O câmbio precisa estar envolvido em todas as projeções prospectivas acerca do comportamento do Ibovespa, tendo em vista que os preços debilitados ao longo da pandemia foram recompostos e, até entendimento contrário, grande parte da expectativa de alta dos preços sustentável doravante estará dependente do ingresso de recursos externos e do comportamento, em especial, dos preços das “blue chips”.
O fluxo de investidores pessoas físicas foi bem consolidado ao longo de 2020 e com a expressiva queda do índice a partir de março houve espaço para que os investidores novos ingressantes na B3 (SA:B3SA3) lograssem ganhos que, contudo, não devem se repetir neste 2021 com os preços já recuperados e precisando de “inputs” positivos da atividade econômica e do capital estrangeiro, principalmente, adicionando investimentos no mercado acionário.
As oportunidades de ganhos rápidos tendem à escassez.
O Ibovespa perdeu 20% em dólares e ganhou 3% em reais, num ambiente de PIB em queda de 4,5% o que pode sugerir que os preços em reais foram pressionados acima das expectativas já que o desempenho da economia não avalizou o ocorrido.
Em principio, não se espera que após o dantesco ingresso dos investidores pessoas físicas haja ambiente para novo “boom” deste tipo, que decorreu literalmente do deslocamento dos investimentos em renda fixa desestimulados pela taxa de juro bastante modesta “vis-a-vis” a inflação presente na economia.
Mas o fato é que este “novel” investidor está agora no mercado de renda variável, a B3, e tende a permanecer, embora seja o tipo de investidor “muito arisco” quando o lucro eventualmente se torna prejuízo, o que não pode ser descartado no cenário atual de preços dos papéis já ajustados às suas realidades em sua grande maioria.
A prevalência dos papéis com perspectivas mais sólidas está nas “blue chips” cujas empresas transcendem a atividade local e são internacionais, por isso concentram o interesse dos investidores estrangeiros, pois ficam um tanto quanto à margem do desempenho da economia interna e ruídos políticos
Mais o Brasil precisa aumentar o contingente de empresas internacionais, novas “blue chips”, ancoradas em commodities, ou com efetiva relevância na atividade econômica com perspectiva de grande crescimento, como tem acontecido nas empresas ligadas ao ramo de saúde, para ter oportunidades atrativas a fornecer com sustentabilidade aos investidores estrangeiros, que tendem a ser a base principal da alavancagem do crescimento da B3.
A atratividade tem vínculo direto com a existência de oportunidades sólidas economicamente e mais e principalmente, DA SINERGIA POSITIVA ENTRE CÂMBIO E PREÇO AÇÕES, que será fundamental na visão dos investidores externos.
Dólar depreciado frente ao real pode ser desestimulante e tornar a B3 conceitualmente “cara” e dólar apreciado pode torná-la “barata”, e, certamente a volatilidade, será sempre um espantalho aos investidores estrangeiros, pois intensificam o risco e exigem movimentos complexos de proteção aos investimentos.
O mundo sinalizou forte tendência de fragilização do dólar, percepção a partir dos movimentos “vendedores” da moeda americana nos mercados futuros, e seria um fator negativo se tiver correspondência direta no preço da conversão da moeda no nosso mercado, mas o Brasil tem motivos e razões próprias que reúnem elevado grau de incertezas que pode se antepor a um ajuste mais crítico do preço da moeda americana no nosso mercado.
O retorno agressivo da pandemia do coronavírus coincidindo com o término dos programas assistenciais do governo, face à exaustão da capacidade de endividamento, “turbina” o desafio à superação de suas fragilidades pelo país e o risco fiscal tende ao agravamento, e isto faz com que, rapidamente, o mercado local assuma postura defensiva e busque “abrigo” no dólar e desta forma o seu preço local tenha reação desconforme com o comportamento externo, como ocorre no momento.
Este é efetivamente o risco do investidor estrangeiro com o Brasil, há muita vulnerabilidade nas assertivas de projeções econômicas e fatores próprios motivadores à volatilidade, e isto sempre contingência o apetite ao risco brasileiro.
Enfim, o que desejamos pontuar neste momento é que as projeções em torno das perspectivas do comportamento da B3 não podem perder de vista o comportamento e as perspectivas sustentáveis em torno do comportamento do dólar, visto que grande parte da impulsão da B3 poderá estar dependente do incremento da participação dos investidores estrangeiros.
Mas, também sem perder de vista o fato do Brasil ter comportamentos erráticos imponderáveis e este é o grande problema do país, fonte da volatilidade e insegurança que conspiram para formação de perspectivas mais assertivas e lógicas.
Diferentemente de 2020, neste ano as projeções precisarão de mais acurácia e fundamentação, mas com peso considerável para a participação dos investidores estrangeiros e isto impõe observação cética sobre as perspectivas, também, para o preço do dólar.