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Sobre Minério de Ferro, Olimpíadas de Inverno e Descarbonização

Publicado 06.02.2022, 08:25
Atualizado 09.07.2023, 07:32
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O setor de mineração brasileiro fechou 2021 com uma alta de 62% no faturamento, em comparação com 2020. O acúmulo foi de R$ 339 bilhões, segundo dados do último relatório do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) divulgados no dia primeiro de fevereiro de 2022.

O mesmo documento mostra que o minério de ferro teve uma média de preço 47,5% maior que 2020. No ano passado, o mineral foi o mais produzido pelo Brasil, atingindo um faturamento de R$ 249,8 bilhões, uma alta de 80%.

A China, maior importador da commodity, foi o principal destino de exportações do minério de ferro brasileiro (68%). No ano passado, o país asiático aumentou a compra da commodity do Brasil em 15% (243 milhões de toneladas).

O Instituto Brasileiro de Mineração avalia que uma das explicações é que a China busca diversificar os fornecedores para reduzir a dependência da Austrália, um dos maiores exportadores do mineral ao lado do Brasil. China e Austrália entraram em atritos diplomáticos durante a pandemia por causa dos debates sobre a origem do novo coronavírus. O governo da Austrália também tem fechado alianças na área de segurança com os Estados Unidos, o que desagradou a Pequim. Outro motivo seria que a China estaria dando preferência a minérios de melhor qualidade de olho na redução de emissões na produção siderúrgica.

O Ibram, que representa empresas como Vale (SA:VALE3), Anglo American (LON:AAL), Rio Tinto (LON:RIO) (SA:RIOT34), Usiminas (SA:USIM5), dentre outras, também manteve a previsão de investimentos no setor mineral para o período 2021-2025, em mais de 41 bilhões de dólares.

O instituto projeta bom desempenho em 2022 e nos próximos anos, com a produção mineral se mantendo estável, com leve crescimento nos próximos anos.

No mercado internacional, o minério de ferro fechou janeiro com ganhos de 21,56%, com a tonelada sendo cotada a US$ 146,78 no porto chinês de Qingdao. Na Bolsa de Singapura, a commodity chegou a ser negociada a US$ 141,40 por tonelada, também nos últimos dias de janeiro. Já na Bolsa de commodities de Dalian, na China, o contrato para maio da matéria-prima registrou a maior alta em cinco meses, atingindo 829 iuanes por tonelada, também no fim de janeiro.

O mercado financeiro do Brasil espera que o bom desempenho do minério de ferro continue, pelo menos nos próximos meses. Na análise do BTG (SA:BPAC11), há espaço para valorização no preço no curto prazo. O primeiro fator a ser levado em conta é que algumas cidades com parques siderúrgicos enfrentam, neste início de ano, restrições por causa da Olimpíada de Inverno de Pequim, que acontece de 4 a 20 de fevereiro. O governo chinês demandou a redução na produção de aço para apresentar um céu mais limpo e ar mais puro durante a competição. A expectativa é que com alívio das regras, a partir de março, as siderúrgicas retomem os níveis de produção, o que deve refletir em uma maior demanda por minério de ferro.

Do ponto de vista de produção da commodity aqui no Brasil, a extração do mineral sofreu com as consequências das fortes chuvas que atingiram importantes regiões produtoras, incluindo Minas Gerais. A mineradora Vale, segunda maior produtora do mundo, já anunciou a retomada gradual das operações. A empresa estima que o impacto na produção de 1,5 milhão de toneladas, menos do que projetavam analistas do Santander (SA:SANB11).

Para todo o ano de 2022, a Vale estima produzir entre 320 milhões e 335 milhões de toneladas de minério de ferro, indicando um aumento em relação a 2021. A mineradora espera que a produção de aço na China para este ano seja estável e equivalente à de 2021, resultando em um mercado equilibrado. A empresa projeta ainda que a demanda por aço se dará, principalmente, por gastos em infraestrutura, que vão compensar a desaceleração na construção civil.

Outro ponto a ser considerado é a perspectiva na redução de estoques de minério de ferro nos portos da China, que atingiram o pico. Depois de acumularem cerca de 30 milhões de toneladas adicionais em 2021, os níveis parecem cair, na avaliação de especialistas do BTG. Desta maneira, a tendência é que isso continue durante as próximas semanas e meses à medida que a demanda das siderúrgicas aumente depois dos Jogos de Inverno. A queda dos estoques nos portos chineses deve apoiar os preços do minério de ferro.

O setor imobiliário da China sofreu com a desaceleração no último trimestre de 2021. Essa atividade é crucial para a economia chinesa e responsável por 25% do PIB do país. O governo chinês foi forçado a tomar medidas de contenção para evitar um eventual efeito cascata de falência de empresas do setor depois da crise encabeçada pela empreiteira Evergrande (OTC:EGRNY) (OTC:EGRNY), gigante do mercado imobiliário chinês que se envolveu em dívidas impagáveis.

O governo central chinês tem fornecido apoio ao mercado imobiliário e deve antecipar os gastos com a infraestrutura para o começo do ano. A estimativa, segundo a projeção do BTG, é que esses esforços somados elevem o consumo de aço nos próximos meses e mantenham a demanda e os preços de minério de ferro suportados no curto prazo.

Embora o BTG avalie que, no médio prazo, o consumo de aço será mais fraco devido ao declínio no mercado imobiliário e a postura de descarbonização da China, o banco entende que o consenso de preço médio de economistas da Bloomberg (US$ 98/t e US$ 103/t) é muito baixo e, que pelos fatores já citados, há espaço para valorização nos próximos meses.

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