O ano não tem sido muito bom para o Ibovespa, que apresenta queda de -9,27% no período que vai do primeiro dia útil de janeiro até 24 de março. O que estaria acontecendo? Bem, o fato é que o índice da nossa Bolsa tem uma fatia muito grande de bancos em sua composição. Portanto, se o setor como um todo apresenta queda, é natural que o Ibov também sofra, a não ser que as demais empresas do índice tenham um desempenho espetacular para fazerem um contrapeso. E as instituições financeiras também estão vivendo dias ruins, empurrando o Ibovespa para baixo.
Claro que não é o único motivo, mas explica quase tudo. Para efeito de comparação com o Ibovespa, em igual período, o Bradesco (BVMF:BBDC4) acumula perda de 11,95%, o Itaú Unibanco (BVMF:ITUB4) (ITUB3 (BVMF:ITUB3)) está negativo em 7,16% e o Santander (BVMF:SANB3) registra recuo de -5,92%. O mais resiliente é o Banco do Brasil (BVMF:BBAS3), que está positivo em 11,07%. Mesmo assim, apenas no mês de março a instituição sofreu perdas de 5,93%.
O que move o mercado é a sensação que os players têm do andar da economia. E ainda há uma expectativa de que uma nova recessão está para estourar. Na penúltima semana de março – entre os dias 20 e 24 – o setor bancário apanhou de tudo quanto é lado. Vínhamos de um problema com o Silicon Valley Bank (SVB), dos Estados Unidos. Então veio a notícia sobre o Credit Suisse (SIX:CSGN) e, na sequência, o Deutsche Bank (ETR:DBKGn).
Não são banquinhos, são instituições de primeiríssima linha que vem sofrendo. No caso do banco suíço, seu principal investidor, o Saudi National Bank (SNB), recusou-se a aportar mais recursos e as consequências para o mercado global só não foram mais contundentes porque o principal concorrente, o UBS, adquiriu a instituição salvando o valioso dinheiro de correntistas e investidores no mundo todo.
Há uma ideia, que não está tão errada, mas também que não pode ser levada ao pé da letra, de que nossos bancos são mais resilientes do que os estrangeiros e, por esta razão, não vão sofrer essa grande crise. Concordo que as instituições daqui estão mais protegidas tanto pela forma que atuam quanto pela nossa normatização, que aumenta o nível de segurança. Mas tudo tem seu limite e, dependendo da tempestade as ondas podem sim afetar a “navegabilidade de nossas embarcações”.
O mercado brasileiro depende muito do capital estrangeiro. Qualquer mexidinha que acontece no mercado internacional, a gente sabe que respinga aqui. Não por conta dos fundamentos dos nossos bancos e sim por conta de a gente ser muito dependente do investidor estrangeiro. Então, quando ocorre o enxugamento de liquidez no mundo, o investidor externo acaba tirando dinheiro do nosso mercado. E isso não prejudica somente os bancos. Acaba derrubando papéis de outras empresas como Petrobras (BVMF:PETR4) e Vale (BVMF:VALE3), que não têm nada a ver com a história.
Na sexta-feira, dia 24 de março e na segunda (27) a Bolsa brasileira até teve um repique de alta com a valorização pontual dos papéis de bancos e de outras empresas que também influenciaram positivamente o Ibovespa. Mas são repiques e é preciso ter atenção. Considerando os últimos cinco meses, os bancos tiveram queda de mais de 20%, então não se pode achar que uma ou outra subidinha de 1%, 2% signifiquem tendência de alta para os próximos dias ou meses. E como o investidor deve se comportar em um cenário como este?
Pensando no longo prazo, tanto o investidor que está posicionado quanto o que vai começar a tomar risco a partir de agora, tem de ter em mente de que o setor bancário é muito resiliente aqui no Brasil. Como eu já disse, pode sim sofrer com as turbulências externas, mas os fundamentos sólidos dos bancos dão a eles força suficiente para passar pela tempestade. É um excelente segmento. Só não pode ter realmente aquela visão de curto prazo, porque aí o investidor está sujeito a tudo.
O Ibovespa está na casa dos 99 mil pontos. Acredito que ele possa cair um pouco mais, chegando a uns 95 mil ou 94 mil pontos, patamares que, em minha opinião, já permitirão a montagem de uma carteira de médio ou longo prazo por parte daquele investidor que não está precisando de dinheiro agora. Com tantas notícias ruins, nossa Bolsa deve demorar um pouco para voltar a subir de forma consistente. E isso ocorrerá não pelo surgimento de boas notícias, mas pela ausência de novas más notícias.
Neste cenário, quem pensa a longo prazo não precisa se preocupar porque o que acontece em uma ou outra semana não importa para aquele que está preparado para esperar cinco anos ou mais para sacar seus recursos. O momento também é bom para se fazer day trade e, reforçando o conselho, é uma péssima hora para investimentos de curto prazo.