Será Que Somos Racionais?

Publicado 18.04.2019, 09:25

Gostaria de trazer para reflexão dois pontos que considero os cruciais, que estão ligados entre si, e que bato na tecla várias vezes quando falo sobre investimentos para as pessoas: o controle de emoções e a paciência são essenciais para o sucesso.

É importante notar que ambos os pontos têm forte conexão entre si.

Aqui no Brasil ainda se tem uma cultura, ou uma crença, sobre a qual me empenho bastante em fazer parte de sua desconstrução: acreditam que a renda variável é um grande cassino sobre o qual não temos controle algum e que no final sempre vamos sair perdendo.

De início já é possível fazer cair por terra a associação bolsa-cassino, uma vez que vários casos de investidores de sucesso mostram, sem sombra de dúvidas, que é possível chegar no topo quando se sabe o que está fazendo.

Segundo Warren Buffett, quando você tem um certo QI, digamos de 120, não é ter um QI de 200 que vai fazer você se sair melhor no mercado de ações, é ter inteligência emocional.

Além disso, de fato, não controlamos vários aspectos de um investimento em renda variável propriamente dito, porém, podemos controlar as nossas atitudes, e isso é o mais importante.

É o fator determinante para se jogar tal jogo da maneira correta. Podemos determinar se queremos entrar num investimento, se queremos sair de outro e também podemos optar por não fazer nada. Isso já basta.

Não controlamos os rendimentos dos nossos investimentos; não podemos interferir no que as empresas fazem (a não ser que tenhamos participação suficientemente relevante para ter controle); tampouco podemos prever os comportamentos do mercado daqui uma hora, um dia, um mês ou um ano.

Se pararmos para pensar, nenhum ser humano é racional. Somos animais emocionais e por mais que acreditemos que temos controle pleno sobre nossas atitudes, na grande maioria do tempo estamos a mercê de comportamentos pré-programados.

Apesar de nenhum ser humano ser completamente racional, temos lapsos de racionalidade.

O que podemos aprender com os maiores investidores não é que eles são racionais o tempo todo, mas que eles enxergam que o ser humano é imperfeito e por isso não tomam decisões em momentos em que sabem que estão imersos em emoção.

Os grandes investidores não têm pressa para agir, e tomam suas decisões apenas enquanto estão vivendo seus “lapsos de racionalidade”.

Buffett já dizia que se as pessoas estão à mercê de suas emoções, não conseguirão controlar seu dinheiro.

Isso porque são nos picos de emoções que tomamos as piores atitudes com relação aos nossos investimentos.

Quando todos estão com medo e a bolsa está em queda, muitos investidores tendem a se desfazer de suas posições, ao passo que quando o mercado está em alta, muitos querem comprar o que estiver em crescimento.

Se pararmos para pensar, isso não faz sentido. É mais interessante comprar uma padaria, que lucra R$ 100.000,00 por ano, por R$ 400.000,00 ou por R$ 800.000,00?

O investidor que compra ações com mentalidade de sócio quer pagar barato com relação aos lucros futuros da empresa (que são entregues ao longo de muitos anos) – por isso, ele não está tentando prever oscilações aleatórias na cotação.

Um exemplo gritante é contado por Peter Lynch, um dos maiores investidores do mundo, que geriu o fundo de investimentos Magellan por 13 anos, e teve retorno médio de 29,2% ao ano durante esse período.

Mesmo com esses retornos incríveis, Lynch conta que 4 a cada 5 cotistas de seu fundo perdeu dinheiro.

Como? As pessoas compravam cotas na alta – quando as ações pareciam estar indo bem – e vendiam na baixa.

É por isso que Buffett diz que “o mercado de ações é um dispositivo para transferir dinheiro dos impacientes para os pacientes”.

Se o cotista do fundo de Peter Lynch investisse uma vez e simplesmente não fizesse mais nada, ele teria retornos espetaculares, uma vez que a uma taxa de 29,2% ao ano você multiplicaria seu patrimônio inicial por quase 28 vezes em apenas 13 anos.

O ser humano tem dificuldades de visualizar os benefícios do longo prazo, uma vez que vivemos o agora, é neste mesmo momento que queremos os benefícios.

Ninguém quer plantar, mas todos querem colher. A impaciência é uma grande inimiga dos investidores.

Quando tocamos nesse aspecto da paciência, muitos começam a se perguntar sobre quanto tempo constitui o longo prazo, pois além de ter dificuldades em visualizar os benefícios, o ser humano também não gosta de lidar com prazos indefinidos.

Há uma necessidade constante de mensurar em quanto tempo o retorno virá.

Sendo assim, aproveito para reforçar que quando estamos falando de longo prazo, na verdade não há prazos definidos.

Caso você tenha um horizonte de tempo bem definido, não é aconselhável que se coloque o capital em renda variável, pois não podemos prever quando irá ocorrer um bom momento para realizar os lucros.

É de suma importância acreditar no poder do tempo aliado à matemática exponencial dos juros compostos.

É imprescindível conhecer o que se está fazendo, e buscar cada vez mais conhecimento, pois a partir do momento em que se age com imprudência na Bolsa de Valores, sem conhecer seu funcionamento e sem conhecer seus investimentos, tem-se o cenário de condição suficiente para que ela se transforme num verdadeiro cassino.

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