O comportamento do mercado de ações no Brasil já se assemelha a um “V” estilizado. O Ibovespa chegou a acumular uma queda de quase 50% no primeiro trimestre e uma recuperação de 30,2% no segundo. Estamos quase chegando ao “V”, mas para atingir este patamar ainda falta uma alta de 25,7%.
Essa recuperação poderia ter sido mais forte caso os setores financeiro e de petróleo, com grande participação na composição do índice tivessem tido um melhor desempenho.
Esse descompasso entre a recuperação da economia real (mais lenta) e do mercado de ações (mais rápido) tem as suas justificativas: 1. O investidor em ações não avalia o tempo presente para investir, mas o futuro. Expectativas de que a economia vai reagir ao longo dos próximos meses geram investimentos agora. 2. Estamos em um contexto de taxas de juros muito baixas, jamais vistas. Essa condição tem trazido um fluxo muito forte de recursos para o mercado acionário.
Esse movimento de fluxo de capitais deve continuar e nos deixa otimistas com o desenvolvimento do mercado de ações para este segundo semestre. Esse fenômeno não é apenas brasileiro, mas mundial, pois as taxas de juros estão em patamares mínimos históricos no mundo todo, forçando uma busca por retorno em ativos de maior risco.
O mercado financeiro deve continuar antecipando o que acredita que possa acontecer na economia real e à medida que avançamos no segundo semestre a tendência dos investidores é mudar o foco para 2021. O que vai acontecer em 2021?
Entretanto, para que este movimento continue e seja saudável e sustentável, serão necessários avanços em direção à melhoria dos fundamentos da economia.
Por melhorias de fundamentos, deve se entender reformas econômicas estruturantes, estratégias para endereçar o rombo fiscal deixado pela crise de saúde e uma aceleração dos programas de privatizações e concessões, que sirvam para estimular os investimentos no próximo ano e servir de alavanca para o crescimento econômico.
Apesar de difícil, esta agenda parece encontrar respaldo no executivo e legislativo e tem chances de prosperar. A aprovação do Marco Regulatório do Saneamento foi um sinal importante.
O risco político
O risco disso tudo se confirmar permanece no campo político. Os recentes acordos com o pragmático CENTRÃO se contrapõem em certo momento com a falta de convicção do executivo em proceder com reformas e ajustes mais profundos. Teremos que acompanhar passo a passo e fazer reavaliações periódicas.
Também será necessário acompanhar a evolução dos processos que correm no MP e Judiciário envolvendo o Presidente Jair Bolsonaro e seus filhos.
Risco Internacional
A eleição presidencial norte-americana surge como principal risco no cenário externo. Uma derrota de Donald Trump, defensor de políticas totalmente pró-mercado financeiro, traria um grande aumento de incertezas aos mercados. Neste caso as consequências ainda são pouco claras.