A economia gera uma enormidade de indicadores e é preciso acurácia nas observações para não criar expectativas fora da razoabilidade e depois haver a frustração.
O Brasil vinha que um crescimento pífio do PIB em 2019, algo como 1,1%, e então veio 2020 onde esperávamos algo como 2,5% e que foi abalroado pela pandemia do coronavírus e está acabando em torno de negativos 4,5% e o rombo fiscal agravado seriamente para R$ 700,0 Bi até novembro e esperado em R$ 733,0 Bi para o final deste ano, um pouco abaixo das projeções devido contenções de gastos, mas dantesco e que fez do “governo com seus programas assistenciais” o grande consumidor na economia, ao transformar grande parte dos beneficiários não consumidores em consumidores, com repercussões no varejo e na cadeia produtiva o que protegeu o PIB de uma queda maior.
Agora neste dezembro se encerram as benesses dos programas governamentais e, seguramente, uma grande parte da população carente voltará à pobreza e muitos voltarão a procurar empregos, que a economia não estará em condições de proporcionar adequadamente, aumentando as estatísticas negativas de desemprego, além do forte impacto retroativo no consumo.
O real depreciou-se algo em torno de 23% frente ao dólar, desalinhando-o totalmente em grande parte como consequência da estratégia de governo envolvendo o dogma “câmbio alto e juro baixo”, que resultou em parâmetros em ambos exacerbados e que analisada com isenção tende a resultar que causou mais malefícios a economia do que benefícios, pois fez retornar a inflação forte, nos produtos da cesta básica algo como 13% consequente dos itens exportáveis e afetados pelo dólar alto que em certo momento perdeu linha de coerência, e se prestou a baratear o custo de carregamento da Dívida Pública pelo governo, sem, contudo, despertar o “espírito empreendedor” do setor produtivo.
O mundo é comprador de commodities e os preços foram elevados, o benefício do câmbio alto foi algo a mais para o agronegócio, mas o coletivo foi prejudicado.
Criou outra distorção que ainda vai repercutir o IGP-M de 24% ante inflação do IPCA em torno de 4,5% que impactará nos serviços administrados, nos serviços em geral e nos contratos comerciais, com ênfase aos aluguéis, e realimentará o processo inflacionário.
A inflação é algo muito presente na “memória brasileira” e o repasse para os preços é prática contumaz no Brasil, mesmo quanto tudo indica que pode haver reação e contenção, mas será inevitável.
Ninguém tem ainda a dimensão do impacto retroativo no consumo do término dos programas assistenciais do governo face à pandemia, que diferente do que se possa imaginar ainda está presente e com perspectiva de vacinação totalmente fora da curva no confronto com o que ocorre em mais de 50 países ao redor do mundo. Estamos esperando que os laboratórios venham nos oferecer as vacinas, perdendo de vista que é um bem escasso e fortemente afetado pela oferta e demanda e que o interesse impõe a iniciativa governamental e a agilização.
A falta de convergência ideológica em torno desta causa tem provocado enormes desencontros altamente danosos à população e à atividade econômica.
O país está “travado” em meio as retóricas em torno das reformas imprescindíveis, mas os alinhamentos políticos deixam evidente a falta de protagonismo do governo e a retaliação por parte do Congresso, e assim quase nada avança e o país “patina” convivendo com uma crise fiscal imensa, havendo sempre o risco de rompimento do teto orçamentário, que agora já está sendo visto em perspectiva ocorrer em 2021.
O real tem sido beneficiário da forte fragilização do dólar no mercado internacional dada as novas perspectivas com o novo governo americano a ser empossado e o forte estímulo financeiro dos Estados Unidos focando a retomada da atividade econômica, mas não fosse os inúmeros problemas brasileiros que se antepõe à uma concomitância de apreciação do real, o preço poderia ter sido desinflado da estratégia errática do “câmbio alto” e ter ficado em R$ 5,00 ou menos como já apregoa o IIF há mais de 6 meses que o preço justo do real estaria em R$ 4,50.
O câmbio ajustado, entretanto, levará o TN a ter que devolver o lucro transferido pelo BC com a marcação a mercado do preço sobre as reservas cambiais, que é feito com emissão de Dívida.
A Bovespa que teve grande impulso dos investidores pessoas físicas afugentados do mercado de renda fixa, após a derrocada durante a pandemia, apresentou recuperação em reais da ordem de 3% e perdas em dólares da ordem de 20%, tendo o investidor estrangeiro observado o momento em que ficou evidentemente “barata” e retornou, mas a despeito das fortes convicções pode ser que impulsione um pouco mais os preços já que não há grande número de “blue chips” e, se o dólar apresentar a depreciação frente ao real que é possível reverta o fluxo levando os lucros.
A economia do Brasil ainda não oferece perspectivas de sustentabilidade, o desafio é grandioso, por isso pode estar sendo somente uma oportunidade para ganho rápido dos investidores estrangeiros.
Como temos salientado, o ambiente externo fortalece a suposição de 2021 melhor, mas o Brasil está bem fora da curva e tem uma longa trajetória para realizar os “sonhos que tem sonhado”.