Nas últimas semanas novos indicadores econômicos foram conhecidos, notadamente os números de abril de desemprego da PNAD e da inflação pelo IPCA-15, e o PIB do 1º trimestre do ano. Todos trouxeram números positivos. O desemprego ficou em 7,5%, basicamente a mesma taxa anterior, e a inflação acumulada em 12 meses desceu a 3,7%. Com relação ao PIB, ele mostrou uma economia crescendo 2,5% em 12 meses, puxada por um setor de serviços crescendo 3%. Números em linha, ou ligeiramente melhores, do que esperado pelo mercado.
Nesse mesmo período vimos expectativas de mercado, pelo relatório Focus, apontando crescimento ao redor de 2% nesse ano e no próximo, e inflação abaixo de 4%, acima da meta de 3%, mas dentro do limite de 4,5%.
Com esses números, uma pergunta natural seria: de onde vem o mau humor de analistas e investidores quando olham a economia brasileira?
Nosso problema hoje é de natureza fiscal. No curto prazo podemos discutir sobre as decisões do Banco Central, e se os juros deveriam ser um pouco menores ou maiores. Mas isso não define nossa trajetória de crescimento no longo prazo, mas sim o investimento, a produtividade, a confiança de empresários e investidores. E os dados fiscais destoam dos demais números, trazendo pessimismo e preocupação.
Em abril o superávit primário foi 13,6 bilhões de reais inferior ao do ano anterior. Em 12 meses o déficit primário é superior a 2% do PIB, com um déficit nominal ao redor de 9%. Isso vem em um contexto de frustração de expectativas fiscais, e aumento da dívida bruta a 76% do PIB.
Para se ter uma noção mais clara desse desafio, o crescimento do PIB em termos nominais foi de aproximadamente 6,5% nos últimos 12 meses, sendo 2,5% de crescimento real e 3,9% de inflação. Considerando um déficit nominal de 9% do PIB (composto por um déficit primário de cerca de 2%, e um pagamento de juros de quase 7%), a dívida em proporção do PIB subiu mais de 2 pontos percentuais. Logo, se nesse mesmo período o déficit primário tivesse sido zerado, não teria sido observado qualquer aumento da razão dívida/PIB.
Sim, se os juros fossem menores o déficit nominal seria menor, e a dívida/PIB também não teria crescido. Mas para ter o mesmo efeito de um equilíbrio do resultado primário, os juros teriam que ter caído para perto de 8% ao ano. Por mais que haja debate sobre a rigidez do Banco Central, não há ninguém propondo no momento um corte tão agressivo de mais de 2 pontos na taxa básica de juros, num momento de inflação perto de 4% e com os FED Funds na casa de 5% ao ano.
Sem um direcionamento de corte de gastos, o mau humor irá contaminar todos os indicadores econômicos. Para evitar isso, o governo deveria apresentar logo um plano de retorno à trajetória original do arcabouço aprovado em 2023.