Quinze anos de conversas com variados tipos de investidores me ensinaram coisas curiosas sobre a relação com o dinheiro — algumas das quais eu gostaria de não ter aprendido.
Certas pessoas parecem deteriorar radicalmente à medida que acumulam riqueza. Não sei se para elas isso é, de fato, uma transformação. Talvez essas pessoas tenham guardado dentro de si suas piores facetas, passando a revelá-las apenas ao se sentirem desavergonhadas pelo poder do dinheiro.
Outras pessoas usufruem das vantagens da riqueza de forma sutil, sem que o saldo bancário seja o objetivo último de suas vidas. Essas, ironicamente, são as que enriquecem mais.
Quanto mais você persegue o dinheiro, de maneira obsessiva, mais ele escapa às suas mãos e devora sua alma.
Se você quer mesmo ficar rico, aprenda a dominar uma ou mais artes (incluindo a arte de investir).
Jeff Bezos começou a fazer isso em 1994, afastando-se voluntariamente de uma carreira extraordinariamente bem paga no mercado financeiro para se dedicar à arte de vender livros pela internet.
Desde então, em praticamente todas as reuniões com lideranças da Amazon (NASDAQ:AMZN), ele inclui em seu breve discurso a seguinte lembrança:
"Quando AMZN está subindo 30% em um dado mês, resista à tentação de se sentir trinta por cento mais esperto. Porque num outro mês em que a ação estiver caindo 30%, você não vai querer se sentir trinta por cento mais burro".
O maior salto operacional da Amazon ocorreu em meio ao estouro da bolha pontocom, quando a cotação do papel foi de US$ 113 para US$ 6. Número de clientes aumentava exponencialmente, lucro por unidade vendida bombando, margem bruta sempre no positivo.
Três anos depois, quando Bezos foi finalmente congratulado por um trimestre acima das expectativas de Wall Street, ele pensou consigo mesmo: esse trimestre foi concebido no meio da bolha pontocom, quando as ações não valiam nada.
Em essência, estavam lhe dando parabéns por aquele momento em que ele nunca fora tão criticado.
Bezos nem sempre foi o homem mais rico do mundo. Recentemente, cruzou a inédita fronteira de US$ 200 bilhões de patrimônio, durante o último rali das big techs.
No entanto, quando questionado se o status de "homem mais rico do mundo" atendia a seu grande sonho de infância, ele respondeu assim:
"Eu nunca persegui esse título de homem mais rico. Para mim, seria muito mais gratificante se a referência fosse ao inventor Jeff Bezos, ao empresário Jeff Bezos ou ao pai Jeff Bezos — esses são títulos com muito mais significado".
Desperdiçamos muita energia na ânsia de nos tornarmos os melhores investidores do mundo, e assim nos esquecemos da arte de investir, que se apoia sobretudo em desafios intelectuais e lúdicos.
Se ficarmos o tempo todo brigando contra o CDI/Ibovespa/Ifix, dificilmente atingiremos resultados dignos de um inventor/empresário/pai, pois os benchmarks nos atraem para a mediocridade.
Somos julgados por um mercado que premia verdadeiramente apenas aqueles que se negam a estar sob o julgamento contínuo do mercado.