Nas últimas duas semanas, a divulgação de dados da economia dos Estados Unidos e do Brasil indicam desaceleração da atividade econômica e da inflação. Com os primeiros sinais de perda de ímpeto da dinâmica inflacionária e do crescimento econômico, o mercado passou a precificar queda na curva de juros tanto no Brasil quanto nos EUA.
Em relação à economia norte-americana, observamos uma desaceleração tanto do ISM Manufacturing, como do ISM Services, arrefecimento maior do que o esperado pelas projeções do mercado. Em relação ao mercado de trabalho, o JOLTS, indicador de quantidade de vagas abertas, reportou o menor valor desde 2021, além de uma revisão baixista na sua leitura anterior. Adicionalmente, o ADP, que mede a variação mensal de empregos privados não agrícolas, também veio abaixo das expectativas, o que foi corroborado pelo maior volume de pedidos de seguro-desemprego, acima da projeção o mercado. A leitura conjunta desses dados trouxe alívio na curva de juros.
No entanto, a divulgação do Payroll no feriado de Páscoa, divulgação mais relevante do mercado de trabalho nos EUA que inclui a quantidade total de vagas criadas, taxa de desemprego, entre outros, trouxe sinais mais amenos de desaceleração. A leitura veio levemente acima das projeções (236k vs. 230k esp.), mas consideravelmente abaixo da divulgação anterior, quando reportou a criação de 326k vagas. A taxa de desemprego caiu de 3,6% para 3,5% com o rendimento médio avançando de 0,2% para 0,3%. Por um lado, a divulgação corrobora a ideia de um mercado de trabalho menos apertado. Por outro, os dados reforçam a resiliência do setor nos EUA, com a taxa de desemprego se mantendo acima da meta de longo prazo do FED, e possivelmente indicando que será um processo lento e gradual de desaceleração.
Uma vez discutido atividade, resta olharmos para a inflação. O Índice de preços ao consumidor (CPI), registrou arrefecimento de 0,4% para 0,1% em março, abaixo da expectativa do mercado (0,2%). Contudo, a leitura subjacente mostrou-se mais resiliente e apresentou avanço de 0,4% e uma aceleração no acumulado em 12 meses, de 5,5% para 5,6%. Já o PPI, o índice de preços ao produtor, surpreendeu positivamente o mercado, com queda de 0,5% ante a expectativa de estabilidade (0,0%), além de deflação de 0,1% da leitura subjacente vs. expectativa de alta de 0,2%.
Adicionalmente, tivemos a divulgação da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária do FED, o FOMC. No documento, membros do comitê enxergam agora uma recessão leve nos EUA no fim do ano. Além disso, os integrantes manifestaram preocupação com a crise bancária, e alguns participantes levantaram a necessidade de se flexibilizar a atual política monetária.
Em suma, no cenário internacional, vemos uma desaceleração tanto do mercado de trabalho como da inflação, mas com sinais ainda amenos. Apesar disso, o mercado registrou bom desempenho da curva de juros na semana e agora espera uma alta de 25bps na próxima reunião de maio do FED, manutenção em junho e início do ciclo de cortes já em julho.
Em relação ao cenário doméstico, a surpresa positiva na semana veio da divulgação da inflação. O IPCA de março registrou alta de 0,71%, abaixo da nossa expectativa e da mediana do mercado, ambas em 0,77%. No acumulado dos últimos 12 meses, a inflação apresentou avanço de 4,65%, abaixo dos 5,60% da leitura anterior. Na análise desagregada pelas aberturas, preços administrados avançaram 2,33% vs. 0,84% anterior, movimento proveniente principalmente do avanço em combustíveis. Preços Livres, por outro lado, arrefeceram de 0,83% para 0,18% no mês, queda resultante da desaceleração de Educação. Por dentro do índice, observam-se altas amenas em Serviços e Industriais de 0,25% e 0,27%, respectivamente, com suas leituras subjacentes levemente acima (0,35% e 0,39%, em ordem). Adicionalmente, observa-se recuo considerável da média dos cinco núcleos de 0,73% para 0,37%, além da queda na difusão para 59,95%, menor patamar desde agosto de 2020.
Em resumo, o headline elevado é fruto de uma questão pontual em função da reoneração de impostos de combustíveis. No entanto, a composição da inflação de março foi positiva, o que gerou fechamento da curva de juros no Brasil, com o mercado precificando maiores chances de cortes na taxa Selic ainda este ano.
Apesar do otimismo observado, é importante ressaltar que o país ainda deve enfrentar dificuldades na condução da política monetária e, consequentemente, no combate da inflação. O Banco Central do Brasil reconheceu dados mais favoráveis, no entanto, segue reforçando a preocupação com a deterioração das expectativas de inflação no horizonte relevante, que seguem desancoradas e acima da meta de inflação do país.
Portanto, tanto a economia norte-americana, quanto o cenário doméstico, apontam para primeiros sinais de alívio. Apesar do fim do ciclo de alta, e, consequentemente, o início de corte de juros parecer estar mais próximo, o caminho para taxas de juros mais baixas ainda deve enfrentar dificuldades tanto nos EUA, quanto no Brasil.