O fato de que o café arábica é o maior vencedor entre as principais commodities agrícolas em 2021 é incontestável. A pergunta que os investidores precisam responder é se esse bom momento continuará no ano novo.
Por enquanto, os fundamentos do arábica indicam que há poucos obstáculos para um rali, embora a análise técnica sugira uma certa correção.
Todos os gráficos são cortesia de skcharting.com
À medida que o ano chega ao fim, o contrato de um mês de março para o arabica na ICE Futures dos EUA flutua em torno dos US$ 2,25 dólares por libra, cerca de 10% abaixo da máxima de 10 anos acima dos US$ 2,50 dólares, registrada em 6 de dezembro. No ano, o arabica apresenta alta de mais de 75%.
O Robusta, a segunda principal variante de café do mundo, cultivada principalmente no Vietnã, também estava abaixo da máxima de décadas alcançada no início deste mês, com um ganho de 71% no ano.
O café tem registrado de forma consistente o maior ganho este ano entre as principais commodities agrícolas, incluindo, por exemplo, milho, com alta de 25%; açúcar (23%), trigo (22%), suco de laranja (13%) soja, (4%) e cacau (-5%).
Para saber porque o café pode realizar mais ralis, precisamos conhecer seus fundamentos
O mega rali no café se deve a múltiplos fatores, não menos importante entre eles a oferta.
O mercado de café como um todo passou de um superávit para um déficit de 5,2 milhões de sacas neste ano, segundo uma análise da Rabobank publicada pela Fortune. Outros fatores incluem restrições de transporte e escassez de contâineres, disseram os analistas - e assim, sem poderem saber com certeza quando e como o café seria transportado, os compradores provavelmente compraram em excesso, alimentando um ciclo de compras de pânico.
De acordo com os analistas:
"Embora a produção tenha se mantido relativamente ilesa dos efeitos da Covid e ainda haja incerteza sobre qualquer crescimento em potencial na demanda em 2021, acreditamos que as vendas de café verde têm apresentado um desempenho melhor que o esperado porque o café foi afetado diretamente pela escassez de contâineres disponíveis em 2021, levando as empresas as efetuarem compras em excesso a fim de garantir a produção e as vendas".
A Rabobank previu que a "compra de pânico" iria parar após o Natal, mas o coringa do baralho é o clima do Brasil, o maior produtor do café arabica. O Brasil foi atingido tanto por tempo seco e geadas nesta última safra.
Ole Hansen, chefe da estratégia de commodities do Saxo Bank, disse à CNBC no início deste mês que, nos últimos 12 meses, "uma tempestade perfeita de eventos [vem] conspirando para dar um impulso ao nosso amado café. "A questão para o price action futuro em matéria de preços é saber em que medida estes eventos possam ser duradouros", afirmou Hansen.
"Acho que temos de nos concentrar no que acontece no Brasil este ano, onde temos tido um patamar de de temperaturas mínimas em uma geração, um período muito rápido de geada que atingiu algumas das áreas de plantio, e tivemos um período de seca – o que deixou a safra de 2022 num estado precário".
Hansen acrescentou que esses eventos meteorológicos adversos afetariam a produtividade ainda este ano, bem como em 2022 e possivelmente mesmo em 2023. "Em 2011, assistimos o café fazer um rali para cerca de US$ 3 dólares por libra, quando tivemos outro susto no Brasil", afirmou.
"Estes são realmente o tipo de números que fazem com que o mercado especule se podemos alcançar esses níveis novamente, e acho que, tendo o Brasil em mente, e se as projeções nos próximos meses continuarem a confirmar a desaceleração ou a redução da produção, então o risco de nossa bebida ficar mais cara é bem real.
"Acho que temos na balança um mercado que, pela primeira vez em anos, começa a mostrar algum aperto”.
Maximillian Copestake, diretor executivo de vendas de café na Europa da Marex, disse à CNBC em uma entrevista à parte que o café estava envolvido em "uma enorme corrida de preços ocasionada predominantemente por deslocamentos de frete".
"Nos últimos cinco a oito anos, tivemos um fornecimento [concentrado em] uma ou duas grandes origens produtoras de café, sendo uma delas o Brasil, e a outra o Vietnã", disse Copestake.
Ele acrescentou:
"Se você tiver danos em um ou dois desses países, como tivemos, de repente o mercado fica louco para tentar incentivar outros países a produzir café. Esse é o princípio subjacente, e a cereja do bolo tem sido mesmo as interrupções no frete. Por isso, o que já era um balancete apertado, que deveria ter sido negociado durante os ralis nos preços possivelmente mais tarde no plantio, foi acentuado por estas interrupções do frete que vimos".
Copestake também destacou que a produção de café leva cerca de dois anos para responder a uma mudança de preço. "Acho que ainda não estamos longe disso", disse ele.
"Mas quando os preços fazem um rali, você tira todas as sacas de café disponíveis em cada armazém dos agricultores para serem comercializadas no mercado, porque os preços são excelentes. Por isso, há um incentivo para se plantar mais, mas também para minimizar os estoques na origem e levá-los ao destino. Acho que provavelmente estamos no meio de fazer isso".
Ele acrescentou que espera que os preços permaneçam altos, ou pelo menos voláteis, olhando adiante.
Então, o que dizem os dados técnicos do café?
Sunil Kumar Dixit, estrategista técnico chefe do skcharting.com, ressalta que o arabica tem sido negociado numa faixa de US$ 2,35 a US$ 2,23 com um viés de baixa desde sua realização de lucros no patamar de máxima em 10 anos acima dos US$ 2,52.
Para janeiro de 2022, o posicionamento estocástico de baixa do arábica em 28 - 48 no gráfico semanal estava bem abaixo do índice de força relativa de 64. Isto não promete uma retomada imediata do rali que levou para a máxima de US$ 2,52 sem alguma correção antes, disse Dixit.
"Em termos gerais, o rompimento acima dos US$ 2,35 pode levar o arabica a retomar a sua tendência de alta para retestar as regiões dos US$ 2,50", afirmou. "Superar os US$ 2,52 também é necessário para se entrar na próxima zona bullish de US$ 2,64 - US$ 2,90 no período de janeiro a março de 2022".
"Mas um recuo para abaixo dos US$ 2,23 pode estender a correção do arabica aos níveis de US$ 2,15 - US$ 1,90. Isso também deve ser lembrado".
Isenção de responsabilidade: Barani Krishnan emprega inúmeros pontos de vista além do seu próprio a fim de trazer diversidade à sua análise de qualquer mercado. Por questões de neutralidade, ele às vezes apresenta visões contraditórias e variáveis do mercado. Ele não detém posição nas commodities e valores mobiliários sobre os quais escreve.