Decisões sobre política monetária e juros, não só no Brasil mas nos EUA, Inglaterra e Japão, estarão entre os principais destaques da semana, num cenário marcado por possíveis reflexos da tensão comercial sobre indicadores de atividade, que tendem a manter a volatilidade dos mercados. Nos EUA, além da expectativa de manutenção dos juros, na faixa entre 1,75% e 2%, pelo Comitê de Mercado Aberto (Fomc) do Federal Reserve (Fed, Banco Central americano), haverá divulgação do índice dos gerentes de suprimento (ISM, na sigla em inglês) industrial e de dados do mercado de trabalho relativos a julho.
Dólar em baixa e bolsas em alta
Esses eventos podem ter impacto importante nos mercados brasileiros, em especial no dólar, que vem caindo neste mês, acompanhando a moeda no exterior por conta do acordo comercial preliminar entre Estados Unidos e União Europeia e as pressões do presidente americano Donald Trump sobre o Fed para reduzir a alta dos juros e a valorização da moeda americana, que atrapalha as exportações do país. Bolsa e juros aqui também devem acompanhar os desdobramentos do dólar e dos juros americanos, que influenciam o apetite dos investidores externos por ações e papéis brasileiros. Em julho, até dia 25, os estrangeiros trouxeram R$ 5 bilhões para a bolsa brasileira, o que levou o Índice Bovespa a se recuperar para perto dos 80 mil pontos. A melhora do rating da Vale pela Moody’s, que voltou a ser considerada grau de investimento de baixo risco na segunda-feira, e balanços com lucros acima do esperado, ajudaram a melhorar o humor da bolsa brasileira.
No Brasil, a previsão da maioria dos analistas é também de manutenção da Selic (juro básico da economia) em 6,5% ao ano, na quarta-feira, em reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, com as atenções voltadas para o comunicado, que pode trazer pistas sobre os próximos passos do BC. A divulgação do IGP-M nesta segunda-feira com uma variação bem menor que a alta de 1,87% de junho reforçará a expectativa de manutenção dos juros básicos.
De olho nos balanços das empresas, produção industrial e empregos
Além da continuidade dos balanços corporativos relativos ao segundo trimestre, com destaque para empresas como Itaú Unibanco, Cielo, Embraer e Petrobras, o mercado estará de olho na agenda interna, que traz divulgações importantes.
Serão conhecidos indicadores de produção industrial, na quinta-feira, e do mercado de trabalho (PNAD Contínua de junho), na terça. Já nesta segunda-feira, os investidores acompanham estimativas das principais variáveis econômicas, no Boletim Focus; o resultado fiscal do setor público consolidado de junho, a ser apresentado pelo Banco Central, e ainda a inflação de julho medida pelo IGP-M, com destaque para os preços no atacado, que poderão arrefecer por conta da queda nos alimentos in natura e dos combustíveis depois do impacto da greve dos caminhoneiros e da queda do dólar neste mês.
Destaque ainda, nesta segunda-feira, para os dados da balança comercial de julho. “Com o fim da greve dos caminhoneiros e a retomada da normalidade, contando também com a época de escoamento da safra, temos crescimento das exportações, acompanhado de uma expansão mais forte das importações, que justificam um saldo superavitário elevado em julho”, estimam em relatório os analistas de consultoria Rosenberg Associados. Acrescentam, porém, que ele deve ser inferior ao visto no mesmo mês do ano passado.
No exterior, política monetária e efeitos da tensão comercial sobre a atividade
A política monetária nos EUA, por ora, deve seguir o atual movimento de subida gradual de juros, escorada nos dados que indicam atividade econômica em ritmo robusto de crescimento no país. A avaliação é da Rosenberg Associados. “Além disso, devemos ter o dado de inflação para junho, que deve permanecer acima da meta de 2% ao ano do Fed”, destaca a equipe em relatório.
Na Zona do Euro, lembram os analistas, saem os dados de inflação (preliminar de julho), desemprego (de junho) e de crescimento do PIB do segundo trimestre. A expectativa é de preços pressionados pela subida dos combustíveis no curto prazo, com a dinâmica benigna da atividade econômica colaborando pela queda do desemprego, ainda que o produto tenha desacelerado no 2º trimestre, após firme aceleração no último trimestre de 2017.
Atenção para decisões sobre juros nos EUA, Inglaterra e Japão
A equipe do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depec) do Bradesco avalia que as decisões de política monetária e possibilidade de reverberação da tensão comercial nos indicadores de atividade tendem a manter a volatilidade dos mercados. Nos EUA, a expectativa do banco é de manutenção da taxa de juros pelo Fed. Em relação à política monetária do Reino Unido, a análise é que mesmo com a expectativa majoritária de manutenção dos juros, a comunicação do Banco da Inglaterra será fundamental para nortear os próximos passos, face à expectativa de mais uma alta de juros neste ano.
Já o BoJ japonês, apesar dos rumores sobre alterações na politica de estabilidade dos juros de 10 anos em zero e taxas negativas, de -0,1% ao ano, no curto prazo, também tenderia a não fazer mudanças no momento. “Esperamos a manutenção das condições atuais”, dizem os economistas do Bradesco em relatório, destacando ainda que serão conhecidos na semana as pesquisas dos Índices dos Gerentes de Compras (PMI na sigla em inglês) chineses da indústria e de serviços, os quais devem sinalizar possíveis impactos das tensões comerciais nos dados de atividade.
Produção industrial deve crescer e ‘devolver’ impacto da greve dos caminhoneiros
A projeção do Depec-Bradesco para o indicador de produção industrial de junho, que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresenta na quinta-feira, é positiva. “Esperamos que a produção industrial devolva o impacto da paralisação dos caminhoneiros; projetamos expansão de 14,3% no mês”. Para a Rosenberg, a perspectiva é também de uma reposição de parte da produção perdida em maio, com expansão maior do que foi a queda registrada em maio.
Já para o mercado de trabalho, a previsão dos analistas do Bradesco é de estabilidade na taxa de desemprego, ao redor de 12,5%. A Rosenberg espera um recuo da taxa de desocupação no segundo trimestre em relação ao mesmo trimestre do ano passado e em relação ao primeiro trimestre. “O rendimento médio real deve ser afetado pela inflação mais elevada em junho, acarretando em achatamento dos ganhos reais”, estimam os economistas.
Menor pressão sobre sobre o IGP-M
Para o IGP-M, usado na correção de contratos e dos aluguéis, a estimativa do Bradesco é variação de 0,47% em julho, bem menos que o 1,87% de junho, refletindo a deflação nos preços agropecuários e manutenção da pressão no núcleo industrial. Já a Rosenberg projeta variação de 0,44% nesta leitura, menor variação na margem (mensal) desde fevereiro, arrefecendo os choques recentes sobre combustíveis, alimentos e grãos, alimentados pela desvalorização cambial (que foi mais acelerada entre março e maio). Na comparação em doze meses, a equipe observa aceleração, com o índice passando de 6,92% de junho para 8,17%.
Previsão de estabilidade na taxa Selic
Para a nova taxa Selic, a avaliação dos economistas do Bradesco é que siga em 6,5% ao ano — diante dos indicadores de atividade dos últimos meses, impactados pela greve e dificultando uma leitura mais assertiva sobre a velocidade da retomada; manutenção da ancoragem das expectativas de inflação e recente apreciação do real. A Rosenberg destaca que espera manutenção da taxa de juros, e com comunicado do Copom semelhante ao anterior, enfatizando as condicionantes a serem acompanhadas até a próxima reunião.
Na política, convenções definirão rumo dos partidos
No cenário político, a homologação das candidaturas à presidência da República e as coligações partidárias continuam dominando a pauta nos próximos dias. Rede, PSDB, PT, PPS, PR, PSB e Podemos já convocaram os aliados para as convenções que vão definir, até dia 5 de agosto, o rumo de cada um nas eleições de outubro.
Marina busca vice no PV; Bolsonaro deve apostar na força das redes sociais
Na Rede, a candidatura de Marina Silva será oficializada, mas a grande preocupação do partido é garantir a vaga de vice ao PV (Partido Verde), que confirmou o convite da ex-ministra do Meio Ambiente.
Apesar de a aliança não ter impacto no tempo de televisão, Marina rompe o isolamento político, uma vez que não atraiu nenhuma outra legenda até o momento. Outra candidatura sem o vice definido é de a Jair Bolsonaro (PSL), que deve apostar nas redes sociais para compensar o tempo escasso de televisão.
Alckmin ganha apoio do PTB, mas continua sem vice
Geraldo Alckmin (PSDB), por sua vez, deve ampliar o número de partidos na sua chapa com a adesão do PR (já anunciada) e do PPS. No final de semana, PTB e PSD também oficializaram apoio ao tucano. Pesa para Alckmin, de forma negativa, a tentativa frustrada de ter como vice o empresário Josué Alencar (PR), filho do ex-vice-presidente José Alencar.
Embora, aparentemente, não tenha impacto em sua candidatura até o momento, Alckmin tem outra preocupação que pode trazer desdobramentos ao longo da campanha, causando desgaste à sua imagem: as investigações sobre irregularidades nas obras do Rodoanel em seu governo. O Ministério Público Federal denunciou Laurence Casagrande Lourenço, ex-secretário de Transportes e ex-presidente da Dersa, e mais 13 pessoas, por crimes de fraude à licitação, falsidade ideológica e organização criminosa.
PSB segue indefinido e faz convenção no próximo domingo
Outro partido que permanece indefinido é o PSB, que marcou a convenção para o próximo domingo. Os socialistas se dividem entre ter candidatura própria ou formar chapa com Ciro Gomes (PDT) ou Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
PT e aliados: pressão para libertação de Lula
O PT segue com a determinação de lançar Lula e ampliando a pressão política para que ele saia da prisão. Aliados do ex-presidente já anunciaram uma greve de fome, que começa nesta terça-feira, 31, até que ele seja libertado.
Mercados de olho nos balanços e nos 80 mil pontos
O mercado acionário deve ficar atento esta semana ao ambiente externo, ao cenário político local e aos balanços das empresas. O índice pode voltar a tentar superar os 80 mil pontos, depois de fechar sexta-feira em 79.866 pontos, em alta de 0,58%, acumulando 1,65% na semana, 9,76% no mês, 4,53% no ano e 22,35% em 12 meses.
Os balanços começam na segunda-feira, dia 30 com Klabin e Porto Seguro antes da abertura dos mercados e Itaú Unibanco Raia Drogasil e Cielo depois do fechamento.
Na terça-feira, antes da abertura, Embraer divulga os dados do segundo trimestre e, sem horário previsto, saem Smiles, Banco Inter e Suzano.
Na quarta-feira, 1º de agosto, sem horário previsto, saem Petrobras Distribuidora (BR), Aliansce, Duratex, Arezzo, Ultrapar e Transmissão Paulista.
Quinta-feira, antes da abertura, a companhia aérea Gol anuncia seu balanço do segundo trimestre e, sem horário previsto, IRB. Depois do fechamento, saem dados da SulAmérica e Profarma.
Sexta-feira, dia 3, Petrobras e o Banco ABC Brasil divulgam seus dados.
Dólar volta para R$ 3,72, mas Fomc pode influenciar
O dólar comercial, das grandes operações, fechou sexta-feira vendido a R$ 3,72, em queda de 0,77%, acumulando baixa de 1,56% na semana e 4,13% no mês. No ano, porém, a moeda americana ainda sobe 12,13% e 17,93% em 12 meses. A moeda segue acompanhando a valorização do dólar no exterior e deve refletir as indicações que o Fomc dará aos mercados no comunicado que acompanhará sua decisão na quarta-feira após o almoço.
O cenário político interno também seguirá influenciando a moeda americana, de acordo com as chances de eleição de um candidato a presidente engajado com o ajuste fiscal e a reforma da Previdência. Os juros, por sua vez, devem acompanhar o dólar, refletindo ainda a decisão do Copom na quarta-feira e o cenário externo.