Em um discurso sensato feito no Texas, segundo menor estado produtor de trigo nos EUA, o economista agrícola Mark Welch, da Texas A&M, explicou por que os agricultores norte-americanos podem ter bons resultados em 2019 plantando tudo o que puderem desta commodity que teve o segundo melhor desempenho neste ano.
Embora a experiência nos diga que quanto maior for a produção de commodities, mais fraco será seu preço, no caso do trigo, a produção está aquém dos esforços de cultivo em razão da baixa produtividade das plantações. E, segundo Welch, incrivelmente, o mesmo estava acontecendo em praticamente todas as partes do mundo onde o trigo é cultivado.
Demanda do trigo supera a oferta em todo o mundo
Em sua palestra no Simpósio de Produtores de Trigo no Texas, que teve a cobertura do Waco Herald-Tribune no sábado, Welch declarou:
“Em relação aos fatores fundamentais que estão impulsionando os preços do trigo, temos uma forte base de demanda, haja vista que o consumo de trigo continua crescendo ao redor do mundo. E tivemos plantações menores em 2018, por isso houve uma contração da produção em relação aos padrões de consumo.”
Welch disse ainda que os EUA – apesar de serem o quarto maior produtor mundial de trigo, responsáveis por 8% da oferta global do grão, com 55 milhões de toneladas cúbicas de produção anual – deveriam aumentar a extensão das plantações juntamente com seus concorrentes nos próximos anos. Para 2018, o Departamento de Agricultura dos EUA prevê uma produção mundial de 733 milhões de toneladas cúbicas, a mais baixa em cinco anos, ou seja, uma queda de 3% em relação à alta recorde de 2017/18.
De acordo com Welch:
“Vimos o trigo com preços mais altos em todo o mundo nos últimos anos. Por isso, os sinais e incentivos necessários para plantarem mais trigo estão dados. As previsões de produção e seu potencial de exportação ao longo do ano serão muito importantes.”
Commodity com o segundo melhor desempenho depois do gás natural
Com o preço de fechamento de quase US$ 5,25 por bushel no pregão de segunda-feira, os futuros de trigo para entrega em março em Chicago apresentavam uma alta de mais de 22% no ano, melhor desempenho entre as commodities depois do gás natural, que teve um ganho de 53%.
Analistas técnicos pesquisados pelo Investing.com classificaram o trigo como “Forte Compra” na perspectiva diária, sem indicadores de que esteja sobrecomprado, apesar da sua valorização relativamente alta no ano. De acordo com a perspectiva gráfica clássica, a resistência mais forte no nível 3 para o trigo estava em cerca de U$ 5,36 por bushel, ou seja, o contrato de março ainda poderia subir mais ou menos 11 centavos por bushel.
Essa forte perspectiva não significa que o trigo estava imune às variações diárias de preço que afetam outras commodities, afirmou Mike Seery, da Seery Futures, que citou como exemplo a ampla queda de preços do petróleo, metais e grãos na segunda-feira, devido às preocupações com a guerra comercial. Segundo Seery:
“O trigo está sendo negociado a preços acima da sua média móvel de 20 dias, mas ainda abaixo da média móvel de 100 dias, que está em US$ 5,42 por bushel.”
Possibilidade de tendências de alta em 2019
Seery disse ainda:
“O próximo nível de resistência mais importante está ao redor de US$ 5,40 / 5,45, já que estamos entrando na estação de inverno, que é extremamente volátil para os preços do trigo, considerando ainda a redução das plantações na Austrália por causa de uma grave seca, por isso a ação dos preços hoje foi basicamente uma realização de lucros. Ainda acredito que, à medida que entramos em 2019, as tendências de alta voltarão.”
Shawn Hackett, da Hackett Financial Advisors, consultoria de mercados agrícolas em Boca Raton, Flórida, concordou:
“Continuamos fundamentalmente altistas para o mercado de trigo e acreditamos que a redução das exportações russas a partir de dezembro por causa do inverno extremamente intenso no Hemisfério Norte pode provocar uma série de perdas e surtos de volatilidade de preços para cima.”
Hackett disse também que as recentes compras feitas pelo “dinheiro esperto” em um mercado de trigo estável era um sinal altista, que provocou o que ele descreveu como sinal de compra no "Oscilador de Dinheiro Esperto de Curto Prazo”, embora fossem necessárias mais compras para acionar o sinal de compra do “Dinheiro Esperto de Longo Prazo”.
Em dúvida sobre o trigo? Dê uma olhada no milho
Welch afirmou que o milho era um claro indicador para o trigo, pois os preços de ambas as commodities agrícolas tentem a se mover na mesma direção, apesar de seus fundamentos distintos. Ele afirmou que os preços do milho geralmente tinham suas máximas sazonais no período de abril a junho e, à medida que a safra de milho ia se aproximando, os produtores de trigo podiam ter uma ideia de qual seria sua perspectiva de preços.
“Se fôssemos ter uma situação de preços muito altos ou baixos para o milho, acredito que isso poderia ter uma forte influência no trigo, principalmente na safra de 2019”, declarou Welch.
Simplesmente saiam e plantem
Essa perspectiva se aplica não só às Planícies do Sul, onde o trigo se adéqua perfeitamente, mas também ao resto dos EUA, ressaltou Welch. O problema do trigo é que a produção no Texas, segundo menor estado para o grão, caiu para cerca de 68 milhões de bushels no ano passado, em comparação com 90 milhões de 2015. No estado do Kansas, maior produtor, houve uma queda para 334 milhões, em comparação com 467 milhões no mesmo período, complementou.
“Por isso, você pode aumentar sua produção acima da média e ainda ter um preço decente. Nada mal para o trigo. Acho que essa é uma boa perspectiva para nós, a melhor que já tivemos em vários anos, quando falamos no mercado de trigo.”