Alvaro Bandeira é sócio e economista-chefe do Banco Digital Modalmais
A semana promete alguns momentos de emoções, tanto no ambiente externo quanto no doméstico, podendo influenciar a precificação dos ativos de forma mais duradoura.
No segmento internacional, será preciso projetar o que poderá acontecer com as manifestações que tomam conta de alguns países. A mais antiga no cenário recente está em Hong Kong, onde a China ameaça mandar seu exército, caso não haja uma solução. Ocorre que a Câmara americana aprovou na semana passada um projeto de lei que dá apoio aos manifestantes e isso pode azedar as relações comerciais melhores entre os EUA e a China. Lembrando que em alguns momentos o presidente Trump fez menção a isso, querendo colocar no pacote de discussão com os chineses.
Há ainda confrontos ocorrendo na Espanha, com a Catalunha separatista. O mesmo ocorre em Santiago, no Chile, com Piñera decretando estado de emergência com as manifestações contrárias ao aumento de tarifas nos transportes; as manifestações no Equador por aumento de derivados de petróleo (retirada de subsídios); e conflitos na Síria com os curdos acusando a Turquia de violar o acordo de cessar-fogo com os EUA.
Sobre os EUA, permanecem dúvidas acerca do tipo de acordo que está sendo articulado por chineses e se isso vai conseguir retirar a pressão no comércio transnacional, base importante da desaceleração econômica global em curso. O que sabemos até aqui é que o aumento de tarifas que vigoraria em dezembro sobre produtos importados da China não acontecerá. Mas, e a tarifa declarada anteriormente?
A China, por sua vez, não se comprometeu com quase nada até agora, além do que já vinha fazendo. Vai comprar e está comprando mais produtos de agricultores americanos (US$ 40 bilhões / US$ 50 bilhões) e deve flexibilizar a participação de estrangeiros no segmento financeiro e de seguros. Também falou brevemente sobre o câmbio, que os EUA sempre acusam de manipulado.
Outra questão envolve todas as confusões no entorno do Brexit. O parlamento britânico aprovou neste final de semana emenda para adiar a votação, sobre a qual o primeiro-ministro é abertamente contra. Boris Johnson, pode tentar colocar ainda hoje em votação no parlamento o acordo feito na semana passada com a União Europeia, mas o presidente do parlamento pode negar isso. Boris Johnson mandou carta não assinada pedindo adiamento do Brexit, e em seguida mandou carta assinada discordante do adiamento.
Já a União Europeia e Comissão Europeia discutem hoje com seus membros a possibilidade de adiamento e o noticiário internacional dá conta de que poderia ser até fevereiro de 2020. O presidente Macron da França, disse ser contra esse novo adiamento, encerrando o assunto e discutindo o futuro. Já que falamos de União e Comissão Europeia, podemos juntar o tema BCE (BC europeu) e os ruídos causados na última reunião de seus membros.
Naquela oportunidade, o BCE divulgou novo pacote de estímulos monetário compreendendo maior queda dos juros negativos (de -0,40% para -0,50%) e a retomada das compras mensais de ativos, já a partir de novembro, de 20 bilhões de euros. Isso causou uma baixa no Board de Sabine Lautenschläger (Alemanha) por discordar da medida, reverberando posição contrária dos presidentes dos bancos centrais da própria Alemanha, França e Holanda. Agora, não se sabe qual será a postura da nova presidente do BCE, a ex-FMI Christine Lagarde. Só para complicar, nessa semana teremos outra reunião do BCE.
Por aqui, o lado político é o grande “calcanhar de Aquiles”. No partido de Bolsonaro (PSL) guindado para a segunda posição nas últimas eleições, brigam os Bolsonaristas contra a ala de Luciano Bivar (presidente do PSL), tudo por conta de colocar a mão em cerca de R$ 700 milhões, já de olho nas eleições de 2020. Diz o ditado que “em casa que falta o pão, todos gritam e ninguém tem razão”. Ocorre que o momento é crucial para aprovação de reformas e com o esfacelamento do partido, as dificuldades de aprovação crescem. Além disso, o presidente e seus filhos entram em uma disputa que só provoca ruídos, numa economia cuja recuperação se dá de forma lenta.
O Judiciário é outra pedra no sapato com as discussões sobre prisão em segunda instância e o que isso pode significar em diluição da Lava Jato, que tem o apoio da quase totalidade da sociedade. Uma decisão do STF que vá no sentido inverso de apoiar a Lava Jato pode provocar manifestações também por aqui. O STF retoma o julgamento na próxima quarta-feira.
Junte tudo isso com o início da safra de balanços do terceiro trimestre (na quinta-feira teremos Vale (SA:VALE3) e Petrobras (SA:PETR4)) e ajustes requeridos pós-vencimentos de derivativos do prazo de outubro, e estaremos sujeitos a grande volatilidade nos mercados de risco.
Ou seja, teremos pela frente possivelmente fortes emoções, boas para aqueles que gostam de assumir riscos e especular no curto prazo.