Positivo e Negativo
Muitas vezes ouvimos a palavra “insider” e já pensamos no pior. A mídia se utiliza deste termo, na maioria das vezes, para designar alguém que fez algo ruim.
A pessoa considerada “insider” normalmente é vista como aquela que se utilizou de informações privilegiadas para negociar ações no mercado, antes da publicação de algum fato relevante que venha a impactar os resultados da empresa em questão.
É muito comum vermos casos de insiders que lucraram milhões, pois compraram ações antes de uma notícia positiva ser divulgada. E tem aqueles que deixaram de perder grandes somas de dinheiro, porque tinham informações ruins sobre a empresa e agiram antes que estas viessem a público
Quem age dessa forma nem sempre é considerado insider. A real definição dessa palavra se refere às pessoas que de alguma forma possuem melhores informações sobre a empresa do que o público em geral, incluindo os analistas e investidores.
Os insiders, na verdade, são todos os stakeholders da empresa, pois eles sabem, com mais precisão, o que acontece dentro da companhia.
Alguns deles, como os colaboradores puramente operacionais, talvez tenham informações menos relevantes. Mas a alta gerência, diretoria e conselho de administração possuem atualizações diárias sobre o desempenho da empresa, bem como podem decidir sobre o futuro dela.
O fato de uma pessoa ser insider, por si só, não é negativo ou positivo.
O que torna o uso desta palavra discriminatório é quando as pessoas se utilizam de informações não públicas, em benefício próprio e sem o devido disclosure ao mercado.
O bom insider
Sejam os colaboradores operacionais, os gerentes, os diretores ou o CEO, todos podem negociar ações na bolsa de valores, desde que tais movimentações sejam comunicadas ao mercado de maneira clara e rápida.
Recentemente, nos Estados Unidos, tivemos o maior número de insiders— nesse caso, majoritariamente alta diretoria — comprando ações das respectivas empresas nas últimas semanas, em relação à crise de 2008.
O gráfico acima mostra as compras efetuadas, cujo valor aportado foi acima de 10 mil dólares, para empresas que possuem um valor de mercado de pelo menos 1 bilhão de dólares.
No total, foram 994 executivos comprando ações de suas empresas no mercado durante o mês passado — o maior número desde 1990, segundo o provedor de dados Smart Insider.
Apesar do forte incremento no número de transações, o volume financeiro dessas compras ainda não é muito expressivo — ficou em torno de 1 bilhão de dólares em março, aquém do pico de 2008, que foi de quase 4 bilhões.
O valor da sinalização (I)
Muitas vezes, apesar de o volume financeiro transacionado não ser extremamente alto, o fato da diretoria e do conselho de administração comprarem ações das suas empresas na bolsa é um sinal positivo enviado ao mercado.
Essa atitude mostra que, enquanto todos os outros agentes estão vendendo, eles possuem confiança na empresa e assim reforçam a crença em relação a solidez e perspectivas futuras da companhia.
Existe uma assimetria de informação entre as pessoas que trabalham nas empresas listadas na bolsa e o público em geral.
Os balanços e demonstrativos financeiros, por exemplo, são divulgados com 2 ou 3 meses de atraso temporal e representam apenas uma foto de como a companhia estava naquele momento.
Sinalizações da diretoria, com a alocação de capital próprio por meio da compra de ações da empresa em que trabalham, são positivas de maneira geral.
Essas compras funcionam como um “recado” para os outros agentes.
É como se alguém que está dentro da empresa, com maior nível de informações, dissesse: olha, neste patamar de preço, a diferença entre preço e valor está muito alta.
Trata-se apenas de um sinal, não podemos garantir que daquele ponto em diante as ações vão passar a subir.
O valor da sinalização (II)
Não somente os administradores e funcionários das empresas podem sinalizar ao mercado que, a determinado preço, existe grande valor em tornar-se sócio da companhia. Elas podem fazer isso por meio das recompras de ações.
Esse instrumento — a recompra — é comumente utilizado em tempos como os atuais, como um sinal de alerta.
Obviamente, dependendo da natureza da crise, pode não fazer muito sentido para a empresa sair comprando ações no mercado.
Atualmente, todas as companhias estão tentando ao máximo preservar o caixa, então a efetiva compra e desembolso de recursos financeiros pode não ser a melhor estratégia, a não ser para as companhias que possuem sólida posição financeira.
Entretanto, tivemos desde o início deste mês muitas empresas listadas na bolsa brasileira anunciando programas de recompra de ações.
Creio que algumas o fizeram meramente para alertar o mercado de que o preço atual “de tela” não condiz com o valor de longo prazo das operações.
Outras efetivamente irão ao mercado para recomprar as ações e assim prover um "colchão" de liquidez para aqueles investidores que por um motivo ou outro precisam se desfazer das ações.
Preço e Valor
Como muitas vezes pontuamos aos nossos assinantes, a queda vertiginosa dos preços das ações na bolsa não necessariamente significa que algo mudou na operação do dia a dia e que ela tenha perdido valor futuro.
O investimento em ações é uma maratona, não uma corrida de 100 metros. É preciso ter disciplina e paciência.
Todavia, em alguns momentos — como o atual — temos janelas oportunas para nos tornarmos sócios de grandes empresas.
Vejo que sinalizações da direção da empresa em relação às ações, como empregar dinheiro próprio para a compra direta de ações — ou mesmo os programas de recompra por parte da companhia —, reforçam ainda mais a tese de que o momento atual é propício para aporte em ações.
Nunca podemos afirmar que o pior já passou quando se trata de uma crise de proporções mundiais.
Só saberemos quando tudo estiver resolvido e aí, provavelmente, a diferença entre preço e valor terá diminuído, reduzindo o retorno potencial ao investidor.
Temos que manter a visão de longo prazo, mas não podemos deixar passar algumas oportunidades de curto prazo. Temos que ser oportunísticos em alguns momentos. O de agora é um deles.
O Nord Small Caps está em contato permanente com pequenas boas empresas que podem sair muito maiores depois de crise.