$ 338,04/t).