Se eu me arriscasse a fazer uma retrospectiva de 2023 focando apenas nas soft commodities, poderia cometer o erro de deixar algum evento ou fato relevante fora da análise. Portanto, gostaria de registrar algumas percepções e expectativas para o próximo trimestre.
É notável que o posicionamento nos contratos de commodities como algodão, açúcar, cacau, café, milho e soja tenha evoluído em termos de qualidade de exposição nas bolsas de todo o mundo. Observamos a criação de novos instrumentos financeiros, como ETFs, CRAs e Smart Contracts, a maioria dos quais visa simplificar o acesso ao mercado por meio de gestores, tornar as operações mais técnicas e aliviar os investidores das complexidades inerentes aos processos.
Esse pragmatismo no mercado financeiro nos alerta para a presença da Geração Z, que não está apenas interessada, mas está voltando para o campo. Os nascidos entre 1995 e 2010, em um mundo hiperconectado, nativos digitais, começaram a influenciar nas decisões nas fazendas e até mesmo em algumas corretoras (exportadoras), muitas das quais têm uma estrutura familiar.
Diante desse cenário, fica claro que a tomada de decisões baseada apenas no book central para identificar tendências ou em gráficos de preços “da semana passada” não é suficiente para as decisões de compra e venda de mercadorias. Não se trata apenas de encontrar o momento certo para entrar ou sair do mercado, mas de equilibrar as necessidades e metas individuais. Isso exige um planejamento que vá além da simples transação de compra e venda, tanto por parte do produtor quanto do exportador.
As variáveis com as quais tínhamos que lidar, como fatores climáticos, políticos e estimativas de produtividade/safra, ganharam um novo elemento em 2023: as operações quantitativas financeiras. Isso inflou o mercado, distorceu o fluxo de negociações e nos apresentou uma nova realidade de volatilidade nos preços.
Diante desse cenário, o que observei é que as empresas (corretoras, cooperativas e exportadoras) e famílias que se mantiveram fiéis às suas convicções foram as que melhor performaram durante o período. A "tese do sabonete" – quanto mais se mexe, mais se desfaz – mostrou-se verdadeira. Apesar da alta volatilidade, nem sempre é necessário realizar grandes movimentos na carteira, e essa tese deve prevalecer no próximo ciclo.
Para cada commodity que analisamos em nossa consultoria, possuímos um modelo de precificação específico. Não pretendo discutir os preços de cada uma delas neste artigo. O que podemos afirmar é que os preços foram e continuarão sendo fortemente influenciados no próximo trimestre pela inflação americana e pela taxa de juros americana. Diante do cenário descrito, da presente data (22/12) até março de 2024, é possível que o movimento de expansão de preços continue.
A partir da segunda semana de janeiro, iniciaremos as viagens para dimensionamento de colheitas/safra, disponibilidade de armazenamento e entrevistas com os agentes do mercado – CROP TOUR. A partir desses dados e do calendário econômico de 2024, manteremos nossas teses de investimento (ou desinvestimento) atualizadas.
Agradeço a todos os clientes e parceiros que tornaram o ano de 2023 memorável. As críticas recebidas, sem dúvida, contribuíram para o meu crescimento profissional, e conto com elas para continuar evoluindo.
A melhor maneira de colher novos frutos é plantar novas sementes. Escolham com sabedoria. Boas festas!