Deve ser tensa a sessão do mercado financeiro nesta sexta-feira espremida entre três feriados e o fim de semana, já que foi aprovada a antecipação do 9 de Julho para a próxima segunda-feira em todo o estado de São Paulo de modo a ampliar o isolamento social. Até as 17h, o ministro Celso de Mello decide sobre o sigilo do vídeo da reunião ministerial de 22 de abril.
A gravação é peça do inquérito relacionado às denúncias do ex-ministro Sergio Moro de interferência política na Polícia Federal contra o presidente Jair Bolsonaro. Ainda não se sabe o que o decano decidiu sobre o vídeo. Na íntegra, o material tem duas horas de gravação - e pode ter efeito explosivo. Há a possibilidade de divulgar apenas trechos.
À espera da decisão, os investidores devem redobrar a cautela e evitar maior exposição ao risco hoje, passados os ajustes nos ativos locais ontem, quando a diminuição de posição defensiva (hedge) em dólar “limpou” o lado técnico do mercado. Ou seja, foi desfeita a aposta de que a moeda norte-americana iria buscar a faixa de R$ 6,00, abrindo espaço para o Ibovespa andar um pouco mais no nível dos 80 mil pontos.
Mas o Brasil ainda precisa lidar com essa instabilidade política, ao mesmo tempo em que a pandemia de coronavírus avança de forma ascendente, com o número de vítimas dobrando em cerca de 10 dias e os casos confirmados saltando a cada 24 horas. Juntos, esses dois fatores podem gerar desconforto nos mercados, ainda mais se não se confirmar a previsão de que o pico da doença no país irá passar na virada deste mês.
Exterior no vermelho
Lá fora, Wall Street também se prepara para um fim de semana prolongado, por causa do Memorial Day na próxima segunda-feira, que marca o início das férias de verão no hemisfério norte. Com isso, os índices futuros das bolsas de Nova York apontam para uma sessão de perdas, mas que não devem comprometer os fortes ganhos na semana. As bolsas europeias também amanheceram no vermelho, após uma sessão de queda na Ásia.
O destaque no exterior fica com o discurso do primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, durante a abertura do Congresso Nacional do Povo (NPC), em Pequim. Segundo ele, a China não terá uma meta específica de crescimento econômico para 2020, após “pagar um preço que vale a pena” para conter a disseminação da Covid-19 e registrar contração do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre deste ano, “pois a vida é inestimável”.
Mas o governo chinês terá outras metas neste ano. A principal será criar mais de 9 milhões de empregos urbanos, estabilizando o mercado de trabalho e garantindo a subsistência da população. Também ficou estabelecida a meta de inflação ao consumidor de 3,5%, que deve ser alcançada por meio de uma política monetária prudente, em um modo mais “flexível e apropriado”.
Ao mesmo tempo, Li afirmou que a retomada do crescimento econômico se dará através da melhora na disposição e capacidade de consumo da população interna, apoiando a recuperação e o desenvolvimento do setor de serviços. Segundo o primeiro-ministro, o comércio e as pequenas e médias empresas terão maior apoio financeiro. Mas o foco estará na iniciativa do “Internet Plus” para criar uma economia digital mais competitiva.
Contudo, o que chamou a atenção foi a sinalização de que Pequim avalia um projeto de lei que pode limitar a atividade da oposição em Hong Kong. A ex-colônia britânica foi marcado por protestos pró-democracia no ano passado, que só perderam força por causa da luta contra o coronavírus. Desde então, autoridades chinesas reprimiram os dissidentes e prenderam líderes veteranos da região.
Em reação, o índice Hang Seng liderou as quedas na sessão asiática, fechando com -5,6%. Ao mesmo tempo, o aviso do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que Washington irá reagir “de maneira muito forte” contra a tentativa de controlar ainda mais a ilha eleva a preocupação de uma escalada da tensão sino-americana. Outra região sensível, a Bolsa de Taipei fechou em queda de quase 2%, após a China afirmar que irá se opor e impedir qualquer atividade separatista que busque "a independência de Taiwan".