O mês de setembro não foi nada auspicioso para os mercados de risco no mundo. O índice MSCI (Morgan Stanley Capital Internacional), que acaba sendo o índice mais global dos mercados, registrou perdas de 4,4%, sendo que o MSCI do Brasil (apelidado de Ibovespa dolarizado), absorveu a pior performance, com queda de 14,3%.
Somado a isso, podemos anotar a perda da importância do Brasil na carteira dos fundos globais e índices emergentes. Só para dar uma ideia, o MSCI Brasil figurava com 16% lá em 2010, e hoje não passa de 4,5%. Mais ainda, segundo pesquisa do Bank of America (BofA), em seis semanas houve resgate de R$ 6,0 bilhões em fundos de ações e R$ 30 bilhões em fundos multimercados, ao mesmo tempo em que a renda fixa capturou R$ 35 bilhões. Ou seja, a primeira leitura que fazemos é que os investidores no mundo se protegeram, e aqui muito mais.
No ambiente externo, tendo a covid-19 e a variante delta como pano de fundo desse cenário, a percepção dos investidores é de desaceleração da recuperação econômica, fartamente ilustrada por revisões de projeções de dados macroeconômicos para pior. Secundando isso, temos uma postura de bancos centrais importantes iniciando a retirada de estímulos monetários e governos dos estímulos fiscais. Isso era inevitável ocorrer, mas deve ser antecipado pela aceleração da inflação acima do previsto nas economias mais desenvolvidas.
Demanda crescente, desequilíbrio na oferta de insumos e crise de energia: esses fatores compõem boa parte do cardápio para justificar a inflação em alta, o que acaba afetando ainda mais os países emergentes, principalmente aqueles desequilibrados e que gastaram muito para aplacar a pandemia. Outro fator que podemos elencar, e esse de incidência mais recente, está associado à China e problemas ligados à fragilidade financeira de incorporadoras, onde o segmento de construção civil responde por quase 30% do PIB. Agora, não se trata tanto do problema com a Evergrande (OTC:EGRNY) ou a mais recente, Modern Land (HK:1107) (que também deixou de pagar bonds), mas às dificuldades de um setor superimportante para o PIB. Além disso, o governo chinês tem atuado para coibir processos especulativos em commodities e ampliar a regulação de segmentos, inclusive na educação.
Claramente o Brasil lidera os países com problemas na saída da pandemia. Senão vejamos:
Antes mesmo do mundo tomar ciência da pandemia, o Brasil já vinha desequilibrado e com nível de endividamento elevado para um país emergente. Nossa indústria mostrava desaceleração e perda de produtividade, e a performance do PIB estava associada ao desempenho setor agrícola, que vinha com recordes sucessivos de produção de grãos e ampliação da produtividade. Hoje isso não pode ser atribuído como realidade. A crise hídrica e geadas reduziram a expectativa de safra que, segundo o IBGE, deve encolher 1,3% em relação ao ano de 2020, para 250,9 milhões de toneladas, mesmo com aumento da área plantada em 4,4%, para 68,3 milhões de hectares. Isso significa queda de produtividade também no campo e, independente dos preços internacionais, queda em volumes exportáveis. Além disso, países desenvolvidos estão bloqueando importações agropecuárias provenientes de zonas de desmatamento.
Notem que nem abordamos os desequilíbrios no cenário fiscal, a inflação, que por aqui é mais persistente, o empobrecimento da população, além do nível elevado e renitente do desemprego, e todos os ruídos políticos gerados ao longo de todo o mandato de Bolsonaro. A melhora da economia no momento presente e aumento da arrecadação proveniente em boa parte da própria inflação em alta, acabou retirando o ímpeto por reformas, que são absolutamente imprescindíveis para tentar colocar o país em ordem; o parlamento e o próprio governo querem gastar mais (essa é a sina brasileira) e, praticamente, já estamos no final do ano, com o ambiente pouco propício para realizar reformas, às vésperas de um ano de eleição majoritária.
Mas, apesar de tudo isso, no que tange ao mercado de capitais, ainda achamos o momento favorável para aquisições de boas empresas, boas pagadoras de dividendos e juros sobre o capital próprio, sempre com horizontes de médio e longo prazos para retornos, já que consideramos muitas opções de investimento baratas e até competitivas com a remuneração de renda fixa, sem contar a possibilidade de ganhos de capital.