O baixo excedente interno, o cultivo tardio no Brasil e a valorização externa elevaram os preços da soja no mercado doméstico em outubro. Ainda assim, as negociações aconteceram em ritmo lento, devido à retração dos produtores em negociar o restante da safra 2019/20. O pouco volume ofertado foi disputado por indústrias locais, que ofereceram preços acima da paridade de exportação, algo não comum de se observar. Apesar de as indústrias aceitarem pagar preços maiores por lotes de soja, não encontraram a matéria-prima, o que também resultou em ofertas menores de farelo e óleo de soja. Indústrias sinalizaram não ter estoques longos, cenário que deixou avicultores e suinocultores em alerta quanto ao consumo de farelo no primeiro bimestre de 2021, caso a colheita da safra 2020/21 atrase – isso pode acontecer em decorrência do semeio tardio.
O lado bom é que, com a isenção de impostos de importação de soja de países fora do Mercosul, algumas fábricas intensificaram a importação do grão para continuar abastecendo o mercado nacional de farelo e óleo de soja. Atento à firme demanda global por soja, o governo da Argentina informou, em 1º de outubro, redução na taxa de exportação, que passou de 33% para 30% neste último trimestre do ano. Diante do baixo excedente, a soja brasileira começou a ficar menos atrativa aos importadores nesse período de entressafra, em que a disponibilidade é baixa e os preços estão em patamares recordes. Assim, esses compradores se voltaram ao produto dos Estados Unidos, onde a colheita esteve em ritmo intenso em outubro, beneficiada pelo clima.
CAMPO – No Brasil, o semeio da soja foi intensificado a partir do final do mês, beneficiado pelas chuvas. Alguns sojicultores do sudoeste do Paraná, inclusive, já finalizaram o semeio. Produtores de Mato Grosso do Sul aproveitaram as chuvas no final de outubro para avançar com o semeio, que alcançou 30% da área total, segundo agentes consultados pelo Cepea. Em Mato Grosso, o semeio avançou com mais intensidade na região oeste; porém, as chuvas não alcançaram todas as áreas de cultivo no estado. Em Minas Gerais, São Paulo, Goiás e Rio Grande do Sul, os trabalhos de campo foram interrompidos pela baixa umidade do solo no final do mês. Os preços considerados atrativos e o baixo risco do cultivo de soja, especialmente quando comparado a outras culturas concorrentes em área, devem contribuir para um novo aumento da área com soja na temporada 2020/21 no Brasil. A primeira estimativa da Conab indicou que a área deve somar 37,88 milhões de hectares, o que pode resultar em produção de 133,67 milhões de toneladas de soja, 7,1% superior à safra passada. Nos Estados Unidos, a colheita segue para a reta final. Dados do relatório de acompanhamento de safras dos USDA, divulgado no dia 2 de novembro, apontam que 87% da área com soja já havia sido colhida até o final de outubro, acima dos 71% colhidos há um ano.
PREÇOS – O Indicador ESALQ/BM&FBovespa Paranaguá (PR) subiu expressivos 13,1% entre setembro e outubro de 2020 e 80,9% entre outubro/19 e outubro/20, com média mensal de R$ 159,64 no último mês – recorde real da série do Cepea, iniciada em mar/2006 (os valores foram deflacionados pelo IGP-DI de set/20). O Indicador CEPEA/ESALQ Paraná avançou 15,9% entre setembro e outubro/20 e significativos 91,7% entre outubro/19 e outubro/20, com média de R$ 158,41/sc de 60 kg em outubro, recorde real da série histórica. Nas regiões acompanhadas pelo Cepea, a alta foi de expressivos 14,4% no balcão e 15% no disponível de soja entre as médias de setembro e outubro. Em um ano, os aumentos foram de 88,5% no balcão e de 94,1% no lote. Quanto aos derivados, na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, os preços do farelo de soja subiram 19,2% entre setembro e outubro, e a média de outubro é superior em expressivos 93,7% em comparação a outubro/19. As regiões de Ijuí (RS), Mogiana (SP), Norte do Paraná, Oeste do Paraná, Passo Fundo (RS), Ponta Grossa (PR), Rondonópolis (MT) e Triângulo Mineiro registraram patamares recordes reais da série do Cepea, iniciada em jan/1999 para este produto.
Os preços do óleo de soja na cidade de São Paulo (com 12% de ICMS) subiram 11,7% no mês e mais que dobraram em um ano, passando de R$ 3.291,21/tonelada para R$ 7.090,98/t – o maior desde dez/2002, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IGP-DI de set/20). Nos Estados Unidos, os futuros de soja e farelo de soja negociados na CME Group (Bolsa de Chicago) foram impulsionados pela firme demanda externa e pelo atraso do semeio no Brasil – principal produtor e exportador mundial de soja. O primeiro vencimento da soja subiu 5,7% sobre setembro e 14% sobre outubro de 2019, com média de US$ 10,5480/bushel (US$ 23,25/sc de 60 kg) em outubro – o maior valor nominal desde jul/2016. Para o farelo de soja, os preços se elevaram 14% entre setembro e outubro e 20,8% sobre outubro/19, a US$ 367,60/tonelada curta (US$ 405,21/t) – o maior, em termos nominais, desde maio/18. Para o óleo de soja, as cotações recuaram ligeiro 0,7% em outubro, mas subiram 10,4% em um ano, com média de US$ 0,3335/lp (US$ 735,16/t).