O principal destaque do mercado financeiro local na semana será a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que se reúne na terça e na quarta-feira e define a nova taxa Selic, juro básico da economia. Boa parte dos analistas ainda espera um novo corte, de 0,25 ponto percentual, que reduziria a taxa de 6,50% para 6,25% ao ano, uma das menores da história do país, apesar de existirem dúvidas sobre o efeito da depreciação do câmbio no movimento da Selic. Mas, mais que a taxa, o mercado espera o comunicado que acompanhará o anúncio, que deve mostrar a visão do BC sobre o momento atual da economia e as perspectivas para os juros no médio prazo. Na quarta-feira, o IGP-10 de maio, e na sexta-feira, a segunda prévia do IGP-M deste mês, ambos da Fundação Getulio Vargas (FGV), devem mostrar o impacto da alta do dólar nos preços, especialmente no atacado.
Serviços, IBC-Br e projeções do Focus
Entre terça e quarta-feira saem ainda a receita do setor de serviços (PMS) e o IBC-Br, indicador de atividade econômica apurado pelo Banco Central, últimos dados relativos à atividade econômica em março, a partir dos quais poderão ser feitas as apostas finais para o PIB do primeiro trimestre do ano. O relatório Focus, pesquisa semanal feita pelo BC e divulgada toda segunda-feira, também mostrará se as expectativas do mercado voltaram a piorar em relação ao crescimento do país e se os analistas esperam impacto do dólar na inflação e nos juros. Na semana passada, o Itaú reduziu sua expetativa para o crescimento do PIB deste ano (ver abaixo).
Balanços entram na reta final
As atenções também estarão voltadas para os balanços corporativos do primeiro trimestre, que entram em reta final, com destaque para os resultados de empresas como JBS, Banrisul, Bradespar e Eletrobrás, na segunda-feira, e, na terça-feira, de Itaúsa, Helbor, Eneva, Camil e CPFL, entre outras.
Chineses comprando EDP
Há ainda movimentações como a oferta da chinesa China Three Gorges (CTG) pela Eletricidade de Portugal (SA:ENBR3), dona da Energias do Brasil. A notícia do jornal português “Expresso”, no fim da tarde de sexta-feira, fez a ação da empresa brasileira subir 15,56%.
Agenda externa traz conflito dos EUA com o Irã e negociação com a China
Na agenda internacional, as atenções devem continuar em torno da saída dos Estados Unidos do acordo nuclear com o Irã, que aumentou a tensão no Oriente Médio e pressionou os preços do petróleo. Além de sair do acordo, Trump ameaça punir empresas que negociem com o Irã, especialmente as de tecnologia, o que ameaça a sobrevivência da fabricante chinesa de celulares e equipamentos ZTE, que importa grande parte de seus componentes de empresas americanas. Empresas europeias também estão ameaçadas pois fecharam grandes contratos com o Irã e por isso a Alemanha e França tentam manter o acordo mesmo sem os EUA.
A restrição à ZTE e outras empresas chinesas será um dos assuntos na nova rodada de negociação entre autoridades americanas e chinesas, desta vez em Washington, para discutir as restrições impostas por Trump às importações da China e formas de reduzir o superávit comercial chinês. A primeira rodada, em Pequim, acabou sem grandes avanços, mas com declarações de autoridades chinesas de que o diálogo deveria continuar.
Dados econômicos da Europa, EUA e China podem mexer com juros
Analistas de grandes bancos e consultorias dão ênfase, em seus relatórios, principalmente aos dados de produção industrial e vendas no varejo da economia chinesa, relativos ao mês de abril, que devem sair nesta segunda-feira. A equipe do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depec) do Bradesco (SA:BBDC4) lembra também que serão conhecidos os indicadores de vendas no varejo e produção industrial americanos de abril, assim como indicadores de confiança referentes a maio.
Os dados podem influenciar os juros americanos, que estão em torno de 3% nos papéis do Tesouro dos EUA de 10 anos. Esses juros influenciam as economias emergentes pois podem levar a uma fuga de capitais que ameaçaria economias em situação mais delicada, como ocorreu com a Argentina.
“Os indicadores podem trazer os eventuais efeitos iniciais do ambiente mais volátil que temos observado recentemente. A China também divulgará resultados de abril das vendas do varejo, da produção industrial e dos investimentos”, ressalta o Depec-Bradesco.
Inflação ao consumidor na região do euro
“Após resultado acima do esperado das exportações e importações para o mês passado, esperamos desempenho favorável da atividade no período. Vale (SA:VALE3) ainda atenção para a divulgação dos dados de inflação ao consumidor de abril na região do euro”, completa a equipe.
De olho na conjuntura
No Brasil, a semana anterior trouxe os dados do IPCA, que mede a inflação oficial e subiu 0,22% em abril, surpreendendo mais uma vez. “A dinâmica da inflação corrente permanece positiva, reforçando a leitura de que a ociosidade da economia continua limitando repasses para preços”, destaca em relatório a equipe do Depec-Bradesco, lembrando que isso pode ser visto no comportamento dos preços de alimentos, que voltaram a acelerar, mas menos do que o sugerido pela alta dos preços ao produtor. Nos componentes mais ligados à atividade, a variação dos últimos 6 meses segue abaixo de 2%, longe do centro da meta, de 4,5%.
Desvalorização cambial poderá pesar na inflação nos próximos meses
Para esses analistas, os dados correntes permitem um corte adicional da taxa básica de juros. No entanto, a desvalorização cambial recente traz perspectiva de aceleração da inflação nos próximos meses, mesmo que o ritmo ainda lento de recuperação da atividade limite esse repasse. “Os dados de inflação ao produtor têm mostrado o início dos efeitos dessa desvalorização, com altas próximas de 1%, puxados por itens diretamente ligados às commodities e ao câmbio”, completam. Por isso, é importante ficar de olho no IGP-10 de maio, que sai na quarta-feira.
Tensões geopolíticas e preocupação com o dólar e o petróleo
No mercado internacional, avalia a equipe do banco Bradesco, houve pequeno alívio das curvas de juros e dos indicadores de volatilidade, mesmo com os EUA saindo do acordo nuclear com Irã e sinalizando volta das sanções. “O ambiente internacional continua marcado por tensões geopolíticas, somadas às preocupações com o agravamento dos conflitos comerciais.” Nesse cenário, dizem os analistas, o preço do petróleo continuou muito elevado, com o Brent negociado em Londres a mais de US$ 77 o barril, acima do sugerido pelos fundamentos de oferta e demanda.
O Bradesco observa que, nas últimas semanas, há indicações de uma reavaliação da inflação e das taxas de juros nos EUA, com fortalecimento do dólar frente às outras moedas.
Corte na Selic pode sinalizar fim das quedas
Na avaliação dos economistas do Bradesco, a decisão do Copom deverá ser de cortar a taxa Selic para 6,25% ao ano, e sinalizar interrupção do ciclo de flexibilização monetária, que começou com os juros a 14,25%. “Acreditamos que as condições correntes da atividade e inflação continuam prescrevendo novo corte da taxa básica de juros, ainda que o balanço de riscos para a inflação tenha piorado nas últimas semanas com a desvalorização cambial”, dizem em seu relatório.
Os consultores da Rosenberg Associados (RA) também estão entre os que estimam que o Copom promoverá “a última redução dos juros em 0,25 ponto percentual, para 6,25%, nível em que deve permanecer por longo período”. A equipe prevê que o comunicado do Copom deverá indicar, de maneira mais contundente, a estabilidade a partir da reunião seguinte.
Dados de serviços e IBC-Br devem sinalizar ritmo modesto de recuperação
Em relação aos dados da pesquisa de serviços do IBGE e ao IBC-Br do BC, os analistas da Rosenberg afirmam que eles darão uma visão mais clara de como foi o crescimento do PIB no primeiro trimestre deste ano. “Por ora, esperamos um crescimento de 2% interanual e de 0,6% em relação ao quarto trimestre, dessazonalizado”, para o PIB do primeiro trimestre do ano.
Também o Depec-Bradesco espera “ritmo modesto de recuperação” no resultado do PIB do primeiro trimestre deste ano. O Bradesco estima queda de 0,4% sobre o mês anterior para a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) e também de 0,4% para o IBC-Br do Banco Central na comparação mensal.
Analistas revisam projeções para o câmbio e crescimento do PIB
O Departamento de Pesquisa Macroeconômica do Itaú Unibanco S.A. , em relatório a clientes da última sexta-feira, analisa que o cenário, no Brasil, está se tornando mais complexo. O real, ressalta a equipe, se enfraqueceu no último mês, na esteira do movimento global de dólar forte, mas também afetado pelas incertezas domésticas e pelo baixo diferencial de juros (a diferença entre as taxas internas/externas), que favorecem aumento da demanda por proteção cambial. “Acreditamos que esses fatores justifiquem a moeda mais depreciada que o esperado anteriormente; por isso, revisamos nossa projeção para R$ 3,50 até o final de 2018 e 2019 (ante R$ 3,25 e R$ 3,30, respectivamente)”.
Incerteza pesa sobre a recuperação da economia e limita retomada de atividade
Para a equipe do Itaú, o ambiente de incerteza também parece estar pesando sobre a recuperação econômica, limitando o espaço para uma retomada mais forte da atividade. Isso e os dados mais fracos que o esperado no primeiro trimestre de 2018, levaram o banco a revisar as projeções de crescimento do PIB para 2,0% em 2018 e para 2,8% em 2019 (projeções anteriores eram de 3,0% e 3,7%, respectivamente).
“A evolução recente do cenário traz implicações relevantes – mas ambíguas – para a política monetária. A atividade mais fraca pesa na direção de um novo corte (de juros), enquanto a depreciação do real pressiona na direção oposta.” Dada a comunicação recente dos membros do Copom, diz a equipe do Itaú Unibanco (SA:ITUB4), “esperamos que o comitê siga seu plano de voo e realize um corte final de 0,25 ponto percentual na próxima semana.”
Expectativas com pesquisa eleitoral sem Joaquim Barbosa
Os analistas do Itaú Unibanco lembram ainda que, do lado político, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), uma pesquisa de intenção de votos para presidente da CNT/MDA poderá ser divulgada a partir de segunda-feira. “Importante notar que esta pesquisa não inclui o nome do ex-ministro do STF, Joaquim Barbosa, nos diferentes cenários pesquisados”, ressaltam.
Após a desistência de Barbosa (PSB), a eleição presidencial continua no centro da movimentação dos partidos. No campo de centro-direita, é cada vez mais real a possibilidade de mais uma candidatura, atrapalhando os planos de Geraldo Alckmin (PSDB) de liderar a chapa dessas forças ao lado de Henrique Meirelles (MDB).
Para Maia, aliança com tucanos está chegando ao fim
Uma das principais lideranças do bloco, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), diz hoje ao Estadão que a aliança com os tucanos está chegando ao fim e que é preciso iniciar um novo ciclo na política brasileira. O jornal também informa que Maia, Ciro Nogueira (PP) e Aldo Rebelo (Solidariedade) articulariam uma possível candidatura (de centro), por discordarem da aliança PSDB-MDB.
No lado das forças de oposição, o cenário é também de incerteza. Principal partido da esquerda, o PT não desiste da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mantendo a expectativa, ainda que remota, de o STF o livrar da prisão. Isso poderia ocorrer com a retomada do debate sobre a prisão após a condenação em segunda instância. As candidaturas de Ciro Gomes (PDT) e Guilheme Boulos (PSOL), por sua vez, vão continuar centralizando a movimentação no campo da esquerda.
Bolsa terá vencimento de opções e olho nas eleições e no exterior
A semana deve ser ainda tensa no que tange ao cenário global e ao risco geopolítico, avalia Álvaro Bandeira, economista-chefe do home broker ModalMais. “É cedo para dimensionar o impacto da decisão de Trump de denunciar o acordo nuclear com o Irã”, diz. A desestabilização no Oriente Médio parece ser algo a ser considerado, além de as relações com seus parceiros históricos do Ocidente desgastada e sequelas que irão aflorar. “Isso, de certa forma, vai afetar as relações comerciais entre países e complicar o desempenho das commodities no mercado internacional, especialmente desequilíbrios no petróleo”, afirma.
No Brasil, Bandeira lembra que o processo político ainda sofrerá muitas transformações antes de definições, o que não impede que os investidores fiquem nervosos com o noticiário. “Seguimos reforçando que nada de mais significativo na área econômica será votado ou decidido pelo Executivo”, diz, concluindo que “o ano parece ter terminado nesse sentido”.
Bandeira destaca ainda que a semana terá o vencimento descasado de opções na B3 e será preciso observar o volume de rolagens de posições e ajustes em Petrobras (SA:PETR4) e Val, depois da forte alta da semana passada. “Teremos ainda a decisão do Copom sobre política monetária, provavelmente reduzindo a Selic para 6,25%, mas o mais importante será a sinalização para a reunião de junho, já que as taxas mais longas começaram a se elevar.”
Análise gráfica vê chance de alta para 88 mil pontos
Na análise técnica, será preciso ultrapassar a faixa de 86.200 pontos do índice, com consistência para galgar outros objetivos rumo ao recorde histórico obtido no final de fevereiro, ao redor de 88.300 pontos, afirma Bandeira.